terça-feira, 13 de outubro de 2020

hoje na terapia

minha conversa com Taciana, a psicóloga. Estou feliz que tenho conseguido ser o mais sincera possível. Tinha medo de querer "florear", "romantizar", fazer algum tipo de drama. Mas, ao mesmo tempo eu não posso dizer que tenho todas as respostas com toda certeza para as perguntas que ela me faz sobre vida profissional, carreira e afins. Nisso ainda me pego um pouco pensativa.  

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Comecei a fazer terapia!

Estou muito feliz por poder dizer isso hoje! Os últimos tempos me deram muitos sinais de que eu precisava começar, eu ouvi os sinais e aqui estou. Conheci Taciana, a psicóloga e gostei muito dela. Tive receio de não conseguir me sentir à vontade, de me fechar e me vestir de um personagem sério, equilibrado e bem resolvido. Sei que preciso me esforçar para conseguir fazer a transformação que minha vida está pedindo há algum tempo. Vou me entregar a isto e fico feliz por ter a oportunidade/o privilégio de vivenciar isto aos 28 anos. Me senti acolhida, senti que vou poder contar todas as minhas questões e entender porque passo por elas.

Eu sabia que seria perguntada do porquê ter ido até lá/do porquê buscar ajuda psicológica neste momento. Então um dia antes, sozinha na casa do meu namorado enquanto ele estava viajando, peguei papel e caneta e comecei as escrever como estava me sentido. Estava triste, emotiva, perdida, desconsolada. Hoje, na terapia li meu texto para a psicóloga. As ideias estavam organizadas e isto ajudou muito a iniciarmos nosso diálogo. Saí com a sensação de baterias recarregadas, e esperançosa de que a transformação vai acontecer. Sigo escrevendo, sempre. Como sempre fiz, porque esta sou eu. Aqui, acolá. Amo as palavras e esta verdade mora em mim desde pequena. Sigo equilibrando meus pratinhos, lutando sempre para não menosprezar meus sentimentos, não minimizar minhas questões pessoais... Sigo também atenta aos sinais que surgem em meu caminho.


 SINAIS





quarta-feira, 16 de setembro de 2020

 não passei. surtos, crises, choro, tristeza, desapontamento, auto culpabilização extrema.


durou 1 ou 2 dias, mas: passou!


sigo, meio baqueada, buscando caber em mim e nesse mundo que me rodeia. 


:)

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

surpresas são insuportáveis

 surpresas.

e porquê de eu não gostar delas.

surpresas me causam ansiedade, o fato de eu não me preparar psicologicamente para uma situação, principalmente quando isso demanda de mim uma ação rápida e, pior ainda, sendo exposta enquanto processo as informações... me faz sentir completamente desconfortável. por isso resumo tudo ao fato de preferir evitar surpresas.

um desses fatos ocorreu ontem em minha casa, e não foi diretamente a mim, mas a alguém muitíssimo próximo. ele foi advertido pela 2ª vez e já foi desligado do cargo. foi de empregado a desempregado. saiu para trabalhar pela manhã e retornou precocemente na hora do almoço, surpreendendo a todos. O que me incomodou foi notar que ele estava chateado. Como já falei em outros textos, prefiro eu mesma sofrer algumas chateações do que ver algumas pessoas sofrerem. Isso porque eu consigo ter um diálogo muito íntimo comigo mesma, e consigo saber e enxergar o meu valor, independente de situações. E algumas pessoas muito próximas a mim sinto que têm seguranças em coisas específicas que, se estas desandam, levam consigo auto estima... principalmente em uma geração que vê no trabalho para seus respectivos patrões a única maneira digna de se viver. E sim, precisa ser trabalho para terceiros, porque o funcionário público é tido como menos digno porque ele não precisa sofrer tanto quanto os trabalhadores privados sofrem e se submeterem a tudo que estes outros passam. 

fico afetada por uma situação como esta, porque eu vejo o valor da vida em coisas muito menos financeirizadas e relações muito menos tóxicas. e pra mim, este deveria ser o sentido da vida, e este assunto deveria ser mais abordado nas famílias. sei que estou falando de um lugar de privilégio e nunca foi meu interesse falsear isso. muito menos ostentar. mas a questão aqui é que, ainda com os privilégios que concederam a minha família um "plano B" de sustento graças à visão de anos atrás lá com minha avó, de construir algumas casas de aluguel, mesmo com certa estabilidade, a ideia de subserviência e de ver o trabalho para empresários terceiros como a única maneira de viver dignamente, persiste. 

E assim, situações constrangedoras são sempre mantidas e reiteradas. Tais relações, inclusive diretamente afetadas por posicionamentos políticos, acabam por ir tirando dia após dia o brilho no olhar de pessoas que me rodeiam, que adoecem, endurecem, se moldam a uma realidade que é cruel. E por fim também se tornam cruéis e vão se desumanizando, dia após dia. Eu não queria precisar me arrepender de ver valores significativos em coisas simples da vida só quanto estiver perto da morte, como é o caso de muita gente. Será que não aprendemos nada com tantos relatos?? Será que a vida é mesmo um sofrimento eterno? Será mesmo que a única forma de ter sucesso é tendo um trabalho que te desgasta e te suga as energias e acaba por te colocar pra baixo e destruir a cada dia um pouco da sua auto-estima?

É triste observar e não saber dizer a eles que a vida é muito mais. A mundo é muito maior do que uma empresa. As relações podem ser leves, O dia-a-dia não precisa ser tão penoso, doloroso, cruel. Talvez se um dia todos estes meus textos forem lidos por alguém além de mim mesma, ao menos por uma dessas pessoas próximas a mim, eu consiga chegar próximo de passar a minha mensagem do que acredito da vida, mesmo com só 28 anos de idade. 

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

sobre o desconforto angustiante que é me expor

 muitos sentimentos novos.

me sinto no meio de um mar agitado. problemas por todos os lados, não exatamente relacionados a mim, mas a todos que me rodeiam. e eu no meio tentando equilibrar meus pratinhos, só que essas são as pessoas mais próximas a mim no mundo. e os problemas são graves, ou assim eu sinto. sobre ser esponja, mesmo lutando contra isto. 


bleeding, i'm bleeding. my cold little heart.


a música acabou de falar isso, e é muito o que estou sentindo agora. tenho sofrido pelo problema dos outros -que eu fico tentando repetir mil vezes pra mim mesmo que são 'outros', e não meus. deve ser natural isso, mas não a ponto de eu me sentir sufocada. me sentir pressionada por todos esses lados. acho que eu na verdade não sou tão forte quanto pensam que eu sou. mas eu não aprendi a demonstrar fraquezas, e elas só surgem em forma de explosão quando transbordam... nesses momentos, eu costumo vir aqui, neste diário que mantenho há tantos anos e que já até apaguei coisas.


mas ainda com este espaço pessoal onde posso ser eu mesma e me abrir e tentar me aliviar, sinto que preciso de mais. de alguém pra conversar. uma pessoa fora de mim. nestes últimos tempos tenho sentido muita necessidade de ter uma Analista, a quem eu pudesse estabelecer um fio sobre minha vida, minhas experiências, e tentar verbalizar dentro de alguma linearidade as coisas dentro de mim. minha personalidade, minhas relações, minha infância, minha adolescência, sobre mim. Só sobre mim mesma, sem precisar tentar dar conta sempre das questões dos que me rodeiam. Tenho me sentido só, sentido que sou muito ouvido e muito pouco palavra. Isso é muito sobre a minha personalidade, eu tenho esta consciência. Não aprendi a falar sobre meus sentimentos com ninguém, não aprendi a ser vulnerável (pelo menos não a mostrar tal vulnerabilidade), e eu sou. Escrever realmente é muito mais fácil pra mim do que falar. Mesmo escrevendo só pra mim mesma ler. 


Meus pais viveram uma crise, meu namorado viveu problemas de saúde física e mental, meus irmãos não são tão próximos e eu não sei o que eles passam assim como eles também nada sabem sobre mim. nossa relação é prática, direta, alguns conflitos, mas conseguimos conviver pacificamente a maior parte do tempo - aprendemos, eu acho. mesmo que ainda haja conflitos esporádicos.


conversando com meu namorado - que é com quem tenho conversas mais profundas (mesmo que não tanto quanto as que estabeleço neste espaço virtual), quando ele contava que se sente mal por não ter um lugar fixo, por estar sempre de mudança, e ter sempre que pensar como carregar a "casa" nas costas de uma cidade para outra, e pensar em toda a logística de novo e de novo. que ele não se sente bem na casa da mãe, onde não consegue passar um tempo mais longo sem se sentir muito mal, alguma coisa o afeta.


música delicia que começou a tocar: Black Pumas - Colors (Official Live Session). eu estava um pouco down, estou me sacudindo no ritmo. Um embalo muito agradável :) surpresa boa!


voltando... dessa ultima vez especificamente começaram muitos barulhos que o levaram a uma situação grande de estresse que acabou gerando um ruído intermitente no ouvido dele. dentre muitas outras coisas, questões que ele passou e passa que me fazem sofrer quando me coloco no seu lugar. mas voltando à sensação de não-pertencimento e até de não se sentir em casa em nenhum lugar. eu também sinto um sentimento parecido sobre isto. aprendi a viver em paz na casa dos meus pais, que também chamo de minha. aprendi a conviver em paz com meus irmãos e com meus pais sem que isso me tirasse a paz. mas, ao mesmo tempo, não me sinto mais "em casa" quanto há alguns anos... hoje em dia tenho tenho meu modo de viver dentro de uma casa, discordo de formas que eles mantém tudo um grande "caos controlado" (o maior paradoxo deste texto). mas não tenho e nunca tive um lugar só meu, onde eu me sinta 100% em casa. nunca nem aluguei um lugar com meu proprio dinheiro, sob minha unica escolha. enfim, as vezes duvido se isso vai acontecer algum dia, mas mesmo em uma condição que nunca aconteça (extrema de se considerar, eu sei, mas pra mim é necessário processar isso em meu cerebro e me preparar para conseguir manter minha sanidade), preciso tornar minha realidade suportável pra mim mesma. e por isso, trabalho em tentar manter a paz, respeitar os espaços, saber até onde ir, e tentar sempre aprender a limitar também até onde os outros podem ir sem invadir meu espaço. e nesta parte eu ainda careço de muito aprendizado... 


 enfim, a questão é que: embora eu ame me expressar escrevendo, sinto que há muito (mais) a ser expressado. e os textos precisam ter um mínimo de coesão e coerência em sua construção senão ficam apenas palavras soltas sem sentido algum. e neste sentido, sinto que poder falar sobre as coisas criando uma mínima linha de raciocínio, uma mínima linha do tempo dos fatos, atualmente me faria bem. não conheço uma profissional que possa me ajudar ainda, e sei que sequer tenho dinheiro pra pagar a um período maior, mas queria experimentar ser o centro das atenções por 1 hora, falando sobre mim, ja que escuto tanto sobre os outros e dou meus pitacos. sinto que tenho muita história pra contar, sobre como enxergo as coisas, alguem que pudesse me ajudar em tantas falhas que sei que tenho, meus ímpetos, minhas explosões, minha falta de capacidade em expor fragilidades, falta de capacidade de demonstrar carinho em qualquer pessoa. tanta coisa! queria entender da onde vem tudo que sou, tudo que sinto, tudo que vivo, mesmo que precise passar horas contando muito do que já vivi, minha história, minha vida, infância, todas as fases. tentar buscar. investigar. me expor. a coisa que mais odeio é me expor. isto já diz tanto sobre mim...  se pudesse escolher agora uma frase pra me descrever seria esta: o que mais odeio é me expor. e daí acho que já pode sair muita coisa. preciso explorar. todos estes sentimentos dos ultimos meses me levam a este caminho daqui para frente.

sábado, 25 de julho de 2020

sobre 2020, uma parte do ruído

uma coisa posso dizer sobre mim, à esta altura da vida - ano de 2020, 28 anos completos de vida - e é sobre leveza. Nas relações que tenho com as pessoas, busco ser uma pessoa leve. Busco ter calma, e mesmo em momentos mais surtada, busco não deixar a situação permanecer pesada. Se perco o controle sobre isso por um momento, me preocupo muito em restabelecer o quanto antes possível - claro, respeitando meus sentimentos. Então busco me acalmar, refletir, me distanciar e não ficar sem falar por muito tempo com ninguém, nem insistir na reatividade após uma explosão. Sei que estou LONGE de alcançar o equilíbrio, a perfeição pq conheço bem minha natureza. Mas, hoje me considero uma pessoa leve. E tenho muito orgulho disso, pq por muito tempo não conseguia me notar desta maneira. Já fui uma pessoa com energia pesada, até tóxica, em um tempo que fui passada pra trás e me senti muito mal. Mas, hoje me sinto capaz inclusive de detectar comportamentos tóxicos em relações que não participo. E nesse sentido, por ser alguém realmente próximo a mim, tento disfarçar, tento não me meter tanto, tento me distanciar. Mas, este tem sido o padrão deste ano de 2020.

Ficando mais tempo na casa dos meus pais, com eles, tem sido insuportável notar tantas características de um relacionamento tóxico, e não poder fazer muita coisa, não poder ter o controle e tirar uma pessoa deste lugar de sofrimento. Hoje enxergo nitidamente o que antes eram só suspeitas. Me sinto mal por esconder tudo que percebo, que já vi, por pensar que todos somos pessoas que merecem ser felizes. Não deveríamos ninguém passar por uma vida triste, estressante, insegura, simplesmente por estar ao lado de alguém que sequer nos respeita mais. Fico triste também por, aos 28 anos entender que não quero viver isto nunca e ver alguém que eu amo viver exatamente isso sem conseguir sair ou se impor ou, ou, ou... ter qualquer atitude que restabeleça sua felicidade, seu brilho nos olhos, suas noites bem dormidas e seu prazer de viver.

Eu sei que tenho em mim um brilho, uma alegria de viver que com certeza herdei de meus ascendentes, sei que consigo enxergar beleza em coisas muito simples e não tenho tendência à tristeza e depressão, mas sei também que apesar disso, todos precisamos estar em um ambiente saudável, leve, alegre, recíproco, respeitoso... não merecemos estarmos rodeados de desprezo, egoísmo, obrigações vazias, indiferença, manipulação, inversão de culpas, jogos. E tudo isso é o que vejo acontecer ao meu redor. Não comigo, porque eu não permito mais isso no meu atual relacionamento. E faço tudo o que posso pra ser honesta, transparente e respeitosa. Mesmo com minhas falhas, minha reatividade. Tenho consciência de todos os meus atos e vejo e revejo cada um deles, sempre que tenho a oportunidade.

Sei que, após refletir sobre o meu papel na atual situação, eu devo ser um porto seguro, um amparo, ouvido, e sei que meu posto de escuta é importante. Procuro ao máximo mostrar que ela não está sozinha, que todos merecemos sermos felizes, viemos ao mundo para isso, e precisamos ter coragem pra sair de uma situação que nos cala e não nos agrada mais... pra florescer em outros jardins. Viver outras etapas, experimentar outros caminhos. Ser livres, respirar aliviados enfim. Embora eu gostaria de dizer com essas palavras, o que posso ser é amparo, é calma mesmo sabendo da confusão mental de tudo isso. Hoje me sinto madura para não absorver tudo isso, mesmo sendo algo muito próximo a mim. Mas muitas vezes, como agora, me pego triste por não poder eu mesma resolver e mudar tudo. E fazer com minhas próprias mãos as coisas se resolverem e todos voltarem a ser felizes. Hoje sigo aqui, ao lado, atenta, com o coração bastante apertado, mesmo disfarçando muito bem.


quinta-feira, 11 de junho de 2020

sobre atitudes intoleráveis e inaceitáveis X minha REATIVIDADE

oi, tô aqui hoje de novo.

mas hoje por motivos de: nada orgulhosa do meu curto estopim.
tentei justificar pra mim mesma, mas não adianta... é difícil me auto-enganar.
percebo logo a estratégia e já aceito meu erro, com remorso.
por isso estou aqui, agora.
meu pai me deu uma resposta grosseira. eu, REATIVA ao extremo, comecei a soltar todos os sapos possíveis. entre palavrões, eu emputecida, e sem controle nenhum das minhas ações.
meu pai viu que eu entrei na pilha e continuou as grosserias. mas ele é assim. eu não sou, mas sou reativa. E isso me mata de vergonha. Não gosto de ter o estopim tão curto. Não gosto de perder minha razão. e hoje isso ficou feio.
ele deve se importar pouco pq ele já tem costume de tratar as pessoas assim, de acordo com o humor dele. mas eu agora estou me culpando e me sentindo péssima pela minha atitude.
nem um pouco orgulhosa de mim. eu não precisava escalar na minha raiva, como eu fiz. mas eu já fiz. é muita raiva. e a sensação de não ter nem pra onde correr. tudo o que eu queria era não precisar mais morar aqui. dar a eles o espaço deles, e ter o meu espaço. poder me sentir mais em paz.
aqui tudo é uma preocupação, uma responsabilidade que eu não escolhi, mas enquanto aqui estou tenho a obrigação de colaborar.

às vezes eu só queria estar bem longe deles.

de tempos em tempos essa vontade me consome e eu preciso sair.

já são quase 30 anos. eu preciso sair.

deixo claro que o erro foi a minha reatividade. mas é só porque, pra mim, atitudes assim como as dele, de grosseria, não são aceitáveis pra mim. sinto e percebo com tudo isso que não caibo em um lugar onde isso é aceitável. e é a casa dele, então ele trata como lixo as pessoas o quanto ele quiser.

não é meu perfil, minha personalidade, não é o que eu quero pra minha vida e para as pessoas ao meu redor. sinto muito que fui fraca e explodi feito uma bomba. mas, pra hoje foi o que consegui fazer. mais um dia, mais uma chance de acertar.

sinto vergonha de mim mesma. mas, preciso seguir. e tentar não me crucificar tanto. apesar de já estar fazendo isso.

serão 4 dias de convivência. o primeiro foi hoje e já foi exaustivo, temo os próximos.
mas pelo menos os sinais de atenção já foram ligados hoje. cabe a mim, dar a devida relevância e me policiar nos próximos dias pra não mandar tudo à pqp novamente....

terça-feira, 2 de junho de 2020

lugar arquitetônico

meu quarto na casa que moro com meus pais e um de meus irmãos tem conexão com a copa. A copa é onde fica a guitarra do meu pai, uma caixa de som, e bem integrado, vem a sala, onde tem um violão e um gajon que foi meu pai mesmo quem fez. Todos os outros quartos da casa são um pouco afastados desse "centro" da casa, só o meu fica aqui (por sinal, de onde escrevo isto neste momento). Todos os dias (ou quase) meu pai toca na copa, às vezes cantamos com ele, mas muitas vezes ele toca e canta sozinho mesmo. E fica ali, no momento dele, tranquilo, tocando guitarra, ou violão e cantando junto. E esta é a trilha sonora do meu quarto. Eu poderia fechar a porta pra continuar vendo as coisas que faço no computador, mas em geral eu mantenho aberta e gosto de ouvir. Tão natural quanto a luz do dia (última música que ele estava cantando agora) é a música dele me acompanhar no meu quarto. Aos finais de semana ele costuma me acordar com o som do violão ou da guitarra. Minha porta é oca, tem gretas grandes com o piso, então eu sempre acordo. Mas não me lembro de ter reclamado... Escuto minha mãe pedindo pra ele parar pq eu estou dormindo ao lado (na verdade sei que ela o pede pra parar pq ela não gosta de ouvir mesmo, rs), dou uma risadinha só pra mim e sei que ele não vai parar, vai tentar diminuir rs, mas o instrumento é aquilo, não fica mais baixo... Enfim, já faz parte. Se não tem esse som acompanhando, está silêncio demais. E aí sim me incomodo.


Arquitetonicamente ainda, esta casa é da minha avó, foi onde meu pai cresceu e onde eu estive grande parte da minha vida. Na casa da minha avó Lica, dormíamos com ela quando foi ficando mais velha e não podia mais estar sozinha durante as noites. E ela nos tratava, a mim e meus irmãos, feito rainha e reis. no frio colocava o chuveiriho quentinho na pia em uma gambiarra que sempre funcionou para que pela manhã, antes de irmos para casa, lavassemos o rosto e escovássemos os dentes com água quentinha... a água fria cortante do frio de ouro preto ela tinha a preocupação de evitar que precisássemos lidar. Detalhes... que valem ouro pra quem aprecia ver a vida através deles. Voltando para a questão espacial, o meu quarto hoje em dia é o quarto que minha avó chamava de "quarto de costura", onde ela guardava o material de costurar, tesouras diversas, linhas, agulhas, moldes, revistas antigas, a máquina de costura, retalhos muitos, outra mesa grande, armários e prateleiras cheias de coisas diversas, armarinhos, prateleiras, e uma cômoda com os santinhos e orações dela. Por sinal, esta cômoda ficava exatamente onde estou sentada, escrevendo em meu notebook sobre minha mesa. Lembro de lê-la rezando aqui, acendendo velas, mexia nos seus grampos e o pente sempre tinha uns cabelos, que eu tirava às vezes. Aqui aprendi a usar a máquina de costura dela. Pegava por vezes a tesoura de picotar que ela tinha na gaveta da mesa grande que tinha aqui do lado. Lembro tambem que atrás da porta tinha um porta sapatos pendurado na porta, e lembro dos sapatos dela, mulher alta, tinha os pés grandes, devia calçar 39, se não me engano. Aqui também tinha uma cama. Tinha lugar pra tudo isso. Era o cantinho da casa que, parando agora para pensar, mais tem a personalidade dela, os passatempos, as coisas que ela sabia fazer, os hábitos. Recordações. E hoje este é o meu quarto. Hoje só tenho aqui uma cama de casal antiga dos meus pais, uma mesinha lateral que eu reformei e pintei, um guarda-roupa grande até demais, uma cadeira e minha mesa de muitos anos, que tanto gosto. E olha que hoje o quarto é maior porque ampliamos cerva de 1 metro da varanda que fazia uma curva. E antes parecia caber tanta coisa mais.... e era menor... tudo era menor, tudo era mais simples. E eu também era menor, então em minha memória tudo parecia gigante, espaçoso, e também porque ali tinha e tem muita memória. Coisas que os centímetros não são capazes de compensar, porque além da minha memória visual espacial, tem a parcela de saudade e imaginação que torna tudo mais incrível ainda que menor e mais humilde. Que saudades da minha avó, de ser criança, adolescente e vir pra cá sempre que me desentendia com meus pais. E era sempre recebida pela minha avó por quem sou apaixonada e espero um dia a encontrar em algum lugar. Às vezes sonho com ela, os primeiros eram meio nublados pq eu não entendia o que se passava, mas os mais recentes tem aquecido muito meu coração. São mais claros pra mim e mais cristalinos.

Hoje moramos na casa dela e neste momento exato meu pai está tocando Handy man, James Taylor. e essa poesia que ele carrega em forma de música eu carrego de tantas maneiras... música é uma delas, mas muitas outras também. Minha sensibilidade é muito facilmente perceptível. Isso me faz lembrar uma série que vi recentemente, no início da quarentena, chamada Anne with an E, ainda pretendo escrever exclusivamente sobre ela, porque até hoje não consigo lembrar de nada relacionado a ela sem chorar, e não é pouco... A série me acessou em locais que nem eu sabia que seriam tão intensos e tão delicados e tristes e inconformados e lindos e, como um sopro, eu não consigo mais me desvencilhar de Anne... mas ainda escreverei um texto só sobre o que foi assistir a esta obra prima, a meu ver, tão potente e tão delicada ao mesmo tempo.

Por hoje é só, espero vir aqui mais vezes, porque aqui me sinto totalmente livre e sei que posso deixar as palavras fluírem sem medo, sem julgamentos.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

pensando Paulo Freiro na minha criação...

escrevo esse blog há 10 anos e o nome dele não podia ser melhor. Muito bem, Luma de 18 anos!
e apesar de todas as complexidades do meu ser que despejo aqui algumas vezes por ano, às vezes só quero trazer constatações e aspectos que observei e observo ao longo da minha vida, em relação a mim mesma e à minha interação com as pessoas, amigos, família, namorado. E, óbvio: tudo sempre de acordo com meu olhar para todas essas coisas.

algo que me orgulho muito da minha criação e dos meus irmãos por minha mãe e meu pai é sobre o suporte mental que sempre nos foi fornecido no que tange ao desenvolvimento das nossas personalidades. Não crescemos em moldes seja por idade, gênero, nada. Crescemos questionadores, com respeito, claro, mas sempre tivemos voz. Meu pai foi professor muitos anos e ele tem a didática na essência. Ele sempre tenta ensinar aproximando os assuntos do que é palpável pra gente, individualmente. Seja com mais ou menos paciência, tem certas coisas que acompanham a essência, e a dele é essa: a de passar o que sabe. Incentivar. Apreciar pequenas vitórias. Claro, há problemas também! Ninguém está isento disso, mas é bonito tentar me distanciar agora e olhar essa sorte que tivemos, eu e meus irmãos, de sermos filha e filhos de um pai educador. Minha mãe, por outro lado, sempre leu muito, mesmo com a origem super simples, ajudando a mãe em casa enquanto os irmãos foram estudar. Ela é esse coração, essa conexão com as humanas (enquanto meu pai nos conecta com as exatas como um nato educador leitor de Paulo Freire -sem ele nunca ter de fato lido Paulo Freito- como eu disse, é essência, ele trouxe das suas próprias vivências, que sempre conta com empolgação dos vários professores que teve). Minha mãe não é dos números, ela é das ideias contraditórias, da fé, na confiança, da emoção. E isso é um outro universo essencial ao ser humano, afinal não somos réguas, não somos calculadoras, não trazemos as respostas sempre exatas. Há que se considerar que o o mundo é, sim, contraditório. Nós todos somos. E o poder de reconhecer tais fatos dificilmente reside em quem é de exatas,mas em quem tem a sutileza ou cautela de enxergar como somos errôneos e por isso mesmo, poderosos, ricos e interessantes pessoas.

Ter crescido com estas forças trouxe, é claro, conflitos, mas que sempre puderam ser trazidos à mesa. Não somos a família perfeita, mas somos uma família foda, forte e poderosa em nossas características. Cada um com as suas potencialidades e desafios, mas sempre únicos.

Hoje era só isso, queria exaltar a minha criação.

domingo, 3 de maio de 2020

sobre minha mãe

por isso tudo o que eu não quero é punir a minha mãe por esse entendimento distorcido e por se culpar por tudo e carregar sozinha a dupla jornada. minha tristeza é justamente pela impotência de fazê-la enxergar que ela não deveria carregar isso. que ela deveria responsabilizar realmente  o filho mais novo e não só limpar mau feito por 10 minutos e pronto, a consciência dele foi aliviada. a casa? a casa depois ela volta lá e faz tudo de novo, só que dessa vez bem feito. 

muito difícil essa sociedade. 

"Você deve estampar sempre um ar de alegria e dizer: tudo tem melhorado" ?

hoje tivemos um conflito em casa, eu, meu irmão e minha mãe. ela não era o cerne da questão, minhas provocações eram diretamente para o meu irmão mais novo que, embora pergunte o que pode fazer em relação à limpeza da casa, o faz sempre de qualquer jeito. Sem a dedicação que eu e minha mãe fazemos. Ele faz sempre da mesma forma, não importa o quê, não se dá ao trabalho de retirar os móveis para varrer, limpar por baixo, enfim, ele faz, a meu ver, pra aliviar a consciência de deixar tudo por minha conta e da minha mãe. Infelizmente, o que ele faz está de bom tamanho para a minha mãe, mas eu vejo ainda como insuficiente. Hoje eu iniciei o conflito porque vejo sempre que eles tem conversas sussurradas pra que eu não ouça. Hoje isso aconteceu e eu já estava chateada por ver que a "ajuda" que ele deu na limpeza não durou 10 minutos e pronto, estava "feito". Ou seja, quem fez tudo na verdade foi minha mãe e ele saiu com a consciência tranquila de que a parte dele havia terminado. Eu já venho engolindo isso há dias. A minha parte, que me proponho a fazer por completo e com bastante qualidade estava apenas no começo. Então, percebo outras conversinhas deles, claramente com meu nome envolvido, mas que o objetivo era ser às escondidas. Relacionado ao fato de ir à farmácia comigo junto. Eles falavam algo como ir agora que daí depois não precisaria ir comigo. Aproveita e usa a desculpa de que vai pegar um sorvete para sobremesa. Quando confrontei, minha mãe disse que a questão era simplesmente o sorvete, que eu reclamaria de tal gasto. (?) Como se eu tivesse alguma moral pra obrigar alguém aqui em casa a comprar ou não alguma coisa. Isso nunca aconteceu com um sorvete. Minha mãe é boa com mentiras. Eu também sou, confesso. Mas, alguma coisa ali naquela conversa sussurrada me soou tristemente uma fingimento, uma falsidade que eu me senti acuada. E assim comecei a jogar no ar todas as questões que acho do Antonio. Acusei o machismo que existe aqui e obviamente fui invalidada. Mas não importa, não é algo que eu não espere, mas é algo que me cansa muito ultimamente. Uma discussão recorrente, cansativa, desgastante. Nesse conflito, expliquei que o problema não era minha mãe, e de fato não era. Mas, ela prefere pegar a responsabilidade da situação pra ela e começa a me acusar e a dizer que sempre que eu faço alguma coisa na casa, dia de faxina e tal, eu brigo. E que, segundo ela, eu brigo porque estou fazendo de má vontade a limpeza. Me sinto injustiçada porque eu realmente não faço isso como forma de reclamação da função. Realmente, e aqui eu juro que não é. Ela encara assim e acusa minha "ajuda" de escomungada. E que eu faço inferno sempre que é o dia de limpar e etc. E sim, quando é dia de limpar vemos as tarefas claramente definidas na casa. Minha mãe se desdobra pra fazer tudo e o resto finge que "ajuda", pra aliviar a consciência. No fim ela é sobrecarregada, porque trabalha muito dentro e fora de casa. Dupla jornada, tripla. Eu faço o que posso pra tomar responsabilidade de algumas funções pra tentar diminuir a carga sobre ela, só que ao contrário do que vejo Antônio fazendo, eu dou o meu melhor pra ficar bem feito porque SEI que se eu não fizer, ela provavelmente não vai reclamar e vai lá fazer do jeito que ela acha melhor. Conclusão: de todo jeito ela precisou fazer e foi sobrecarregada da MESMA FORMA, a única diferença é que a minha consciência estaria tranquila, injustamente. É isso que o Antonio faz, esse cinismo, esse tampar o sol com a peneira é o que me incomoda e eu certamente não sou a pessoa que vai deixar isso acontecer calada. Não faz meu perfil, e nunca fez. Pra mim é um mau caratismo e uma conveniência que não faz parte do que eu sou. Antonio claramente se aproveita da obrigação que minha mãe acha que ela tem enquanto mulher, mãe de família. E, a meu ver, ele não é mais criança e não tem mais que ser anestesiado em toda essa situação, até porque ele conhece as questões sociais em que tudo isso está inserido. A minha maneira de atravessar um conflito em que eu sou agente ativo, é uma maneira combativa, reativa, emocionada. Eu choro quando estou com raiva. Ali, hoje, era uma mistura de raiva com desapontamento. Raiva de enxergar o cinismo do meu irmão e desapontamento por ser colocada em teste a minha atuação nas tarefas domésticas, coisa que não e meu intuito me livrar de ter de fazer. ORA, eu moro nesta casa, não estou trabalhando e atualmente nem estudando devido à quarentena. A nuance aqui é outra. Fui descreditada por me expressar chorando, como se eu quisesse emocionar alguém. Não, eu não quero. Só que eu SEMPRE fui assim, sempre choro ao expressar emoções fortes, seja ela qual for. E é só, não precisa ter dó, porque eu jamais me coloco nessa situação. Erroneamente, até. Mas, sim, de fato isso aparenta uma fragilidade minha. E tudo bem! O que é mais uma vez lamentável é entender essa situação como se eu usasse isso ao meu favor e assim, descreditasse tudo o que eu estava dizendo. Na minha casa, é proibido ter emoções, é proibido tudo o que é relacionado a demonstrar o lado humano. A única forma de expressão considerada honrada e digna é a força. Ter força, segurar o choro, manter o prumo sempre. Às vezes ser agressivo é permitido, mas depende de quem, dependendo de quem for também será imediatamente descreditado. No auge do conflito, minha mãe quis sair, pegou o carro de saiu correndo pra não precisar me ouvir mais, porque eu estava tirando a paz do ambiente. Na minha casa o certo é fingir que tudo está bem. Guardar os desconfortos pra si, cada um o seu. Evitar confrontos, debates. Nada pode ser melhorado. Tudo está perfeito. E eu não vejo assim e às vezes vejo importância em debater, em questionar. Só é uma pena que eu sempre confronto quando já estou no meu estopim. Minha mãe saiu pra um lado de carro, meu irmão pra outro de moto, e eu fiquei sozinha terminando de limpar o chão. Falei que eu ia sair de casa. Sei que essa é sim a solução, só que eu ainda não sei o que fazer, de que maneira sobreviver. Mas só assim eu terei paz porque minha forma de ver as relações entre pessoas é muito distinta da forma como eles vêem. Acho que todos meus esforços são à toa, infantis, porque no fim, já deu o tempo de eu sair de casa. E aí as relações aqui restarão como sempre foram. Minha mãe explorada, meu irmão mais novo fingindo que ajuda, meu pai cumprindo o papel de quem sempre teve uma mulher pra fazer todas as tarefas domésticas. No caso do meu pai, tenho tantos pareceres meus aqui sobre ele... Mas, ele cresceu realizando tarefas mais pesadas, de construção, capina, consertar coisas, manutenção nas casas. Ele resolve todas essas questões e apesar de não colaborar nada em casa, não finge que o faz e tem uma atuação marcante nesse outro lado. Compensa? Não sei, talvez não. Mas pode ser que sim. Já meu irmão mais novo (que é o único que também mora na casa dos meus pais) não faz nada disso, a não ser quando meu pai quase implora por uma ajuda em algo que ele não consegue fazer sozinho. O que tem sido raridade.
Foi triste ver que minha mãe resume tudo a isso a eu querer me livrar das tarefas. E assim, ela "resolve" o conflito se ausentando. Os sussurros com meu irmão agora devem ser sobre como eu sou temperamental e emocionada e enciumada. Uma pena, um desapontamento.
Percebo que sempre a melhor maneira é calar. Engolir o choro. Engolir o descontentamento. O silêncio é confortável. Mas sabem que por trás desse silêncio tem tanta coisa... tanta coisa estranha, alguns podres, exploração, abusos, coisas muito mais emocionadas que um choro de desabafo.
Eu sei que essa é uma forma de sobrevivência que eles encontraram, e o incômodo existe quando eu tento mudar alguma coisa nessa ordem estabelecida. Meu approach não é o ideal, eu sei, mas as coisas são como elas são. No mundo ideal uma conversa resolveria. No mundo real, essa conversa é uma piada.
Eu deveria aprender a ficar calada, e até fico às vezes, mas o talento pra fingir que TUDO vai bem, tudo legal não mora em mim. Não sou eu. E não vou criar um câncer em mim por esse hábito de fingir e de fingir que tudo vai bem, tudo legal. Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé, se acabaram com o seu carnaval?

segunda-feira, 13 de abril de 2020

tentando caber, mas hoje dei uma transbordada...

o nome desse diário é "pra caber em mim", e sinto que venho aqui justamente quando começo a transbordar e a pensar que não vou caber.

meu pai continua trazendo uma grande carga mental para mim. sei que eu preciso aprender com isso e crescer. preciso controlar toda a minha ansiedade que grita em momentos assim.

a verdade é que eu me sinto no meio de um cruzamento de informações, que se contradizem e então eu  não sei o que fazer. fico paralisada, e por dentro, segurando para não surtar.

vou tentar colocar em palavras um pouco do que tem sido.

meus pais tem alugueis, que são eles quem controlam. minha mãe sempre fez os contratos, eles sempre levaram as coisas assim. há um tempo, talvez uns 5 anos aproximadamente, eu comecei a ver que podia ajudar nisso. pensei isso para que a carga em cima deles diminuída mesmo. me vi nesta obrigação. nunca fiquei com 1 centavo de alugueis, nunca pedi, nunca foi essa a questão. eu fui me tornando uma pessoa muito empática, e perceber essa sobrecarga neles quando eu já tinha idade para colaborar me fez começar a aprender e a me inteirar do que acontece. comecei a fazer os contratos para eles, tirava as fotos os espaços, divulgava, mostrada para os inquilinos etc. eu conseguia alugar as coisas rápidas pq acabei aprendendo a divulgar nos meios que funcionam na minha cidade.

de um tempo pra cá, meu pai começou a se incomodar por eu sempre fazer o esforço de enxergar as coisas de forma mais justa pra eles! o meu pai sempre cedeu muito para os inquilinos todos e eu via muitas vezes as pessoas se aproveitando do medo que o meu pai tem de imóvel ficar vazio e etc.

ele passou a se incomodar com minhas interferências, com minhas sugestões, com minhas tentativas de encontrar um meio termo em situações totalmente atípicas, como é o caso recente da Pandemia que estamos vivenciando.

Por muitas vezes eu tentei me afastar por completo dos assuntos relacionados aos alugueis por perceber que aquilo não me fazia bem, pq incomodava meu pai, eu tentava cumprir os combinados, os contratos, e muitas vezes eu ficava sozinha em um argumento e meu pai logo cedia para o inquilino se aproveitar. foram inúmeros abusos nesse sentido. e eu sempre tentando "equilibrar os pratinhos" e aceitar tudo sem que isso me afetasse mentalmente. mas a tarefa se torna difícil quando na primeira oportunidade meu pai me dá responsabilidades nisso tudo, as mesmas de sempre, contrato, recibo, fotografa, divulga, marca de mostrar a a casa, responde contato de interessados, enfim. tudo, né?! ao mesmo tempo que eu tento não me envolver para não chateá-lo com minhas opiniões e valores e tb para preservar minha saúde mental nisso tudo; eu recebo responsabilidades dadas por ele e pela minha mãe (que tem o pensamento muito mais próximo do meu e eu não tenho nenhum problema ou desgaste nesse sentido). Ao receber essas responsabilidades, me sinto na obrigação de ser útil e colaborar. Talvez eu precise disso no meu atual momento de vida, porque não estou trabalhando, estou fazendo processo seletivo para mestrado (com tudo parado devido à pandemia), logo, estou bastante tempo livre, e eu poderia e na minha concepção deveria aliviar a carga deles. além de me ocupar, já que isso não me causaria nenhuma sobrecarga e afins.

EU SEI que o melhor a fazer é sair de casa, me distanciar completamente, financeiramente, emocionalmente um pouco pra conseguir ter paz. mas no momento isso não é possível para mim, e então tem sido difícil ver onde me firmar. o que é coerente de ser feito.

no meio termo, já que não tenho para onde ir nesse momento, vejo que a melhor saída é dar um passo atrás e sempre tentar não me envolver. fazer o que me é pedido e calar a boca, como um robô, que serve, trabalha, sem dar opinião, sem ser considerado em nada, afinal, eu tenho teto, eles me dão, e esse é o meu pagamento. eu tenho que me dar por satisfeita com isso. inclusive é uma boa casa, ou seja, "pobre menina classe média sustentada pelos pais".

também sei que diminuir minhas dores não vai resolver, porque eu só tenho essa vivência. não posso dizer que vivo outra realidade, não posso me posicionar em outras realidades com lugar de fala senão a minha, e tento ser muito realista com tudo. com meus privilégios e minhas dores. tendo não me colocar em um lugar de injustiçada, vítima, pq eu não sou. mas eu tb PRECISO considerar minha saúde mental, minha sanidade, pq não quero cultivar uma doença, ou desenvolver uma ansiedade por ter fingido o tempo inteiro que tudo está bem. Já basta eu fazer isso com minha família (ser um robô que não sente absolutamente nada), comigo mesma eu preciso ser honesta e respeitar minhas angústias. É nisto que este espaço secreto me é absolutamente necessário. sem este espaço, eu iria me afundar em pensamentos soltos e nunca colocaria em ordem, em texto, nunca teria como comunicar como está tudo por dentro.

Só de escrever até aqui meus sentimentos já se transformam, eu me acalmo. e vejo que preciso aceitar as pessoas como elas são. Talvez meu pai me veja como uma funcionária, e talvez eu deva mesmo aceitar esse posto, até ser capaz de sair de casa. Fico chateada de não ter minha opinião sequer ouvida, ser calada o tempo todo com bastante má vontade, caras muito ruins. Levo tudo isso muito a sério, não sei se deveria. Mas, eu tento ser correta, me esforço pra encarar melhor as situações. Mas, às vezes, pelo meu pai sinto que tudo que faço é nada. e eu sei, é um ciclo, eu vou ao meu limite assumindo responsabilidades, meu pai enxerga como nada mais que minha obrigação (ok), mas quando eu me posiciono de alguma forma diferente dele, tudo é desconsiderado e eu me transformo aos olhos dele na filha mimada que se mete demais... "espera eu morrer pra você mandar" já ouvi muito isso. Um conflito forte, que só vai parar de existir quando eu aprender a achar o meu eixo em todas essas contradições, ou simplesmente me abster, mudar de casa, de cidade, de país, e aí travar minhas próprias e outras batalhas, totalmente desvinculada do meu pai.

a minha mãe é onde eu tenho alguém que eu confio com todos os átomos do meu ser, todos os pensamentos, tudo. com ela consigo conversar em pé de igualdade, democraticamente. ainda assim, mantendo o respeito e tendo em vista que ela é a pessoa que vou proteger o resto da minha vida. nós podemos discordar em paz. sabemos fazer isso, sem sermos tóxicas uma para a outra. graças a Deus eu tenho a minha mãe. e no que depender de mim, ela sempre vai me ter como um grande porto seguro também.

que eu fique em paz.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Ano passado eu morri, mas esse ano eu NÃO MORRO.

"Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte
Porque apesar de muito moça me sinto sã e salva e forte
E tenho comigo pensado, Deus é brasileiro e anda do meu lado
E assim já não posso sofrer no ano passado
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro"

Vinte Vinte chegou. 2020
Tantas são as reflexões. Tantas são as considerações...
Isso eu não perdi e espero cultivar sempre. Vou. Preciso. Porque eu sou energia. Sou riso. Sou vida. Volume. Atitude. A Luma andou meio tímida, meio morta, meio insegura e triste. Uma tristeza com a qual ela aprendeu a conviver e tornou-se parte da sua verdade íntima. Íntima porque só ela, alguns familiares, amigos talvez alguns também. Mas, a realidade é que ninguém percebeu. Ela manteve o riso fácil e solto. A simpatia e a vontade de fazer o outro se sentir um pouco melhor no que dependesse dela. Apesar de muitas brigas, embates, confrontos a enrijecessem por um momento (e certamente isso também a transformou), mas a memória para os rancores sempre foi quase NULA com ela. Depois ela pode até se arrepender de não ter sido mais dura, ou mais indiferente. Mas, isto não definitivamente não a representa. Então ela não consegue ser. Simples. TODOS os campos da vida tem sido difíceis. Tudo tem sido assim há algum tempo. Muitas perguntas. Algumas bastante retóricas. É que a Luma pensa que sabe ver as coisas de fora e por isso se condena bastante, todo o tempo. Ela não se considera agente passivo de nada. Se responsabiliza por tudo, inclusive por suas dificuldades. [Pausa]

Tenho um medo ultimamente. Na verdade é algo que pensei durante a viagem de Sorocaba para casa, na última madrugada. Um medo de ir deixando de sentir, deixar de me importar. De ver as coisas, o mundo com leveza, beleza. De ver um por do sol. De ver cenas nas ruas e não me emocionar. De gostar de ler poesia e querer logo escrever aquilo em algum lugar, só pra deixar gravado tais palavras bonitas. Uma música. Uma viagem. Uma paisagem. Uma troca de olhares entre amigos, irmãos, mãe, pai, familiares. Desconhecidos. Medo de perder o "olhar com delicadeza" porque o mundo é duro demais pra isso. 

Me acostumei a brigar demais pra conseguir ser ouvida. Sei que sempre fui intensa em discussões e sempre quis colocar minhas ideias no debates com os que tenho intimidade. Mas sinto que perdi o fôlego muitas vezes e só me restou chorar durante, depois. Solitária. Brigar e gritar até perder o fôlego. Até fazer doer a cabeça. Nisso, a beleza vai se esvaindo. A calma, o amor nas pequenas coisas. O ar. A música vai ficando sem poesia. Perde a cor. Perde o brilho pra mim, que sempre fui tão sensível pra música, pra arte, pra movimento, pra coisas que carregam sutilezas vivas.

Ouvir Graveola, Ler Fernando Pessoa. Manoel de Barros. Ouvir muita música. Ir pro Sagarana dançar e beber feliz da vida com amigos. Rir e flertar com um, com outro e no fim só aproveitar e lembrar e rir.

Sinto que esse momento é, sim, diferente. Não posso ressuscitar fases. Preciso aceitar que passou, e graças ao UNIVERSO eu tive uma juventude muito bonita, regada a amigos, música, arte e andanças. Hoje aos quase 30, a vida adulta não parece ter chegado tão bem assim. Ainda não me adaptei. Sinto, escrevendo tudo isso, que minha dificuldade por entender o tempo das coisas é grande. Amadurecer. 
Mas talvez eu esteja pensando todo esse tempo em que andei meio sem vida e "morta", seja porque ser adulto deve significar ser DURO, e perder a poesia. Deixar pra trás a crença nas coisas sutis, belas, quase tolas. Bobas. Mais que enchem o coração.
"E viveu uma semana
Foi-se o ano, foi-se Ana
Destinada a caminhar os seus passados lentos
Sem trabuco, sem trambique
Ana ia com seu pique
Seu destino a transitar, sertão, cantiga e vento
Ela foi um desacato, um descarrego
Tantos regos
Refletindo seus momentos, santos sentimentos
Ela não podia crer nos deuses
Madre Pedra, Padre Zé
Na lua viu jornadear
Lua de sonho, lua de vida
Por onde passei senti o seu destino amargurado
Pequeno, coitado, calado, jorrado
Seus mimos, seus sinos, seus anos passados
Na vida, amaciar dureza
Na vida, amaciar
E viveu uma semana
Era Ana, eram anos
Quanta vida enclausurada nesse mundo tempo
Era a cor dos seus cabelos
Tantos erros, tantos zelos
Vida a passar os…"

Quero encontrar meu equilíbrio em 2020. Ou começar a encontrar...
pra isso quero voltar a ter tempo para as sutilezas, delicadezas. Procurar não perder o fôlego em confrontos, mas sim em uma frase bonita que vou logo escrever pra guardar comigo.