terça-feira, 4 de junho de 2024

O que me segura é a LUCIDEZ

Na falta de terapia, eu escrevo*. Sempre foi assim, por todos os lados eu escrevo. É o meu refúgio. Meu jeito de conseguir passar pelas situações difíceis, e agradecer pela coisas boas. Coloco alguma coisa pra tocar no fone (no momento Black - Pearl Jam), seguro o choro porque geralmente há pessoas por perto, como agora, o PH está ao meu lado trabalhando em seu doutorado, e deixo as palavras correrem soltas. Muitas vezes é preciso segurar o choro e escrever, ainda que às vezes transborde e fica um pigarro preso na garganta. De tanto segurar, dói.

*Na verdade até na terapia eu escrevia e levava os textos pra psicóloga, sentia que conseguia ser mais honesta na escrita do que falando. Na fala às vezes soa estranho... não parece tão verdadeiro, não sei o porquê dessa sensação...

Enfim, maio de 2024 foi talvez o mês mais difícil da minha vida. Agora já estamos em Junho, sinto que vivo um luto, uma tristeza que não sai de mim. Uma vontade constante de chorar. Um desejo de ficar parada, por vezes uma raiva incontrolável buscando que outras pessoas sofram como eu estou. Minha ferramenta é falar, fico querendo expor para o mundo quem são as pessoas que feriram a mim, minha mãe e meus irmãos. Expor a verdade e acabar de uma vez por todas com as máscaras me parece razoável, mas alguma coisa me pára. Assim, me mantenho sempre com raiva e triste.

As coisas levam tempo. Não suporto essa espera, mas não é possível de outra maneira. Pra quem é ansioso, é mais difícil viver nessa angústia. 
Tenho clareza que muitas coisas foram mostradas pra mim por algum motivo superior, coisas que eu sequer procurei... essa parte me deixa chocada. Sou uma pessoa que acredita nos sinais, não acho que nada acontece por acaso. Pelo menos na minha vida, os acasos sempre significam alguma coisa. 
Se eu digo que preferia ser ignorante em muitos âmbitos (e eu tentei muito ser), é mentira. Porque viver em mentiras tão sérias é um pesadelo pra alguém como eu. Algumas coisas são inegociáveis na minha vida, e a minha lucidez é uma dessa coisas. Meu discernimento e minha lucidez. Preciso ver verdade nas coisas, e me abala muito descobrir que no mínimo os últimos 3 anos foram uma grande e intragável mentira. Tudo que vivemos foi falso. E foi muita coisa. Não consigo perdoar, ultrapassa meu limite. E eu procuro respeitar meus limites.

Por outro lado, ver a situação da pessoa mais afetada entre todos que é minha mãe é onde despedaça o que sobrou de mim.
Minha mãe está imersa em um relacionamento muito tóxico. E por ser tóxico, é inebriante, hipnotizante, te prende, te confunde, às vezes te trata bem, outras vezes (a maioria) te culpa por erros que vc não cometeu. Te rebaixa, imputa em vc os erros que ele mesmo comete. E vc perde tempo e saúde mental explicando o inexplicável. É um show de manipulação, um jogo torturante pra quem vê de fora. Vc está lidando com um narcisista e, nesses casos, a única cura é se afastar. Mas ao começar o movimento, o manipulador te faz acreditar que vc está finalmente no comando da sua própria vida depois de muito tempo. Só que ele está ali, rondando, e sem perceber vc já está de novo dando satisfações, ele te persegue e vc dá as explicações. OU SEJA, vc nunca esteve no controle, ele te fez pensar isso por alguns dias até te envolver de novo. Assim, vc vira uma sombra que perambula pela vida e tem medo de agir por si. Nem mencionei aqui o controle do corpo, das roupas, os adjetivos degradantes que ele imputa em vc... tudo isso vai atacando sua auto estima e sua saúde mental pouco a pouco, ao longo de uma vida inteira juntos carregando uma imagem de quase 30 anos de casamento.
Eu vejo todas as características acima na minha mãe. Todas, sem exceções. E sendo eu a única filha e a mais reativa da família, não conseguir intervir diretamente e arrancar esse câncer da vida da minha mãe é algo insuportável e vai me tirando o fôlego dia após dia.

Fingir que nada disso existe ou que não me afeta é um subterfúgio que não tenho como ter, porque, mais uma vez, minha lucidez e meu discernimento não me permitem essa cegueira e nem esse egoísmo.

Dói demais, mas eu vou juntando força aos poucos e não caio. Vou andando manca, anêmica e torta tentando libertar minha mãe disso. Eu sei que tenho anjos da guarda invisíveis que me amparam nisso, e que curam à medida do possível. Eu sinto essas presença muitas vezes que me mantém no jogo.

"Somos as netas de todas as bruxas que vocês não conseguiram queimar" 

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