quinta-feira, 4 de julho de 2024

4 de julho. Sinto que preciso falar sobre meu processo que está sendo difícil.

Estou mais nervosa, mais triste, sigo não conseguindo aceitar o fato acontecido. Estou confusa, porque queria lidar de uma maneira mais leve pra minha saúde mental. Mas it is what it is.

Quando digo que não aceito o fato não quero dizer que finjo que não aconteceu, mas que é como se eu sofresse várias vezes ao longo do dia "redescobrindo" aquilo. E também a noite, nos meus sonhos. É horrível isso porque é uma eterna sensação de abandono e falta de cuidado e falta de respeito. Como se cada momento eu sentisse do zero. Aí quando tento pensar racionalmente que isso foi há 1 mês, o sofrimento dilui um pouco. Mas, logo que me desligo um pouco, nos momentos do dia-a-dia lavando louça, no trajeto até o mercado, tomando banho etc. acontece de novo, do zero, e de novo, e de novo...

Lembro que não estou falando com meu pai já há mais de1 mês, mas que ele continua na rotina da minha família. Qualquer coisa que me chateia, escalo para um estado de nervos muito rápido. Quando me dou conta, percebo que levantei o tom e ofendi mais do que a situação pedia (sobre coisas que não tem nada a ver com o fato traumático em si).

Quando sinto as pessoas tentando esquecer e não falar mais sobre isso, eu busco de novo o assunto numa tentativa de não banalizar o que passou. Mas, ao fazer isso, me dói de novo e de novo e de novo. E, ao que parece, só dói em mim desse jeito. 

Fico tentando buscar referências de situações semelhantes na minha vida, e como foram superadas. Lembro de algumas situações difíceis, mas nenhuma envolvendo família. 

Houve uma muito dura que passei com uns 17 anos, quando minha melhor amiga ficou com o menino que eu tinha um rolo, de quem eu realmente gostava na época. Surtei no meio da festa em que vi eles ficando, eu tinha bebido, fui embora chorando,  lembro que chovia e eu joguei meu celular no chão com força. O menino foi atrás de mim, enfim, conversar. Fiquei muito abalada, falei minhas chateações para a minha amiga e alguns dias depois, retomamos nossa amizade. Consegui perdoá-la e preferi seguir assim. Mas olhando de fora agora, acho que sempre fiz essas concessões por inseguranças minhas. Foi a forma que encontrei de não sair por baixo, abrindo espaço para os dois ficarem juntos, e eu "sobrar". Então engoli o meu orgulho e assim encarei na época. 

Hoje, com 32 anos, não faço mais essas concessões porque tenho um pouco mais de segurança e amor próprio. Inclusive, hoje, olho para as minhas amizades com menos ingenuidade, mais auto proteção. Ao primeiro sinal de descaso ou falsidade, sou a primeira a abandonar o barco. Talvez por isso passar por uma situação de traição e mentira agora esteja doendo tão mais. 1º porque foi o meu pai, quem eu sempre achei que teria ao meu lado. 2º porque é duro assistir a regressão da posição da minha mãe no casamento com o meu pai, os efeitos que um casamento falido, fracassado tem na auto estima dela, na sanidade mental e cognitiva, até os efeitos diretos que o estresse que ela sustenta diariamente a faziam passar, como por exemplo o zumbido no ouvido, o terror psicológico de não poder usar certas roupas, ou mesmo de ir à casa da mãe dela com a frequencia que ELA quiser. Tudo isso foi ficando difícil de separar da relação pai e filha, justamente porque afeta a minha mãe e ela não sai. 

De repente tudo isso começa a ruir, porque eu arranco a máscara do meu pai sem nem fazer muito esforço. E é tudo tão desrespeitoso e escandaloso que o que eu acho que pode libertar minha mãe do sofrimento, se torna raiva por ver que ela ainda não se soltou por completo... e eu mais uma vez acabo me sentindo o meme do John Travolta, como se eu fosse embora pra um lugar e de repente, olho em volta e além de não ter ninguém comigo, nem sei onde estou e o que está acontecendo. É assim que me sinto, o câncer continua roendo as nossas vidas, e eu me sinto mais sozinha do que nunca.

Por sorte, sempre que me sinto abandonada recorro à arte, seja música, filmes, séries, textos, livros. E com a internet facilitando esse acesso, isso se torna meu único cais. Não faço terapia, o que dificulta ainda mais, tenho esse espaço pra me abrir, meu celular gravando mensagens pra mim mesma. Enfim, me sinto uma máquina que produz muito conteúdo de tristeza e decepção, mantendo tudo sempre bem escondido.

Eu sempre admirei famílias amorosas, acolhedoras, leais, verdadeiras e, por algum tempo pensei que a minha fosse um exemplo das que acompanho na internet, por exemplo. Não se trata de famílias perfeitas, serenas e ricas, por exemplo, mas de famílias que se apoiem sem mentiras, que se acolhem e fiquem felizes com os seus felizes também. Gentis, educadas, com senso de justiça, traços de carinho com os animais, e comportamentos. Humildade pra rever conceitos, enfim. Eu criei essa expectativa, mas a minha realidade é outras. Tudo é confuso, sombrio. E eu estou completamente sozinha dessa tempestade.

Já sinto que isso tudo me mudou um pouco, mais desconfiada do que nunca, mais reativa do que nunca. Esperando sempre o pior das pessoas. Frustração e fadiga.

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