surpresas.
e porquê de eu não gostar delas.
surpresas me causam ansiedade, o fato de eu não me preparar psicologicamente para uma situação, principalmente quando isso demanda de mim uma ação rápida e, pior ainda, sendo exposta enquanto processo as informações... me faz sentir completamente desconfortável. por isso resumo tudo ao fato de preferir evitar surpresas.
um desses fatos ocorreu ontem em minha casa, e não foi diretamente a mim, mas a alguém muitíssimo próximo. ele foi advertido pela 2ª vez e já foi desligado do cargo. foi de empregado a desempregado. saiu para trabalhar pela manhã e retornou precocemente na hora do almoço, surpreendendo a todos. O que me incomodou foi notar que ele estava chateado. Como já falei em outros textos, prefiro eu mesma sofrer algumas chateações do que ver algumas pessoas sofrerem. Isso porque eu consigo ter um diálogo muito íntimo comigo mesma, e consigo saber e enxergar o meu valor, independente de situações. E algumas pessoas muito próximas a mim sinto que têm seguranças em coisas específicas que, se estas desandam, levam consigo auto estima... principalmente em uma geração que vê no trabalho para seus respectivos patrões a única maneira digna de se viver. E sim, precisa ser trabalho para terceiros, porque o funcionário público é tido como menos digno porque ele não precisa sofrer tanto quanto os trabalhadores privados sofrem e se submeterem a tudo que estes outros passam.
fico afetada por uma situação como esta, porque eu vejo o valor da vida em coisas muito menos financeirizadas e relações muito menos tóxicas. e pra mim, este deveria ser o sentido da vida, e este assunto deveria ser mais abordado nas famílias. sei que estou falando de um lugar de privilégio e nunca foi meu interesse falsear isso. muito menos ostentar. mas a questão aqui é que, ainda com os privilégios que concederam a minha família um "plano B" de sustento graças à visão de anos atrás lá com minha avó, de construir algumas casas de aluguel, mesmo com certa estabilidade, a ideia de subserviência e de ver o trabalho para empresários terceiros como a única maneira de viver dignamente, persiste.
E assim, situações constrangedoras são sempre mantidas e reiteradas. Tais relações, inclusive diretamente afetadas por posicionamentos políticos, acabam por ir tirando dia após dia o brilho no olhar de pessoas que me rodeiam, que adoecem, endurecem, se moldam a uma realidade que é cruel. E por fim também se tornam cruéis e vão se desumanizando, dia após dia. Eu não queria precisar me arrepender de ver valores significativos em coisas simples da vida só quanto estiver perto da morte, como é o caso de muita gente. Será que não aprendemos nada com tantos relatos?? Será que a vida é mesmo um sofrimento eterno? Será mesmo que a única forma de ter sucesso é tendo um trabalho que te desgasta e te suga as energias e acaba por te colocar pra baixo e destruir a cada dia um pouco da sua auto-estima?
É triste observar e não saber dizer a eles que a vida é muito mais. A mundo é muito maior do que uma empresa. As relações podem ser leves, O dia-a-dia não precisa ser tão penoso, doloroso, cruel. Talvez se um dia todos estes meus textos forem lidos por alguém além de mim mesma, ao menos por uma dessas pessoas próximas a mim, eu consiga chegar próximo de passar a minha mensagem do que acredito da vida, mesmo com só 28 anos de idade.
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