quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

"Como vou ser triste se em 2024 eu..."

Não, de fato fui muito triste em 2024 sim! Melhor nem tentar recordar, porque tudo o que tinha pra sentir de tristeza diante das coisas que vivi, já senti. Não foi pouco, não foi simples, não foi bom, não foi.  

Eu gosto tanto de falar que o que mais busco na minha vida desde sempre é PAZ, mas sinto que tanta coisa é colocada diante de mim que me afasta dela... Não sei, a sensação que tenho é que vim ao mundo pro combate, para a batalha, a guerra, mesmo vivendo buscando o contrário.

Por exemplo, por que no provavelmente maior trauma da minha vida e da minha família mais próxima, eu é que tinha de ter descoberto e escancarado tudo? Por que não outra pessoa? Esse peso sempre será meu, mesmo não tendo feito parte do plano sujo. E agora, como fico? A cada dia que passa os sentimentos vão mudando, mas a carga de ter sido a pessoa que descobriu tudo e arrancou as máscaras nunca me deixam em paz. Por outro lado, é muito maior que eu essa pulsão de clarear as coisas. 

Também sinto que tenho ainda muita coisa pra fazer nessa vida, muitos dias de sol e mar pra aproveitar e ser feliz. Porque essa mesma pulsão que tenho por jogar luz em coisas sombrias, eu tenho de ser feliz. Falo sempre que não tenho o menor talento pra ser triste. Tenho certeza que muita coisa bonita me espera ainda na vida, e eu gosto de viver, gosto das pessoas, encho os olhos com pequenas coisas. 

Sei que sou valiosa para algumas pessoas. Em momentos mais frágeis como agora, refletindo, me apego as artes.


quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Carta pra uma amiga

Oiê Rodriany, encontrei com sua mãe essa semana, estava mesmo querendo saber notícias suas. Ela disse que sabia que nos encontraríamos pelas ruas, e que legal que isso de fato aconteceu!

Ela me disse que poderia te mandar um áudio ou escrever uma carta. Achei chique a ideia da carta, hehe, por isso cá estamos.

Como você está se sentindo esses dias? Conversando com sua mãe fiquei feliz por saber que vc está bem. Fique forte aí que estamos torcendo muito por vc, vc sabe! Mesmo atrasado, quero te desejar um feliz aniversário, que esse novo ciclo seja de muita saúde, vibrações positivas, leveza, atividade física, bem estar e paz pra vc. Rodriany, vc merece ser feliz, ter uma vida tranquila e equilibrada e sei que está nesse caminho! 

Pra descontrair deixa eu te contar umas novidades. Não sei se deu tempo de comentar aquele dia na sua casa, mas eu, Ricardo e Edna estávamos querendo retomar o vôlei esse ano. Por motivos óbvios de se movimentar e também de saúde mental, já que esse sempre foi um hábito prazeroso pra nós do qual sentíamos muita falta. Na semana passada, enfim, conseguimos juntar 8 pessoas e marcamos 2 horinhas na quadra do Parque Candeias. Imagina só... agora temos exatamente o dobro da idade de quando jogávamos (que foi inclusive onde conhecemos vc). Então o corpo não é mais o mesmo, o reflexo e a agilidade não são mais como antes. Resultado? Braço todo inchado, técnica pedindo socorro, corpo dolorido etc. Mas também foi uma delíciaaaa! E estamos tentando fazer disso um novo hábito saudável. Ainda estamos com dificuldade de juntar um número certo que complete dois times em um dia e horário. Mas, vamos continuar tentando e vc está mais do que convidada quando puder a se juntar a nós.

Outra coisa, agora não tão boa, mas fazer o quê né? É a vida! Há alguns meses minha família foi chacoalhada por um escândalo digno de programa do Ratinho. Baixaria mesmo, uma vergonha. E fui eu que descobri. Foi bem difícil de lidar, dei uma surtada que não lembro de ter tido outro momento assim na vida (talvez nem os próprios dramas exagerados e intensos adolescentes tenham chegado nesse nível). Pra vc não ficar curiosa demais pq eu também fico e sei que é ruim trata-se de deslealdade e falta de caráter do meu pai envolvendo uma mulher da família dele que tinha bastante convivência com ele, minha mãe, eu e meus irmãos. Foi uma grande tristeza descobrir tudo e lidar com isso. Fiquei com vergonha demais de aceitar que aquela baixaria toda fazia parte da minha família, sabe...! Um golpe duro de compreender... Nunca mais a nossa relação com meu pai foi a mesma, desde então. Sinto que vivi 32 anos com uma pessoa, e de repente essa pessoa não existe mais e que agora entrou em cena uma outra pessoa, que eu não conheço. Enfim, são várias e delicadas questões. Cada um de nós tentando entender como lidar com a realidade de acordo com sua personalidade. 

Te contei um pouco as coisas por aqui justamente porque não tem sido um ano fácil. Definitivamente 2024 não veio leve, veio como um rolo compressor passando por cima da gente sem dó. Imagino que o seu ano também esteja sendo desafiador, mas nós somos capazes de encontrar boas razões para seguir e doses de alegria em pequenas coisas que vão nos dando forças. Espero que vc tenha por aí essas fagulhas de esperança também. Algumas coisas de fato nos derrubam por um momento, mas nossa essência, cada um no seu tempo, é levantar, sacudir a poeira e seguir tendo aprendido alguma coisa disso.

Eu não canso de falar pra todo mundo o quanto vc é doce, inteligente e querida. Essa fase vai virar uma lembrança em breve. Por enquanto é hora de focar na sua saúde e bem estar. Sua mãe me disse que vc está se saindo bem, e eu tenho certeza disso. Sigo torcendo muito por vc de longe, vai ficar tudo bem!!


Bjins, 

da sua amiga de outros tempos, do nosso trio passeando pelas ruas de Ouro Preto domingo a tardinha/noitinha só pra bater papo, do vôlei e de cachoeira. 

Luma

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

pelo que é bom que insiste em me levantar

 Esse fim de semana foi aniversário de 81 anos da minha avó Gracinha. Fomos para BH comemorar com algumas pessoas da família, foi muito bom. Eu amo muito esses momentos. Eles me dão força e me sustentam. Fico muito triste com o rompimento da minha família mais próxima, mas ao mesmo tempo tenho pessoas queridas que me ajudam a não perder de vez a esperança na família. Tive minha avó Lica que sempre cuidou de mim e meus irmãos. Tenho precisado me esforçar pra me apegar aos pontos positivos que tenho e tive oportunidade na vida, no que tange às pessoas, ao acolhimento e à consideração. Essa última que tanto falo e que me é tão importante.

Minha família teve um elo rompido. Estamos tentando manter os outros, mas está difícil. Cada um está tendo de lidar com o trauma à sua maneira e isso acaba respingando nas relações que temos separadamente. Fora os outros problemas da vida, que já precisamos lidar.


Nunca me senti tão perdida como me sinto agora.


Tenho tentado me apegar à parte boa. Está difícil, mas aquele feixe de luz dentro de mim insiste... eu nasci pra ser alegre, pra ser feliz, pra rir.

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Carta pra minha mãe

Mãe, por mais difícil que esteja sendo esse furacão que estamos vivendo, eu acho que é uma guinada importante também. O universo, Deus escolheu mostrar pra nós a verdade porque com certeza estaríamos preparados pra ela. E a verdade ilumina. Nós temos uns aos outros, mesmo sabendo que um trauma toca em cada um de um jeito diferente. Nós vamos superar isso, eu tenho certeza. Daqui a um tempo vai ser só uma fase difícil que vamos lembrar. Sei que agora está ruim, mas a gente vai conseguir achar maneiras de lidar com esses sentimentos difíceis. 

Vc é alegre e divertida, sem contar todas as características de caráter que sempre repetimos: honesta, leal, compreensiva, tem auto consciência, empatia, ou seja, você tem uma inteligência emocional diferenciada. Ainda bem que é a minha mãe: Ufa, rs. 

Então quando olhar no espelho lembra dessas características aí, e lembra que nós não somos o que fizeram com a gente, somos o que fazemos com o que fizeram com a gente. 

Mas você não tem que ser uma fortaleza sempre. Já somos todos adultos e vamos conseguir lidar com tudo, um dia após o outro, um passo de cada vez. É claro que cada um precisa estabelecer seus limites, que você encontre quais são os seus limites e não deixe ninguém ultrapassar. Isso é muito importante e às vezes a gente PRECISA pensar mais em nós mesmos, porque só a gente sabe o que se passa dentro. 

Ninguém é feliz o tempo todo, todo mundo passa por fases difíceis, mas também depois da tempestade uma hora vem o sol brilhar. Beijos, te amo infinitamente.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

A trilha sonora de Dressmaker embalou esse texto. Semana difícil, novas perspectivas.

1.  ver a dor de alguém que me atravessou, acolher, me preocupar com esse efeito tão imediato... o inconsciente não mente, ele fica realmente escondido por um tempo, mas uma hora os fatos são escancarados. 

2. a vida é um sopro. a morte de uma pessoa que eu acompanhava todos os dias e que me transmitia uma energia boa. reflexões sobre estar em um momento e logo depois, não estar mais.

3. sempre encontro na arte um refúgio. música, filme, livros. é o que sempre me salva do fundo do poço.

4. aceitando que não sou mesmo prioridade, e deixando ir, junto com a admiração e o respeito. aceitando que o que sobra é a indiferença e uma grande ausência.

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Essa semana foi densa. Apesar dos acontecimentos tristes, me sinto um pouco melhor, mais conformada. 

Meu irmão estava em um relacionamento conturbado, tóxico, reproduzindo atitudes do meu pai. O que mais temíamos estava acontecendo debaixo do nosso nariz. De ambos os lados havia problemas, mas sabemos que para a mulher que está nesse lugar é sempre pior. Ela me procurou e eu a acolhi, porque já passei por isso e não deixaria ela sair sem esse acolhimento de uma outra mulher que viveu e vive um pesadelo relacionado a esse abuso psicológico e abandono. O relacionamento deles ia mal, com atitudes tóxicas de ambos os lados, e no fim ela foi traída e ficou aos pedaços. Queria uma explicação, queria ser ouvida, queria ser vista, ficou desesperada, triste, destruída. Eu compreendi tudo isso, passei por isso não uma vez, mas 2 (talvez 3) vezes na vida. Não aceito que ela fosse tirada de louca. 

Mas meu irmão tem 23 anos, estamos passando por esse turbilhão em casa. Ele precisa ouvir desaprovação das suas atitudes, ou então tem grandes chances de se tornar parecido com meu pai no futuro próximo... Enfim, eu espero que ela consiga juntar seus cacos, que se apegue a alguma coisa a dê forças, mas eu sei que é difícil e ninguém consegue fazer essa dor passar, a não ela mesma, com o tempo. E o quanto ficamos inconformadas, com raiva, com dor, despedaçadas...é um trauma (ou mais um) de abandono.

A essa altura consigo compreender que o feminismo não me faz privilegiar o olhar das mulheres nas situações. Mas, me faz enxergá-las com empatia. Coisa que sem o feminismo ninguém faz naturalmente. Uma mulher próxima à família nos fez muito mal recentemente. Isso não é uma falha da matriz do feminismo, é só questão de caráter claramente, inclusive dado o histórico dela. Mas as outras mulheres em volta afetadas e também a ex namorada do meu irmão merecem empatia, merecem um olhar cuidadoso, de acolhimento e respeito. Seguimos! A vida é isso... os baques, os balanços, os famosos pratinhos sendo (alguns) equilibrados no ar.

A morte de uma influenciadora que escolheu romantizar a própria vida em Ouro Preto foi um outro baque dessa semana. Ela sofria perseguição de gente rica e poderosa na cidade, havia uma campanha ferrenha de difamação agindo em cima dela, e ela sempre expunha em seu instagram, não era segredo pra nenhum de seus seguidores. E mesmo assim ela insistia em viver e ver beleza nas pequenas coisas do dia a dia dela morando nessa cidade inspiradora e misteriosa que é OP. Foi um acontecimento marcante, que assustou muita gente, me incluindo. Está acontecendo uma investigação, mas por envolver gente importante politicamente tenho minhas dúvidas se haverá justiça. Ficou um vazio, mesmo sem a conhecer pessoalmente, uma tristeza que não tem muita explicação... Mas a mensagem dela de romantizar a vida que vc tem é muito forte, sem deixar de lutar, sem deixar de ter coragem pra buscar o que é certo. Ainda custo a acreditar que aconteceu algo assim com alguém que amava tanto a vida, alguém de quem eu via sempre as pessoas falando bem. É realmente assustador.

Essa semana eu vi uma frase na internet que diz:
"Nada mais libertador que aceitar a realidade: EU SOU SUBSTITUÍVEL. Todo mundo vai sobreviver sem mim, menos eu. Então, quando eu penso em diminuir para encaixar, me lembro: 'Vai, bobona, se sacrifica mesmo, se deixa em quinto plano, na missa de sétimo dia já vão estar com dificuldade até de chorar'. Com um mês, um ano, dois, todo mundo já se refez e vc nem pra adubo vai servir mais."

Achei um chacoalho super potente, a dura realidade, mas também é uma grande e bela LIBERTAÇÃO esse pensamento. Ficou ecoando na minha cabeça, porque passei por dias muito difíceis, sinto que muita gente precisa de um chacoalho desses. 

Por isso, mais do que nunca decidi me apegar às coisas, hábitos e hobbies que me fazem bem, me trazem paz e me reconectam comigo mesma. É a arte... ler, escrever, ouvir música, ir ao teatro, ir a shows, assistir um filme. Essas coisas sempre me salvaram e me lembram de como eu amo viver e amo ser responsável, empática e atenta às pessoas a minha volta. Descartar ou ignorar aqueles que não me querem da mesma forma. Isso é aprender a viver com inteligencia emocional. Não acho que eu já tenha conquistado isso, mas me sinto mais próxima de algo assim em alguns âmbitos da vida. E isso não tem preço! Isso é saber realmente viver. Parar um pouco, se reencontrar, voltar seu olhar pra dentro de você. E aos poucos voltar a se abrir para o mundo, com mais cautela e atenção. Com mais auto cuidado e auto proteção.

Deixar ir alguém que foi muito importante na sua vida. Mesmo que não seja uma pessoa fácil de descartar, deixar ir a minha expectativa, ou, a imagem que eu fiz dessa pessoa. Sempre bom quando as coisas são realinhadas pela vida. A realidade insiste em aparecer, uma hora a gente precisa deixar ela entrar, iluminar e arejar a sala. Muita coisa melhora a partir daí, ainda que no começo seja tão difícil de enxergar, porque nos acostumamos a algumas sombras. Mas é uma oportunidade que a vida está dando, e devemos abrir espaço pra novas sensações. Quer sentido mais bonito de recomeço que o nascimento de uma criança? E nós fomos agraciados com o pequeno Eric, mais uma vez as forças do universo dão um jeito de reacomodar as coisas, fazer uma faxina e arejar a vida. 

 "All settle then - Dressmaker Soundtracker " é o que estou ouvindo enquanto escrevo essa parte.

Me sinto mais otimista. 

quinta-feira, 4 de julho de 2024

4 de julho. Sinto que preciso falar sobre meu processo que está sendo difícil.

Estou mais nervosa, mais triste, sigo não conseguindo aceitar o fato acontecido. Estou confusa, porque queria lidar de uma maneira mais leve pra minha saúde mental. Mas it is what it is.

Quando digo que não aceito o fato não quero dizer que finjo que não aconteceu, mas que é como se eu sofresse várias vezes ao longo do dia "redescobrindo" aquilo. E também a noite, nos meus sonhos. É horrível isso porque é uma eterna sensação de abandono e falta de cuidado e falta de respeito. Como se cada momento eu sentisse do zero. Aí quando tento pensar racionalmente que isso foi há 1 mês, o sofrimento dilui um pouco. Mas, logo que me desligo um pouco, nos momentos do dia-a-dia lavando louça, no trajeto até o mercado, tomando banho etc. acontece de novo, do zero, e de novo, e de novo...

Lembro que não estou falando com meu pai já há mais de1 mês, mas que ele continua na rotina da minha família. Qualquer coisa que me chateia, escalo para um estado de nervos muito rápido. Quando me dou conta, percebo que levantei o tom e ofendi mais do que a situação pedia (sobre coisas que não tem nada a ver com o fato traumático em si).

Quando sinto as pessoas tentando esquecer e não falar mais sobre isso, eu busco de novo o assunto numa tentativa de não banalizar o que passou. Mas, ao fazer isso, me dói de novo e de novo e de novo. E, ao que parece, só dói em mim desse jeito. 

Fico tentando buscar referências de situações semelhantes na minha vida, e como foram superadas. Lembro de algumas situações difíceis, mas nenhuma envolvendo família. 

Houve uma muito dura que passei com uns 17 anos, quando minha melhor amiga ficou com o menino que eu tinha um rolo, de quem eu realmente gostava na época. Surtei no meio da festa em que vi eles ficando, eu tinha bebido, fui embora chorando,  lembro que chovia e eu joguei meu celular no chão com força. O menino foi atrás de mim, enfim, conversar. Fiquei muito abalada, falei minhas chateações para a minha amiga e alguns dias depois, retomamos nossa amizade. Consegui perdoá-la e preferi seguir assim. Mas olhando de fora agora, acho que sempre fiz essas concessões por inseguranças minhas. Foi a forma que encontrei de não sair por baixo, abrindo espaço para os dois ficarem juntos, e eu "sobrar". Então engoli o meu orgulho e assim encarei na época. 

Hoje, com 32 anos, não faço mais essas concessões porque tenho um pouco mais de segurança e amor próprio. Inclusive, hoje, olho para as minhas amizades com menos ingenuidade, mais auto proteção. Ao primeiro sinal de descaso ou falsidade, sou a primeira a abandonar o barco. Talvez por isso passar por uma situação de traição e mentira agora esteja doendo tão mais. 1º porque foi o meu pai, quem eu sempre achei que teria ao meu lado. 2º porque é duro assistir a regressão da posição da minha mãe no casamento com o meu pai, os efeitos que um casamento falido, fracassado tem na auto estima dela, na sanidade mental e cognitiva, até os efeitos diretos que o estresse que ela sustenta diariamente a faziam passar, como por exemplo o zumbido no ouvido, o terror psicológico de não poder usar certas roupas, ou mesmo de ir à casa da mãe dela com a frequencia que ELA quiser. Tudo isso foi ficando difícil de separar da relação pai e filha, justamente porque afeta a minha mãe e ela não sai. 

De repente tudo isso começa a ruir, porque eu arranco a máscara do meu pai sem nem fazer muito esforço. E é tudo tão desrespeitoso e escandaloso que o que eu acho que pode libertar minha mãe do sofrimento, se torna raiva por ver que ela ainda não se soltou por completo... e eu mais uma vez acabo me sentindo o meme do John Travolta, como se eu fosse embora pra um lugar e de repente, olho em volta e além de não ter ninguém comigo, nem sei onde estou e o que está acontecendo. É assim que me sinto, o câncer continua roendo as nossas vidas, e eu me sinto mais sozinha do que nunca.

Por sorte, sempre que me sinto abandonada recorro à arte, seja música, filmes, séries, textos, livros. E com a internet facilitando esse acesso, isso se torna meu único cais. Não faço terapia, o que dificulta ainda mais, tenho esse espaço pra me abrir, meu celular gravando mensagens pra mim mesma. Enfim, me sinto uma máquina que produz muito conteúdo de tristeza e decepção, mantendo tudo sempre bem escondido.

Eu sempre admirei famílias amorosas, acolhedoras, leais, verdadeiras e, por algum tempo pensei que a minha fosse um exemplo das que acompanho na internet, por exemplo. Não se trata de famílias perfeitas, serenas e ricas, por exemplo, mas de famílias que se apoiem sem mentiras, que se acolhem e fiquem felizes com os seus felizes também. Gentis, educadas, com senso de justiça, traços de carinho com os animais, e comportamentos. Humildade pra rever conceitos, enfim. Eu criei essa expectativa, mas a minha realidade é outras. Tudo é confuso, sombrio. E eu estou completamente sozinha dessa tempestade.

Já sinto que isso tudo me mudou um pouco, mais desconfiada do que nunca, mais reativa do que nunca. Esperando sempre o pior das pessoas. Frustração e fadiga.

quinta-feira, 6 de junho de 2024

terça-feira, 4 de junho de 2024

O que me segura é a LUCIDEZ

Na falta de terapia, eu escrevo*. Sempre foi assim, por todos os lados eu escrevo. É o meu refúgio. Meu jeito de conseguir passar pelas situações difíceis, e agradecer pela coisas boas. Coloco alguma coisa pra tocar no fone (no momento Black - Pearl Jam), seguro o choro porque geralmente há pessoas por perto, como agora, o PH está ao meu lado trabalhando em seu doutorado, e deixo as palavras correrem soltas. Muitas vezes é preciso segurar o choro e escrever, ainda que às vezes transborde e fica um pigarro preso na garganta. De tanto segurar, dói.

*Na verdade até na terapia eu escrevia e levava os textos pra psicóloga, sentia que conseguia ser mais honesta na escrita do que falando. Na fala às vezes soa estranho... não parece tão verdadeiro, não sei o porquê dessa sensação...

Enfim, maio de 2024 foi talvez o mês mais difícil da minha vida. Agora já estamos em Junho, sinto que vivo um luto, uma tristeza que não sai de mim. Uma vontade constante de chorar. Um desejo de ficar parada, por vezes uma raiva incontrolável buscando que outras pessoas sofram como eu estou. Minha ferramenta é falar, fico querendo expor para o mundo quem são as pessoas que feriram a mim, minha mãe e meus irmãos. Expor a verdade e acabar de uma vez por todas com as máscaras me parece razoável, mas alguma coisa me pára. Assim, me mantenho sempre com raiva e triste.

As coisas levam tempo. Não suporto essa espera, mas não é possível de outra maneira. Pra quem é ansioso, é mais difícil viver nessa angústia. 
Tenho clareza que muitas coisas foram mostradas pra mim por algum motivo superior, coisas que eu sequer procurei... essa parte me deixa chocada. Sou uma pessoa que acredita nos sinais, não acho que nada acontece por acaso. Pelo menos na minha vida, os acasos sempre significam alguma coisa. 
Se eu digo que preferia ser ignorante em muitos âmbitos (e eu tentei muito ser), é mentira. Porque viver em mentiras tão sérias é um pesadelo pra alguém como eu. Algumas coisas são inegociáveis na minha vida, e a minha lucidez é uma dessa coisas. Meu discernimento e minha lucidez. Preciso ver verdade nas coisas, e me abala muito descobrir que no mínimo os últimos 3 anos foram uma grande e intragável mentira. Tudo que vivemos foi falso. E foi muita coisa. Não consigo perdoar, ultrapassa meu limite. E eu procuro respeitar meus limites.

Por outro lado, ver a situação da pessoa mais afetada entre todos que é minha mãe é onde despedaça o que sobrou de mim.
Minha mãe está imersa em um relacionamento muito tóxico. E por ser tóxico, é inebriante, hipnotizante, te prende, te confunde, às vezes te trata bem, outras vezes (a maioria) te culpa por erros que vc não cometeu. Te rebaixa, imputa em vc os erros que ele mesmo comete. E vc perde tempo e saúde mental explicando o inexplicável. É um show de manipulação, um jogo torturante pra quem vê de fora. Vc está lidando com um narcisista e, nesses casos, a única cura é se afastar. Mas ao começar o movimento, o manipulador te faz acreditar que vc está finalmente no comando da sua própria vida depois de muito tempo. Só que ele está ali, rondando, e sem perceber vc já está de novo dando satisfações, ele te persegue e vc dá as explicações. OU SEJA, vc nunca esteve no controle, ele te fez pensar isso por alguns dias até te envolver de novo. Assim, vc vira uma sombra que perambula pela vida e tem medo de agir por si. Nem mencionei aqui o controle do corpo, das roupas, os adjetivos degradantes que ele imputa em vc... tudo isso vai atacando sua auto estima e sua saúde mental pouco a pouco, ao longo de uma vida inteira juntos carregando uma imagem de quase 30 anos de casamento.
Eu vejo todas as características acima na minha mãe. Todas, sem exceções. E sendo eu a única filha e a mais reativa da família, não conseguir intervir diretamente e arrancar esse câncer da vida da minha mãe é algo insuportável e vai me tirando o fôlego dia após dia.

Fingir que nada disso existe ou que não me afeta é um subterfúgio que não tenho como ter, porque, mais uma vez, minha lucidez e meu discernimento não me permitem essa cegueira e nem esse egoísmo.

Dói demais, mas eu vou juntando força aos poucos e não caio. Vou andando manca, anêmica e torta tentando libertar minha mãe disso. Eu sei que tenho anjos da guarda invisíveis que me amparam nisso, e que curam à medida do possível. Eu sinto essas presença muitas vezes que me mantém no jogo.

"Somos as netas de todas as bruxas que vocês não conseguiram queimar" 

segunda-feira, 3 de junho de 2024

O pior ainda estava por vir, eu mal sabia...

 Eu não tinha ideia quando escrevi aqui pela última vez do que estava por vir.

Como uma bomba descobrimos que o caso com a prima durava mais de 3 anos, com motéis, em encontros escondidos de madrugada antes de ir para o trabalho, depois do trabalho, várias vezes... acontecendo debaixo dos nossos narizes. Como uma bomba essas informações caíram no nosso colo e eu não sei como fiquei de pé. Não sei como. 

E aí em poucos dias como se não bastasse toda a desgraça ele procurou uma prostituta em Ouro Preto, bem ali, no meio do furacão, no meio de todo um trauma que a gente nem sabia direito como lidar. Sim, ele teve essa coragem. Dói e machuca não é o fato de ser uma prostituta, ele já o fez outras vezes antes. Mas, o contexto. E mais que isso, dói enxergar a postura da minha mãe nisso. Ela não encerra de fato, ela ainda dá satisfações. Lidar com isso é doloroso demais, por isso sinto que preciso me afastar. 

Eu tenho vergonha até de escrever, mas quero que todo mundo fique sabendo de verdade quem são a pessoas.

A verdade é que fiquei uma semana sem ir ver meu cachorro na casa deles, foi a melhor coisa que fiz pra mim, só que sinto que abandonei o meu cachorro. Então ontem eu fui lá e lavei a área do cachorro, como é minha obrigação aos sábados. Conclusão: hoje estou um frangalho pior que vários dias... Meu pai me chamou pra conversar e eu fui. Ele queria saber o que fazer pra voltar a ter a família dele de volta, os filhos e a esposa. Também ficou especulando como soubemos as informações que o entregaram. Eu falei que ele não é um prisioneiro, agora nós já sabemos e ele pode viver a vida de solteiro que tanto fazia escondido. Meu erro é que eu sinto que quando falo com ele vou conseguir tocarem algum ponto sensível falando o quanto nos machucou. Isso é o maior erro, porque ele realmente não se importa pra isso, e eu insisto. Eu preciso entender de uma vez por todas que o pai que eu costumava ter era um pai com caráter meramente utilitarista. E ponto! Preciso me libertar desse apego emocional idiota e inútil que me faz acreditar que ele vai se sentir alguma dor vendo a minha dor.

Não vai. 

E por isso hoje estou um trapo, acabada, destruída e sentindo mais raiva. Queria tanto me ver livre dessas relações, deletar e deixar só o vazio. 

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Carta para o meu pai

 Pai, escrevo essa carta com dor na alma. Também dói todo o corpo. Quero que você saiba como fiquei depois de descobrir mais uma traição sua - a pior de todas. No sábado só consegui gritar, berrar, bater o pé no chão e a mão na mesa da copa em busca de expulsar os sentimentos horríveis que estão dentro de mim. Inocentemente pensei que isso me libertaria. Mas, não. Eram sentimentos diferentes de todos que já senti, mas não completamente novo...

Pela manhã passei a acordar bem, tranquila, vou até o Jimmy em busca de tentar manter a serotonina no sangue, volto pra casa e passo a não conseguir mais me concentrar no meu trabalho. Tenho prazo, que já está apertado. Tento fazer todo o meu ritual de organizar a mesa, colocar alguma coisa pra tocar no fone de ouvido e escrever uma lista do que preciso fazer hoje no projeto. 

Só que... logo minha cabeça vai para longe, tudo me distrai, começo a pensar no pouco ou nada que nós (eu, Roger, Antonio e minha mãe) valemos pra você... 

Ok, nunca fomos uma família amorosa. Talvez um dia sim, mas isso já faz tanto tempo, eu sinceramente não me lembro... Tanto que nem gosto de abraço humano, só de abraço canino. Antonio, com sua personalidade, tentou trazer um pouco disso, é verdade, mas isso só é parte dele. Nossa forma de demonstrar amor está no Respeito, na Boa Vontade, na Prontidão, nas Ações, na Confiança na palavra... E isso é suficiente pra mim, é só o que eu tenho. É só ao que me apego....

Eu lembro que desde as primeiras traições, que vieram em dose dupla, e eu já tinha idade pra entender.... desde aquela época minha mãe mudou. Ficou mais triste na vida e com você ficou mais dura. Eu lembro de muitas brigas entre meus pais, e na época eu ainda tinha vergonha de que as pessoas ouvissem os gritos, eu tinha uns 15, 16 anos, acho. 

Você já chegou a bater na minha mãe e quando ia fazer de novo eu entrei na frente, aí você jogou nós duas no chão. Não me machuquei muito, mas voei no chão, e a minha mãe se machucou. Depois dessa vez não lembro disso acontecer de novo, lembro de você fechar o punho e ameaçar, mas não chegou mais a fazer, não pelo menos na minha frente. E eu, por instinto, sempre me meti. Sempre fui assim. Ainda não entendia nada de direito das mulheres, de relacionamento saudável versus relacionamento tóxico, nada, não conhecia nada, e mesmo assim eu me metia. Coragem nunca me faltou. Mas com isso os traumas começaram a nascer.

Então eu fui crescendo, estudando, aprendendo, e, curiosa, vasculhando a internet descobrindo termos, como abuso físico, abuso sexual, abuso psicológico, dependência emocional, família funcional e disfuncional, narcisismo, manipulação, e muitas outras coisas que podem acontecer em qualquer relacionamento humano, não só amoroso. 

Então eu comecei a dar nomes às coisas que via acontecerem a minha volta. Minha mãe se tornou insegura no relacionamento por causa dos traumas que você a fez criar na promessa de que mudaria. 

Aí houve uma lacuna, que não me lembro muito, porque comecei a viver meus próprios relacionamentos e experienciar coisas boas/ótimas e coisas ruins/horríveis. Jovem adulta descobrindo o mundo com um pouco mais de liberdade.

Fato é que já desde a época da primeira e dupla traição em Congonhas, eu tinha quebrado a imagem de pai herói que a gente costuma criar. Tinha ido por água abaixo um pouco da admiração... mas pensei naquilo como um erro grave que, quem sabe, poderia ser superado. Só que o que não contam sobre perdoar um erro desses é o que é transformado pra sempre por causa dele. Tudo mudou em volta, você já tinha comido a maçã, minha mãe já tinha visto do que você era capaz e eu, como filha, sangue do seu sangue, vi uma das bases que julguei mais fortes, se quebrar. Caráter não se compra em qualquer esquina. Ir à igreja aos domingos deveria ser sinônimo de uma pessoa boa, né? Ledo engano... Lembra que falei que na minha mente alguns dos elos que uniam nossa família eram o Respeito, a Verdade e a Confiança? Ali ficou marcado que não era bem assim. A partir dali, passamos com muita dificuldade a tentar costurar o que foi rasgado, mas, sabemos, nunca mais fica igual era antes.

Em Harry Potter, o vilão Voldemort, descobre uma forma de se tornar imortal, que é dividindo sua alma em 7 partes, essas partes são chamadas de Horcruxes. Cada horcruxe foi escondida em um objeto importante para o Voldemort ao longo da vida. Assim, o Harry, pra conseguir destruir de vez o vilão, precisa ir atrás de cada horcruxe e destruí-la. E a cada uma que ele vai destruindo, Voldemort fica mais fraco, mas ainda vive... até o último fio. 

Quando houve o rolo com a "Sara do Patrick" eu me fingi de morta várias vezes. Me faço de idiota às vezes, e o grande problema é quando as pessoas realmente me subestimam... Mas eu percebia que existia alguma coisa ali, e que minha mãe estava desesperada. E você, num abuso psicológico e manipulação nítidos, tentando inverter tudo, dizendo que minha mãe tinha caso com Sr Jarbas, fantasiando que ela ia pra quartos do hotel com ele, chamava ela de vagabunda, de piranha... e falava que com a Sara era amizade, mas cansava de falar que não existia amizade entre homem e mulher. 

Isso foi minando a saúde mental da minha mãe. Você tentava (até hoje faz) controlar a roupa que ela usava, as visitas que fazia (faz) à casa da minha avó, e da minha tia... Mil outras coisas. Isso tem nome, se chama Abuso Psicológico! Era claro como a luz do sol, e você pode consultar qualquer psicóloga, pesquisar em qualquer site. A verdade é que minha mãe sempre aguentou muito e ainda tentava ser simpática. É óbvio que os sinais começariam a aparecer. O nervosismo, as dores no ombro, as dores de cabeça cada vez mais fortes e frequentes, a impaciência e, por fim, o zumbido ininterrupto que ela tem no ouvido. 

Eu tenho certeza que se essa carta fosse uma descrição da vida da sua mãe você também gostaria muito que ela se libertasse disso. 

Por muito tempo eu tentei diferenciar as duas ideias: de ser um bom pai e de ser um bom marido. Pensava: meu pai é um péssimo marido, mas é um bom pai. Depois de muito matutar sobre isso, conversar com pessoas, ler, entendi que não é possível separar as duas coisas. E a prova disso é o momento atual que nós estamos. É muito duro ver como a gente não vale na-da pra você. 

Você não pergunta como minha mãe está, se ela se sente bem, você não dá um sinal de que se importa com a vontade dela, você sequer fala "por favor", "obrigado" quando ela faz uma comida. Vc não elogia com frequência, vc não faz a menor questão de que ela tente recuperar a segurança um dia em relação a você. Você apaga a minha mãe. Perto de vc, ela é uma sombra. E eu queria que ela fosse luz e que ela brilhasse, porque é assim que todos a enxergamos.

Essa situação que aconteceu agora acabou comigo, nas primeiras horas eu não tinha forças pra te confrontar. Perdi o graça, perdi o chão. Afinal, que você não dá a mínima pra minha mãe eu já sabia... mas aí você comprovou que está pouco de ferrando também pra nós, os filhos. Vc é frio feito gelo. Vc não gosta de ninguém, vc mente, vc tem falas que agridem a honra de qualquer mulher, inclusive eu. Eu poderia ser uma das "meninas que trabalham no escritório" com Waguinho que vc incentivava ele a "comer". E vc tratando mulher como um lixo, um pedaço de carne, um nada. Desrespeito é  pouco pra chamar isso... Duro descobrir tantos pobres do seu pai, mesmo já sabendo de alguns e não se surpreendendo tanto mais. Vc desejou parabéns para a Sara do Patrick "do nada" há poucos dias. Você tem ideia que nem o aniversário dos seus filhos vc lembra?? 

Chegamos agora ao trauma mais recente. Como tudo na vida, existe um contexto.
Eu demorei a querer descobrir a verdade. Confesso que já vejo a desconfiança da minha mãe há muito tempo. O incômodo, o desconforto que ela sentia com a relação de vc e da desgraçada era nítido. Aqui entra mais uma vez no que disse antes: a sua frieza com o incômodo daminha mãe... vc nunca pensou em parar... Pelo contrário, tudo foi escalando. Você não se importa com uma vírgula da minha mãe. É duro constatar a realidade, mas pior ainda é negar. 

Então, eu não queria pagar pra ver porque eu tinha certeza que descobriria algo. Tentava me convencer de que "não... nesse caso não. Não confio muito no meu pai, mas já consegui costurar um pouquinho a colcha da confiança, do respeito, do caráter desde as últimas vezes..." E também, por incrível que pareça, confiava em Laura. Na minha cabeça ela não deixaria ultrapassar o limite. Ela, que conviveu com comigo e meus irmãos. Que tantas vezes chorou no telefone com minha mãe, desabafando. E minha mãe sempre ouvindo e até sentindo as dores.

Quando Antonio me contou da foto que vc tirou de si mesmo pelado e da "coincidência" absoluta do horário com uma mensagem enviada e apagada a Laura... ali eu falei com Antonio que se eu descobrisse iria berrar aos 4 cantos, e arrebentar Laura... e vc conseguiria finalmente atingir o fundo do poço com a gente. Mas, ali, naquele momento, e vendo nos olhos da minha mãe o vazio e o desespero de estar em um casamento sozinha, sem um pingo de verdade ou confiança, eu tive certeza que eu ia descobrir o que eu mais temia. Eu sabia...

Quando li as mensagens, comecei a tremer, gravei um vídeo tremido que dá pra ler tudo, mas muito nervosa e querendo sair correndo dali. Peguei a moto, e fui tremendo mesmo até o hotel mostrar pra minha mãe. Depois peguei a moto e fui direto no hospital mostrar pro Antonio. Aí parece que deu um branco. Não lembro de muita coisa, só que não podia guardar esse câncer que já me corroía por dentro, que não era justo eu sentir aquilo sem ter feito mal algum pra ninguém. Liguei pra Tita e esbravejei todo o ódio que eu estava sentindo. Tive uns outros brancos, escrevi uma mensagem pra Laura. Antonio e minha mãe também escreveram. O pior é que enquanto minha mãe não sabia como agir, pq ela ficou apática, paralisada, eu só conseguia enxergar na minha frente vocês dois transando e falando aquelas sujeiras um para o outro, como dois animais imundos. E a gente assistindo ao horror. 

Citei os fatos anteriores e como eles me trouxeram à Luma de hoje, mas o atual é, de longe, o mais duro.

Meu sentimento hoje é de inconformismo com a realidade. Não estou aceitando que eu estou passando por isso, que isso aconteceu na minha família, e que vc teve a coragem de manter os encontros com os amigos em comum, a praia, a casa de uns e dos outros...

Depois de alguns dias refletindo, falando sozinha feito maluca, xingando sozinha, tendo crises, tremendo as mãos, as pernas, o olho esquerdo um dia, o direito o outro dia, sem foco, aérea, comecei a entender de fato o miserável que vc é nessa situação toda. Vc não se importa com ninguém (repeti muitas vezes isso ao longo do texto, né? pois é...). Eu sinto pena e desprezo. Mas o pior é que sou sangue do seu sangue, e por isso estou com nojo de mim, em pensar que posso ter algum traço da sua personalidade. Isso me faz querer ir pro lado de Willow, da minha avó Lica e do meu avô mais cedo. O quanto antes, pra parar de sentir tanta coisa ruim.

Tenho altos e baixos, sentimentos muito instáveis ao longo do dia. Coisa que nunca vivi. O dano psicológico não consigo mensurar. Não sei se consigo sair disso sozinha. É por isso que estou escrevendo. Quando fiz terapia, no final de 2020, não conseguia ser muito honesta com uma pessoa desconhecida, apenas falando. Então eu escrevia e levava meus textos nas sessões, e funcionou muito. Escrevo desde pequena... minha mãe já descobriu meus segredos de adolescente lendo as coisas que eu escrevia e guardava. Sou assim até hoje. A terapia ia bem até que o plano de saúde promoveu minha psicóloga a Coordenadora do Projeto e colocou outra no lugar. Aí não me adaptei e sinto falta até hoje... 

Eu falei acima que vc chegou ao fundo do poço. Mas, me equivoquei, quem chegou fui eu. Estou um caco, uma morta viva. Uma pobre coitada. Sentindo vergonha e nojo desde o dia que li aquelas sujeiras e que enfim tivemos a chance de juntar os pontos, a verdade veio à tona. Fico repetindo mil vezes pra mim mesma: "vc não é o que fizeram com vc", mas só o tempo vai mostrar que não sou mesmo. E vou lutar até o fim pra nunca fazer algo assim, e vou me orgulhar se conseguir ser diferente do meu pai no quesito Responsabilidade Afetiva. 

Vc não precisa de mim pra nada, pai. Mas, vc precisa urgentemente de terapia. Precisa se analisar de fora um pouco. Vc precisa de um freio, precisa de calma, precisa de paz. Eu te enxergo como um pobre coitado também. Um miserável, isolado, alguém que é capaz de qualquer coisa só pra satisfazer os próprios instintos. É quase irracional. O ser humano precisa olhar pra dentro, precisa aprender a ser humilde. Numa das nossas discussões em que eu falei que "não existe solução simples para problemas complexos" vc perguntou se eu queria te ensinar a viver, A resposta é que talvez vc precise, sim,  desesperadamente aprender a viver como um ser humano. HUMANO. Muita gente já foi machucada no caminho, já chega, não? 

Será que ainda dá tempo? Eu não sei se me sobraram muitas horcruxes, mas vc precisa começar a enxergar de verdade a dimensão e o alcance nas suas ações, na forma como elas afetam os outros. Definitivamente não é o Roger quem precisa de Deus, é você! Vc está vazio... Vc precisa se encher de alguma coisa boa, descobrir o significado da palavra Empatia. Isso é o básico. 

De mim vc não precisa, mas vc precisa de muita coisa.

Por aqui eu cato meus cacos junto com minha mãe e meus irmãos. Nós pelo menos temos uns aos outros. 

Só posso dizer que vou continuar lutando pra que eu nunca desista de mim mesma.  

quinta-feira, 2 de maio de 2024

2024 como uma bomba

 2 de maio de 2024: um dos dias mais difíceis da minha vida. me sinto envergonhada por algo que não fui eu quem fiz. sinto raiva, tristeza, vergonha, nojo... minha vontade é ir até a pessoa de despejar todos esses sentimentos confusos e cobrar uma explicação. ? mas, que explicação? não existe uma, só vai machucar mais. Caráter, respeito, decência, credibilidade, ombridade, admiração. foi embora tudo. ficou a exposição, o vexame, a indecência, o desrespeito. meu ego ferido porque quero fingir que nada disso aconteceu, fingir que não estou passando por essa situação vexatória, fingir que não é comigo, que é só com os outros que isso acontece.

algo em mim quer ir lá cobrar meu pai, algo diz que eu preciso me segurar. mas eu estou transbordando, não consigo fazer nada, não consigo me concentrar em nada. me falta        ar.