minha conversa com Taciana, a psicóloga. Estou feliz que tenho conseguido ser o mais sincera possível. Tinha medo de querer "florear", "romantizar", fazer algum tipo de drama. Mas, ao mesmo tempo eu não posso dizer que tenho todas as respostas com toda certeza para as perguntas que ela me faz sobre vida profissional, carreira e afins. Nisso ainda me pego um pouco pensativa.
We are fluid dreams, vivid memories..All uncertainly leads to eternity...
terça-feira, 13 de outubro de 2020
terça-feira, 6 de outubro de 2020
Comecei a fazer terapia!
Estou muito feliz por poder dizer isso hoje! Os últimos tempos me deram muitos sinais de que eu precisava começar, eu ouvi os sinais e aqui estou. Conheci Taciana, a psicóloga e gostei muito dela. Tive receio de não conseguir me sentir à vontade, de me fechar e me vestir de um personagem sério, equilibrado e bem resolvido. Sei que preciso me esforçar para conseguir fazer a transformação que minha vida está pedindo há algum tempo. Vou me entregar a isto e fico feliz por ter a oportunidade/o privilégio de vivenciar isto aos 28 anos. Me senti acolhida, senti que vou poder contar todas as minhas questões e entender porque passo por elas.
Eu sabia que seria perguntada do porquê ter ido até lá/do porquê buscar ajuda psicológica neste momento. Então um dia antes, sozinha na casa do meu namorado enquanto ele estava viajando, peguei papel e caneta e comecei as escrever como estava me sentido. Estava triste, emotiva, perdida, desconsolada. Hoje, na terapia li meu texto para a psicóloga. As ideias estavam organizadas e isto ajudou muito a iniciarmos nosso diálogo. Saí com a sensação de baterias recarregadas, e esperançosa de que a transformação vai acontecer. Sigo escrevendo, sempre. Como sempre fiz, porque esta sou eu. Aqui, acolá. Amo as palavras e esta verdade mora em mim desde pequena. Sigo equilibrando meus pratinhos, lutando sempre para não menosprezar meus sentimentos, não minimizar minhas questões pessoais... Sigo também atenta aos sinais que surgem em meu caminho.
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
quarta-feira, 9 de setembro de 2020
surpresas são insuportáveis
surpresas.
e porquê de eu não gostar delas.
surpresas me causam ansiedade, o fato de eu não me preparar psicologicamente para uma situação, principalmente quando isso demanda de mim uma ação rápida e, pior ainda, sendo exposta enquanto processo as informações... me faz sentir completamente desconfortável. por isso resumo tudo ao fato de preferir evitar surpresas.
um desses fatos ocorreu ontem em minha casa, e não foi diretamente a mim, mas a alguém muitíssimo próximo. ele foi advertido pela 2ª vez e já foi desligado do cargo. foi de empregado a desempregado. saiu para trabalhar pela manhã e retornou precocemente na hora do almoço, surpreendendo a todos. O que me incomodou foi notar que ele estava chateado. Como já falei em outros textos, prefiro eu mesma sofrer algumas chateações do que ver algumas pessoas sofrerem. Isso porque eu consigo ter um diálogo muito íntimo comigo mesma, e consigo saber e enxergar o meu valor, independente de situações. E algumas pessoas muito próximas a mim sinto que têm seguranças em coisas específicas que, se estas desandam, levam consigo auto estima... principalmente em uma geração que vê no trabalho para seus respectivos patrões a única maneira digna de se viver. E sim, precisa ser trabalho para terceiros, porque o funcionário público é tido como menos digno porque ele não precisa sofrer tanto quanto os trabalhadores privados sofrem e se submeterem a tudo que estes outros passam.
fico afetada por uma situação como esta, porque eu vejo o valor da vida em coisas muito menos financeirizadas e relações muito menos tóxicas. e pra mim, este deveria ser o sentido da vida, e este assunto deveria ser mais abordado nas famílias. sei que estou falando de um lugar de privilégio e nunca foi meu interesse falsear isso. muito menos ostentar. mas a questão aqui é que, ainda com os privilégios que concederam a minha família um "plano B" de sustento graças à visão de anos atrás lá com minha avó, de construir algumas casas de aluguel, mesmo com certa estabilidade, a ideia de subserviência e de ver o trabalho para empresários terceiros como a única maneira de viver dignamente, persiste.
E assim, situações constrangedoras são sempre mantidas e reiteradas. Tais relações, inclusive diretamente afetadas por posicionamentos políticos, acabam por ir tirando dia após dia o brilho no olhar de pessoas que me rodeiam, que adoecem, endurecem, se moldam a uma realidade que é cruel. E por fim também se tornam cruéis e vão se desumanizando, dia após dia. Eu não queria precisar me arrepender de ver valores significativos em coisas simples da vida só quanto estiver perto da morte, como é o caso de muita gente. Será que não aprendemos nada com tantos relatos?? Será que a vida é mesmo um sofrimento eterno? Será mesmo que a única forma de ter sucesso é tendo um trabalho que te desgasta e te suga as energias e acaba por te colocar pra baixo e destruir a cada dia um pouco da sua auto-estima?
É triste observar e não saber dizer a eles que a vida é muito mais. A mundo é muito maior do que uma empresa. As relações podem ser leves, O dia-a-dia não precisa ser tão penoso, doloroso, cruel. Talvez se um dia todos estes meus textos forem lidos por alguém além de mim mesma, ao menos por uma dessas pessoas próximas a mim, eu consiga chegar próximo de passar a minha mensagem do que acredito da vida, mesmo com só 28 anos de idade.
quinta-feira, 20 de agosto de 2020
sobre o desconforto angustiante que é me expor
muitos sentimentos novos.
me sinto no meio de um mar agitado. problemas por todos os lados, não exatamente relacionados a mim, mas a todos que me rodeiam. e eu no meio tentando equilibrar meus pratinhos, só que essas são as pessoas mais próximas a mim no mundo. e os problemas são graves, ou assim eu sinto. sobre ser esponja, mesmo lutando contra isto.
bleeding, i'm bleeding. my cold little heart.
a música acabou de falar isso, e é muito o que estou sentindo agora. tenho sofrido pelo problema dos outros -que eu fico tentando repetir mil vezes pra mim mesmo que são 'outros', e não meus. deve ser natural isso, mas não a ponto de eu me sentir sufocada. me sentir pressionada por todos esses lados. acho que eu na verdade não sou tão forte quanto pensam que eu sou. mas eu não aprendi a demonstrar fraquezas, e elas só surgem em forma de explosão quando transbordam... nesses momentos, eu costumo vir aqui, neste diário que mantenho há tantos anos e que já até apaguei coisas.
mas ainda com este espaço pessoal onde posso ser eu mesma e me abrir e tentar me aliviar, sinto que preciso de mais. de alguém pra conversar. uma pessoa fora de mim. nestes últimos tempos tenho sentido muita necessidade de ter uma Analista, a quem eu pudesse estabelecer um fio sobre minha vida, minhas experiências, e tentar verbalizar dentro de alguma linearidade as coisas dentro de mim. minha personalidade, minhas relações, minha infância, minha adolescência, sobre mim. Só sobre mim mesma, sem precisar tentar dar conta sempre das questões dos que me rodeiam. Tenho me sentido só, sentido que sou muito ouvido e muito pouco palavra. Isso é muito sobre a minha personalidade, eu tenho esta consciência. Não aprendi a falar sobre meus sentimentos com ninguém, não aprendi a ser vulnerável (pelo menos não a mostrar tal vulnerabilidade), e eu sou. Escrever realmente é muito mais fácil pra mim do que falar. Mesmo escrevendo só pra mim mesma ler.
Meus pais viveram uma crise, meu namorado viveu problemas de saúde física e mental, meus irmãos não são tão próximos e eu não sei o que eles passam assim como eles também nada sabem sobre mim. nossa relação é prática, direta, alguns conflitos, mas conseguimos conviver pacificamente a maior parte do tempo - aprendemos, eu acho. mesmo que ainda haja conflitos esporádicos.
conversando com meu namorado - que é com quem tenho conversas mais profundas (mesmo que não tanto quanto as que estabeleço neste espaço virtual), quando ele contava que se sente mal por não ter um lugar fixo, por estar sempre de mudança, e ter sempre que pensar como carregar a "casa" nas costas de uma cidade para outra, e pensar em toda a logística de novo e de novo. que ele não se sente bem na casa da mãe, onde não consegue passar um tempo mais longo sem se sentir muito mal, alguma coisa o afeta.
música delicia que começou a tocar: Black Pumas - Colors (Official Live Session). eu estava um pouco down, estou me sacudindo no ritmo. Um embalo muito agradável :) surpresa boa!
voltando... dessa ultima vez especificamente começaram muitos barulhos que o levaram a uma situação grande de estresse que acabou gerando um ruído intermitente no ouvido dele. dentre muitas outras coisas, questões que ele passou e passa que me fazem sofrer quando me coloco no seu lugar. mas voltando à sensação de não-pertencimento e até de não se sentir em casa em nenhum lugar. eu também sinto um sentimento parecido sobre isto. aprendi a viver em paz na casa dos meus pais, que também chamo de minha. aprendi a conviver em paz com meus irmãos e com meus pais sem que isso me tirasse a paz. mas, ao mesmo tempo, não me sinto mais "em casa" quanto há alguns anos... hoje em dia tenho tenho meu modo de viver dentro de uma casa, discordo de formas que eles mantém tudo um grande "caos controlado" (o maior paradoxo deste texto). mas não tenho e nunca tive um lugar só meu, onde eu me sinta 100% em casa. nunca nem aluguei um lugar com meu proprio dinheiro, sob minha unica escolha. enfim, as vezes duvido se isso vai acontecer algum dia, mas mesmo em uma condição que nunca aconteça (extrema de se considerar, eu sei, mas pra mim é necessário processar isso em meu cerebro e me preparar para conseguir manter minha sanidade), preciso tornar minha realidade suportável pra mim mesma. e por isso, trabalho em tentar manter a paz, respeitar os espaços, saber até onde ir, e tentar sempre aprender a limitar também até onde os outros podem ir sem invadir meu espaço. e nesta parte eu ainda careço de muito aprendizado...
enfim, a questão é que: embora eu ame me expressar escrevendo, sinto que há muito (mais) a ser expressado. e os textos precisam ter um mínimo de coesão e coerência em sua construção senão ficam apenas palavras soltas sem sentido algum. e neste sentido, sinto que poder falar sobre as coisas criando uma mínima linha de raciocínio, uma mínima linha do tempo dos fatos, atualmente me faria bem. não conheço uma profissional que possa me ajudar ainda, e sei que sequer tenho dinheiro pra pagar a um período maior, mas queria experimentar ser o centro das atenções por 1 hora, falando sobre mim, ja que escuto tanto sobre os outros e dou meus pitacos. sinto que tenho muita história pra contar, sobre como enxergo as coisas, alguem que pudesse me ajudar em tantas falhas que sei que tenho, meus ímpetos, minhas explosões, minha falta de capacidade em expor fragilidades, falta de capacidade de demonstrar carinho em qualquer pessoa. tanta coisa! queria entender da onde vem tudo que sou, tudo que sinto, tudo que vivo, mesmo que precise passar horas contando muito do que já vivi, minha história, minha vida, infância, todas as fases. tentar buscar. investigar. me expor. a coisa que mais odeio é me expor. isto já diz tanto sobre mim... se pudesse escolher agora uma frase pra me descrever seria esta: o que mais odeio é me expor. e daí acho que já pode sair muita coisa. preciso explorar. todos estes sentimentos dos ultimos meses me levam a este caminho daqui para frente.
sábado, 25 de julho de 2020
sobre 2020, uma parte do ruído
Ficando mais tempo na casa dos meus pais, com eles, tem sido insuportável notar tantas características de um relacionamento tóxico, e não poder fazer muita coisa, não poder ter o controle e tirar uma pessoa deste lugar de sofrimento. Hoje enxergo nitidamente o que antes eram só suspeitas. Me sinto mal por esconder tudo que percebo, que já vi, por pensar que todos somos pessoas que merecem ser felizes. Não deveríamos ninguém passar por uma vida triste, estressante, insegura, simplesmente por estar ao lado de alguém que sequer nos respeita mais. Fico triste também por, aos 28 anos entender que não quero viver isto nunca e ver alguém que eu amo viver exatamente isso sem conseguir sair ou se impor ou, ou, ou... ter qualquer atitude que restabeleça sua felicidade, seu brilho nos olhos, suas noites bem dormidas e seu prazer de viver.
Eu sei que tenho em mim um brilho, uma alegria de viver que com certeza herdei de meus ascendentes, sei que consigo enxergar beleza em coisas muito simples e não tenho tendência à tristeza e depressão, mas sei também que apesar disso, todos precisamos estar em um ambiente saudável, leve, alegre, recíproco, respeitoso... não merecemos estarmos rodeados de desprezo, egoísmo, obrigações vazias, indiferença, manipulação, inversão de culpas, jogos. E tudo isso é o que vejo acontecer ao meu redor. Não comigo, porque eu não permito mais isso no meu atual relacionamento. E faço tudo o que posso pra ser honesta, transparente e respeitosa. Mesmo com minhas falhas, minha reatividade. Tenho consciência de todos os meus atos e vejo e revejo cada um deles, sempre que tenho a oportunidade.
Sei que, após refletir sobre o meu papel na atual situação, eu devo ser um porto seguro, um amparo, ouvido, e sei que meu posto de escuta é importante. Procuro ao máximo mostrar que ela não está sozinha, que todos merecemos sermos felizes, viemos ao mundo para isso, e precisamos ter coragem pra sair de uma situação que nos cala e não nos agrada mais... pra florescer em outros jardins. Viver outras etapas, experimentar outros caminhos. Ser livres, respirar aliviados enfim. Embora eu gostaria de dizer com essas palavras, o que posso ser é amparo, é calma mesmo sabendo da confusão mental de tudo isso. Hoje me sinto madura para não absorver tudo isso, mesmo sendo algo muito próximo a mim. Mas muitas vezes, como agora, me pego triste por não poder eu mesma resolver e mudar tudo. E fazer com minhas próprias mãos as coisas se resolverem e todos voltarem a ser felizes. Hoje sigo aqui, ao lado, atenta, com o coração bastante apertado, mesmo disfarçando muito bem.
quinta-feira, 11 de junho de 2020
sobre atitudes intoleráveis e inaceitáveis X minha REATIVIDADE
mas hoje por motivos de: nada orgulhosa do meu curto estopim.
tentei justificar pra mim mesma, mas não adianta... é difícil me auto-enganar.
percebo logo a estratégia e já aceito meu erro, com remorso.
por isso estou aqui, agora.
meu pai me deu uma resposta grosseira. eu, REATIVA ao extremo, comecei a soltar todos os sapos possíveis. entre palavrões, eu emputecida, e sem controle nenhum das minhas ações.
meu pai viu que eu entrei na pilha e continuou as grosserias. mas ele é assim. eu não sou, mas sou reativa. E isso me mata de vergonha. Não gosto de ter o estopim tão curto. Não gosto de perder minha razão. e hoje isso ficou feio.
ele deve se importar pouco pq ele já tem costume de tratar as pessoas assim, de acordo com o humor dele. mas eu agora estou me culpando e me sentindo péssima pela minha atitude.
nem um pouco orgulhosa de mim. eu não precisava escalar na minha raiva, como eu fiz. mas eu já fiz. é muita raiva. e a sensação de não ter nem pra onde correr. tudo o que eu queria era não precisar mais morar aqui. dar a eles o espaço deles, e ter o meu espaço. poder me sentir mais em paz.
aqui tudo é uma preocupação, uma responsabilidade que eu não escolhi, mas enquanto aqui estou tenho a obrigação de colaborar.
às vezes eu só queria estar bem longe deles.
de tempos em tempos essa vontade me consome e eu preciso sair.
já são quase 30 anos. eu preciso sair.
deixo claro que o erro foi a minha reatividade. mas é só porque, pra mim, atitudes assim como as dele, de grosseria, não são aceitáveis pra mim. sinto e percebo com tudo isso que não caibo em um lugar onde isso é aceitável. e é a casa dele, então ele trata como lixo as pessoas o quanto ele quiser.
não é meu perfil, minha personalidade, não é o que eu quero pra minha vida e para as pessoas ao meu redor. sinto muito que fui fraca e explodi feito uma bomba. mas, pra hoje foi o que consegui fazer. mais um dia, mais uma chance de acertar.
sinto vergonha de mim mesma. mas, preciso seguir. e tentar não me crucificar tanto. apesar de já estar fazendo isso.
serão 4 dias de convivência. o primeiro foi hoje e já foi exaustivo, temo os próximos.
mas pelo menos os sinais de atenção já foram ligados hoje. cabe a mim, dar a devida relevância e me policiar nos próximos dias pra não mandar tudo à pqp novamente....
terça-feira, 2 de junho de 2020
lugar arquitetônico
Arquitetonicamente ainda, esta casa é da minha avó, foi onde meu pai cresceu e onde eu estive grande parte da minha vida. Na casa da minha avó Lica, dormíamos com ela quando foi ficando mais velha e não podia mais estar sozinha durante as noites. E ela nos tratava, a mim e meus irmãos, feito rainha e reis. no frio colocava o chuveiriho quentinho na pia em uma gambiarra que sempre funcionou para que pela manhã, antes de irmos para casa, lavassemos o rosto e escovássemos os dentes com água quentinha... a água fria cortante do frio de ouro preto ela tinha a preocupação de evitar que precisássemos lidar. Detalhes... que valem ouro pra quem aprecia ver a vida através deles. Voltando para a questão espacial, o meu quarto hoje em dia é o quarto que minha avó chamava de "quarto de costura", onde ela guardava o material de costurar, tesouras diversas, linhas, agulhas, moldes, revistas antigas, a máquina de costura, retalhos muitos, outra mesa grande, armários e prateleiras cheias de coisas diversas, armarinhos, prateleiras, e uma cômoda com os santinhos e orações dela. Por sinal, esta cômoda ficava exatamente onde estou sentada, escrevendo em meu notebook sobre minha mesa. Lembro de lê-la rezando aqui, acendendo velas, mexia nos seus grampos e o pente sempre tinha uns cabelos, que eu tirava às vezes. Aqui aprendi a usar a máquina de costura dela. Pegava por vezes a tesoura de picotar que ela tinha na gaveta da mesa grande que tinha aqui do lado. Lembro tambem que atrás da porta tinha um porta sapatos pendurado na porta, e lembro dos sapatos dela, mulher alta, tinha os pés grandes, devia calçar 39, se não me engano. Aqui também tinha uma cama. Tinha lugar pra tudo isso. Era o cantinho da casa que, parando agora para pensar, mais tem a personalidade dela, os passatempos, as coisas que ela sabia fazer, os hábitos. Recordações. E hoje este é o meu quarto. Hoje só tenho aqui uma cama de casal antiga dos meus pais, uma mesinha lateral que eu reformei e pintei, um guarda-roupa grande até demais, uma cadeira e minha mesa de muitos anos, que tanto gosto. E olha que hoje o quarto é maior porque ampliamos cerva de 1 metro da varanda que fazia uma curva. E antes parecia caber tanta coisa mais.... e era menor... tudo era menor, tudo era mais simples. E eu também era menor, então em minha memória tudo parecia gigante, espaçoso, e também porque ali tinha e tem muita memória. Coisas que os centímetros não são capazes de compensar, porque além da minha memória visual espacial, tem a parcela de saudade e imaginação que torna tudo mais incrível ainda que menor e mais humilde. Que saudades da minha avó, de ser criança, adolescente e vir pra cá sempre que me desentendia com meus pais. E era sempre recebida pela minha avó por quem sou apaixonada e espero um dia a encontrar em algum lugar. Às vezes sonho com ela, os primeiros eram meio nublados pq eu não entendia o que se passava, mas os mais recentes tem aquecido muito meu coração. São mais claros pra mim e mais cristalinos.
Hoje moramos na casa dela e neste momento exato meu pai está tocando Handy man, James Taylor. e essa poesia que ele carrega em forma de música eu carrego de tantas maneiras... música é uma delas, mas muitas outras também. Minha sensibilidade é muito facilmente perceptível. Isso me faz lembrar uma série que vi recentemente, no início da quarentena, chamada Anne with an E, ainda pretendo escrever exclusivamente sobre ela, porque até hoje não consigo lembrar de nada relacionado a ela sem chorar, e não é pouco... A série me acessou em locais que nem eu sabia que seriam tão intensos e tão delicados e tristes e inconformados e lindos e, como um sopro, eu não consigo mais me desvencilhar de Anne... mas ainda escreverei um texto só sobre o que foi assistir a esta obra prima, a meu ver, tão potente e tão delicada ao mesmo tempo.
Por hoje é só, espero vir aqui mais vezes, porque aqui me sinto totalmente livre e sei que posso deixar as palavras fluírem sem medo, sem julgamentos.
segunda-feira, 1 de junho de 2020
pensando Paulo Freiro na minha criação...
e apesar de todas as complexidades do meu ser que despejo aqui algumas vezes por ano, às vezes só quero trazer constatações e aspectos que observei e observo ao longo da minha vida, em relação a mim mesma e à minha interação com as pessoas, amigos, família, namorado. E, óbvio: tudo sempre de acordo com meu olhar para todas essas coisas.
algo que me orgulho muito da minha criação e dos meus irmãos por minha mãe e meu pai é sobre o suporte mental que sempre nos foi fornecido no que tange ao desenvolvimento das nossas personalidades. Não crescemos em moldes seja por idade, gênero, nada. Crescemos questionadores, com respeito, claro, mas sempre tivemos voz. Meu pai foi professor muitos anos e ele tem a didática na essência. Ele sempre tenta ensinar aproximando os assuntos do que é palpável pra gente, individualmente. Seja com mais ou menos paciência, tem certas coisas que acompanham a essência, e a dele é essa: a de passar o que sabe. Incentivar. Apreciar pequenas vitórias. Claro, há problemas também! Ninguém está isento disso, mas é bonito tentar me distanciar agora e olhar essa sorte que tivemos, eu e meus irmãos, de sermos filha e filhos de um pai educador. Minha mãe, por outro lado, sempre leu muito, mesmo com a origem super simples, ajudando a mãe em casa enquanto os irmãos foram estudar. Ela é esse coração, essa conexão com as humanas (enquanto meu pai nos conecta com as exatas como um nato educador leitor de Paulo Freire -sem ele nunca ter de fato lido Paulo Freito- como eu disse, é essência, ele trouxe das suas próprias vivências, que sempre conta com empolgação dos vários professores que teve). Minha mãe não é dos números, ela é das ideias contraditórias, da fé, na confiança, da emoção. E isso é um outro universo essencial ao ser humano, afinal não somos réguas, não somos calculadoras, não trazemos as respostas sempre exatas. Há que se considerar que o o mundo é, sim, contraditório. Nós todos somos. E o poder de reconhecer tais fatos dificilmente reside em quem é de exatas,mas em quem tem a sutileza ou cautela de enxergar como somos errôneos e por isso mesmo, poderosos, ricos e interessantes pessoas.
Ter crescido com estas forças trouxe, é claro, conflitos, mas que sempre puderam ser trazidos à mesa. Não somos a família perfeita, mas somos uma família foda, forte e poderosa em nossas características. Cada um com as suas potencialidades e desafios, mas sempre únicos.
Hoje era só isso, queria exaltar a minha criação.
domingo, 3 de maio de 2020
sobre minha mãe
"Você deve estampar sempre um ar de alegria e dizer: tudo tem melhorado" ?
Foi triste ver que minha mãe resume tudo a isso a eu querer me livrar das tarefas. E assim, ela "resolve" o conflito se ausentando. Os sussurros com meu irmão agora devem ser sobre como eu sou temperamental e emocionada e enciumada. Uma pena, um desapontamento.
Percebo que sempre a melhor maneira é calar. Engolir o choro. Engolir o descontentamento. O silêncio é confortável. Mas sabem que por trás desse silêncio tem tanta coisa... tanta coisa estranha, alguns podres, exploração, abusos, coisas muito mais emocionadas que um choro de desabafo.
Eu sei que essa é uma forma de sobrevivência que eles encontraram, e o incômodo existe quando eu tento mudar alguma coisa nessa ordem estabelecida. Meu approach não é o ideal, eu sei, mas as coisas são como elas são. No mundo ideal uma conversa resolveria. No mundo real, essa conversa é uma piada.
Eu deveria aprender a ficar calada, e até fico às vezes, mas o talento pra fingir que TUDO vai bem, tudo legal não mora em mim. Não sou eu. E não vou criar um câncer em mim por esse hábito de fingir e de fingir que tudo vai bem, tudo legal. Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé, se acabaram com o seu carnaval?
segunda-feira, 13 de abril de 2020
tentando caber, mas hoje dei uma transbordada...
meu pai continua trazendo uma grande carga mental para mim. sei que eu preciso aprender com isso e crescer. preciso controlar toda a minha ansiedade que grita em momentos assim.
a verdade é que eu me sinto no meio de um cruzamento de informações, que se contradizem e então eu não sei o que fazer. fico paralisada, e por dentro, segurando para não surtar.
vou tentar colocar em palavras um pouco do que tem sido.
meus pais tem alugueis, que são eles quem controlam. minha mãe sempre fez os contratos, eles sempre levaram as coisas assim. há um tempo, talvez uns 5 anos aproximadamente, eu comecei a ver que podia ajudar nisso. pensei isso para que a carga em cima deles diminuída mesmo. me vi nesta obrigação. nunca fiquei com 1 centavo de alugueis, nunca pedi, nunca foi essa a questão. eu fui me tornando uma pessoa muito empática, e perceber essa sobrecarga neles quando eu já tinha idade para colaborar me fez começar a aprender e a me inteirar do que acontece. comecei a fazer os contratos para eles, tirava as fotos os espaços, divulgava, mostrada para os inquilinos etc. eu conseguia alugar as coisas rápidas pq acabei aprendendo a divulgar nos meios que funcionam na minha cidade.
de um tempo pra cá, meu pai começou a se incomodar por eu sempre fazer o esforço de enxergar as coisas de forma mais justa pra eles! o meu pai sempre cedeu muito para os inquilinos todos e eu via muitas vezes as pessoas se aproveitando do medo que o meu pai tem de imóvel ficar vazio e etc.
ele passou a se incomodar com minhas interferências, com minhas sugestões, com minhas tentativas de encontrar um meio termo em situações totalmente atípicas, como é o caso recente da Pandemia que estamos vivenciando.
Por muitas vezes eu tentei me afastar por completo dos assuntos relacionados aos alugueis por perceber que aquilo não me fazia bem, pq incomodava meu pai, eu tentava cumprir os combinados, os contratos, e muitas vezes eu ficava sozinha em um argumento e meu pai logo cedia para o inquilino se aproveitar. foram inúmeros abusos nesse sentido. e eu sempre tentando "equilibrar os pratinhos" e aceitar tudo sem que isso me afetasse mentalmente. mas a tarefa se torna difícil quando na primeira oportunidade meu pai me dá responsabilidades nisso tudo, as mesmas de sempre, contrato, recibo, fotografa, divulga, marca de mostrar a a casa, responde contato de interessados, enfim. tudo, né?! ao mesmo tempo que eu tento não me envolver para não chateá-lo com minhas opiniões e valores e tb para preservar minha saúde mental nisso tudo; eu recebo responsabilidades dadas por ele e pela minha mãe (que tem o pensamento muito mais próximo do meu e eu não tenho nenhum problema ou desgaste nesse sentido). Ao receber essas responsabilidades, me sinto na obrigação de ser útil e colaborar. Talvez eu precise disso no meu atual momento de vida, porque não estou trabalhando, estou fazendo processo seletivo para mestrado (com tudo parado devido à pandemia), logo, estou bastante tempo livre, e eu poderia e na minha concepção deveria aliviar a carga deles. além de me ocupar, já que isso não me causaria nenhuma sobrecarga e afins.
EU SEI que o melhor a fazer é sair de casa, me distanciar completamente, financeiramente, emocionalmente um pouco pra conseguir ter paz. mas no momento isso não é possível para mim, e então tem sido difícil ver onde me firmar. o que é coerente de ser feito.
no meio termo, já que não tenho para onde ir nesse momento, vejo que a melhor saída é dar um passo atrás e sempre tentar não me envolver. fazer o que me é pedido e calar a boca, como um robô, que serve, trabalha, sem dar opinião, sem ser considerado em nada, afinal, eu tenho teto, eles me dão, e esse é o meu pagamento. eu tenho que me dar por satisfeita com isso. inclusive é uma boa casa, ou seja, "pobre menina classe média sustentada pelos pais".
também sei que diminuir minhas dores não vai resolver, porque eu só tenho essa vivência. não posso dizer que vivo outra realidade, não posso me posicionar em outras realidades com lugar de fala senão a minha, e tento ser muito realista com tudo. com meus privilégios e minhas dores. tendo não me colocar em um lugar de injustiçada, vítima, pq eu não sou. mas eu tb PRECISO considerar minha saúde mental, minha sanidade, pq não quero cultivar uma doença, ou desenvolver uma ansiedade por ter fingido o tempo inteiro que tudo está bem. Já basta eu fazer isso com minha família (ser um robô que não sente absolutamente nada), comigo mesma eu preciso ser honesta e respeitar minhas angústias. É nisto que este espaço secreto me é absolutamente necessário. sem este espaço, eu iria me afundar em pensamentos soltos e nunca colocaria em ordem, em texto, nunca teria como comunicar como está tudo por dentro.
Só de escrever até aqui meus sentimentos já se transformam, eu me acalmo. e vejo que preciso aceitar as pessoas como elas são. Talvez meu pai me veja como uma funcionária, e talvez eu deva mesmo aceitar esse posto, até ser capaz de sair de casa. Fico chateada de não ter minha opinião sequer ouvida, ser calada o tempo todo com bastante má vontade, caras muito ruins. Levo tudo isso muito a sério, não sei se deveria. Mas, eu tento ser correta, me esforço pra encarar melhor as situações. Mas, às vezes, pelo meu pai sinto que tudo que faço é nada. e eu sei, é um ciclo, eu vou ao meu limite assumindo responsabilidades, meu pai enxerga como nada mais que minha obrigação (ok), mas quando eu me posiciono de alguma forma diferente dele, tudo é desconsiderado e eu me transformo aos olhos dele na filha mimada que se mete demais... "espera eu morrer pra você mandar" já ouvi muito isso. Um conflito forte, que só vai parar de existir quando eu aprender a achar o meu eixo em todas essas contradições, ou simplesmente me abster, mudar de casa, de cidade, de país, e aí travar minhas próprias e outras batalhas, totalmente desvinculada do meu pai.
a minha mãe é onde eu tenho alguém que eu confio com todos os átomos do meu ser, todos os pensamentos, tudo. com ela consigo conversar em pé de igualdade, democraticamente. ainda assim, mantendo o respeito e tendo em vista que ela é a pessoa que vou proteger o resto da minha vida. nós podemos discordar em paz. sabemos fazer isso, sem sermos tóxicas uma para a outra. graças a Deus eu tenho a minha mãe. e no que depender de mim, ela sempre vai me ter como um grande porto seguro também.
que eu fique em paz.
sexta-feira, 3 de janeiro de 2020
Ano passado eu morri, mas esse ano eu NÃO MORRO.
Porque apesar de muito moça me sinto sã e salva e forte
E tenho comigo pensado, Deus é brasileiro e anda do meu lado
E assim já não posso sofrer no ano passado
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro"
Ana ia com seu pique
Seu destino a transitar, sertão, cantiga e vento
Tantos regos
Refletindo seus momentos, santos sentimentos
Madre Pedra, Padre Zé
Na lua viu jornadear
Lua de sonho, lua de vida
Por onde passei senti o seu destino amargurado
Pequeno, coitado, calado, jorrado
Seus mimos, seus sinos, seus anos passados
Na vida, amaciar dureza
Na vida, amaciar
Era Ana, eram anos
Quanta vida enclausurada nesse mundo tempo
Era a cor dos seus cabelos
Tantos erros, tantos zelos
Vida a passar os…"
