sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Ano passado eu morri, mas esse ano eu NÃO MORRO.

"Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte
Porque apesar de muito moça me sinto sã e salva e forte
E tenho comigo pensado, Deus é brasileiro e anda do meu lado
E assim já não posso sofrer no ano passado
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro"

Vinte Vinte chegou. 2020
Tantas são as reflexões. Tantas são as considerações...
Isso eu não perdi e espero cultivar sempre. Vou. Preciso. Porque eu sou energia. Sou riso. Sou vida. Volume. Atitude. A Luma andou meio tímida, meio morta, meio insegura e triste. Uma tristeza com a qual ela aprendeu a conviver e tornou-se parte da sua verdade íntima. Íntima porque só ela, alguns familiares, amigos talvez alguns também. Mas, a realidade é que ninguém percebeu. Ela manteve o riso fácil e solto. A simpatia e a vontade de fazer o outro se sentir um pouco melhor no que dependesse dela. Apesar de muitas brigas, embates, confrontos a enrijecessem por um momento (e certamente isso também a transformou), mas a memória para os rancores sempre foi quase NULA com ela. Depois ela pode até se arrepender de não ter sido mais dura, ou mais indiferente. Mas, isto não definitivamente não a representa. Então ela não consegue ser. Simples. TODOS os campos da vida tem sido difíceis. Tudo tem sido assim há algum tempo. Muitas perguntas. Algumas bastante retóricas. É que a Luma pensa que sabe ver as coisas de fora e por isso se condena bastante, todo o tempo. Ela não se considera agente passivo de nada. Se responsabiliza por tudo, inclusive por suas dificuldades. [Pausa]

Tenho um medo ultimamente. Na verdade é algo que pensei durante a viagem de Sorocaba para casa, na última madrugada. Um medo de ir deixando de sentir, deixar de me importar. De ver as coisas, o mundo com leveza, beleza. De ver um por do sol. De ver cenas nas ruas e não me emocionar. De gostar de ler poesia e querer logo escrever aquilo em algum lugar, só pra deixar gravado tais palavras bonitas. Uma música. Uma viagem. Uma paisagem. Uma troca de olhares entre amigos, irmãos, mãe, pai, familiares. Desconhecidos. Medo de perder o "olhar com delicadeza" porque o mundo é duro demais pra isso. 

Me acostumei a brigar demais pra conseguir ser ouvida. Sei que sempre fui intensa em discussões e sempre quis colocar minhas ideias no debates com os que tenho intimidade. Mas sinto que perdi o fôlego muitas vezes e só me restou chorar durante, depois. Solitária. Brigar e gritar até perder o fôlego. Até fazer doer a cabeça. Nisso, a beleza vai se esvaindo. A calma, o amor nas pequenas coisas. O ar. A música vai ficando sem poesia. Perde a cor. Perde o brilho pra mim, que sempre fui tão sensível pra música, pra arte, pra movimento, pra coisas que carregam sutilezas vivas.

Ouvir Graveola, Ler Fernando Pessoa. Manoel de Barros. Ouvir muita música. Ir pro Sagarana dançar e beber feliz da vida com amigos. Rir e flertar com um, com outro e no fim só aproveitar e lembrar e rir.

Sinto que esse momento é, sim, diferente. Não posso ressuscitar fases. Preciso aceitar que passou, e graças ao UNIVERSO eu tive uma juventude muito bonita, regada a amigos, música, arte e andanças. Hoje aos quase 30, a vida adulta não parece ter chegado tão bem assim. Ainda não me adaptei. Sinto, escrevendo tudo isso, que minha dificuldade por entender o tempo das coisas é grande. Amadurecer. 
Mas talvez eu esteja pensando todo esse tempo em que andei meio sem vida e "morta", seja porque ser adulto deve significar ser DURO, e perder a poesia. Deixar pra trás a crença nas coisas sutis, belas, quase tolas. Bobas. Mais que enchem o coração.
"E viveu uma semana
Foi-se o ano, foi-se Ana
Destinada a caminhar os seus passados lentos
Sem trabuco, sem trambique
Ana ia com seu pique
Seu destino a transitar, sertão, cantiga e vento
Ela foi um desacato, um descarrego
Tantos regos
Refletindo seus momentos, santos sentimentos
Ela não podia crer nos deuses
Madre Pedra, Padre Zé
Na lua viu jornadear
Lua de sonho, lua de vida
Por onde passei senti o seu destino amargurado
Pequeno, coitado, calado, jorrado
Seus mimos, seus sinos, seus anos passados
Na vida, amaciar dureza
Na vida, amaciar
E viveu uma semana
Era Ana, eram anos
Quanta vida enclausurada nesse mundo tempo
Era a cor dos seus cabelos
Tantos erros, tantos zelos
Vida a passar os…"

Quero encontrar meu equilíbrio em 2020. Ou começar a encontrar...
pra isso quero voltar a ter tempo para as sutilezas, delicadezas. Procurar não perder o fôlego em confrontos, mas sim em uma frase bonita que vou logo escrever pra guardar comigo.

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