Lá estava ela. E ele. Ela com ele. Casal bonito. Fiquei muda por um momento, e então não me espantei mais: é Carnaval! No fundo minha cabeça dava voltas, contorcendo-se em dor e em vazio. Mas, não deixei perder o movimento e dançava. Cantava. Ria. Era minha obrigação sorrir: é carnaval. Por dentro só conseguia me sentir uma patética. Doce patética.
Do mesmo tamanho que minha dor, lá estavam os dois. O casal bonito, visivelmente perfeito. Movimentos poéticos. E eu com cara de quem se segurou tanto e tanto mentalmente pra quê? Nada. Meus amigos perceberam a proporção e pegaram a briga pra si. Fiquei pior ainda por dentro. Por fora, linda, animada, sorridente. Dançando bêbada feito uma idiota que tenta extravasar o que há dentro que machuca mas não transparecendo o que causa; a energia é transformada em vigor. Força. Euforia. Não há meios termos. O que há é uma moça despedaçada que pensa estar equilibrada. Todas aquelas palavras da sexta-feira tinham sido um surto pra uma doce patética acreditar. Mais uma vez.
"Eu vou magoar você, você vai me magoar. E assim é"
Sempre cariño, sincero e com sua forma solitária de ser. Jeito acuado, quase com medo de se mostrar. Mas se mostrando aos pouquinhos, enquanto vou me mostrando feliz em estar ali. Como poderia mentir e brincar comigo dessa forma? Até que ponto vai a justiça no amor? Que justiça e que amor? Um devaneio... Como poderia dizer que se preocupa comigo e que sabe como é delicado o seu pedido e nossa responsabilidade com o sentimento do outro?
Da maneira como o Carnaval sempre chega e sempre termina. Entre um e outro, ele continua. Não importa o que aconteceu: é carnaval. Aquele gosto pela melancolia foi alimentado e, confesso, fez o samba ir muito mais fundo. "O samba é pai do prazer, o samba é filho da dor". Continuou... continuou..., triste a sua maneira sorridente e doce. Até a quarta-feira.
Gostaria de tê-lo encontrado no último dia de folia só pra dizer que não, não poderíamos levar aquilo adiante. 1 porque já não estava em paz no pouco que percorremos e onde chegamos, então e 2 por orgulho ferido em ver o casal perfeito após a declaração, e enxergar minha face docemente patética em todas as fantasias de carnaval. Avistei-o de longe, mas não deixei perceber. E não fui até ele. Não vi condições...e, no fundo, apesar do orgulho não queria terminar tudo ali. Daquela maneira, naquela ocasião. Mas, eu devia... faz parte do ser forte (e do orgulho...). Não consegui, fui fraca. Mais uma vez.
Eu só não podia imaginar como seria o dia seguinte...
De cinzas foi minha quarta-feira. Angustiada com o peso que carreguei todos os dias e que foi, literalmente, minha máscara de carnaval. Mas: não é mais carnaval!! Não é e agora? Agora veio a dor destampada, descarada, desmedida, desprendida! A consciência gritava por uma satisfação... não era justo. Eu merecia vê-lo. Ele tinha esta última obrigação! Uma obrigação com a minha consciência. O encontro visualizado aconteceu no fim da noite. A noite encorajou. A conversa.
Ele chegou com frio e expressão indefinível; cansado e doente. Disse pra mim mesma que seria rápida. Expliquei meus motivos de estar ali com tanta urgência. Era só de palavras que precisava. Mas, que elas saíssem da sua boca. Esqueci o casal perfeito e dei importância ao casal imperfeito que tinha em minha alçada -nós-. Ele, educado, gentil. Ouviu, percebeu que eu precisava (e muito) falar primeiro. E foi mais uma vez doce em deixar que as palavras se formassem dentro de mim pra pegarem o tom, melodia, significado necessários a aquele momento. Assim foi... no momento em que me fazia ser ouvida, o peso se tornava pluma... e voava, leve. Sereno... Ele então começou a falar. Sério. Tranquilo, explicativo... procurando as palavras dentro de si e por fim, dizendo-as. Sexta-feira foi sincero. Mais uma vez quis acreditar. Como disse inicialmente: "Estou aqui desarmada. Espero que você também" Não podia usar minha guarda desta vez. E não consegui decretar o desfecho. Derrubei a espada. Estava exausta por dias tão pesados. Máscara pesada. Ele calmo, eu tensa. Ele sábio, eu emocionada. Ele teórico, eu prática. Canceriano, eu ariana. O conjunto já é intenso. Seja lá qual for o rumo...não sei se aguento essa responsabilidade. Ele quer. Estar comigo, ele quer.
2013: limite
O tempo corre pra mim, pra ele tempo é paciência.


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