quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Tentar ouvir o som do próprio grito

Lá estava ela. E ele. Ela com ele. Casal bonito. Fiquei muda por um momento, e então não me espantei mais: é Carnaval! No fundo minha cabeça dava voltas, contorcendo-se em dor e em vazio. Mas, não deixei perder o movimento e dançava. Cantava. Ria. Era minha obrigação sorrir: é carnaval. Por dentro só conseguia me sentir uma patética. Doce patética. 
Do mesmo tamanho que minha dor, lá estavam os dois. O casal bonito, visivelmente perfeito. Movimentos poéticos. E eu com cara de quem se segurou tanto e tanto mentalmente pra quê? Nada. Meus amigos perceberam a proporção e pegaram a briga pra si. Fiquei pior ainda por dentro. Por fora, linda, animada, sorridente. Dançando bêbada feito uma idiota que tenta extravasar o que há dentro que machuca mas não transparecendo o que causa; a energia é transformada em vigor. Força. Euforia. Não há meios termos. O que há é uma moça despedaçada que pensa estar equilibrada. Todas aquelas palavras da sexta-feira tinham sido um surto pra uma doce patética acreditar. Mais uma vez.

"Eu vou magoar você, você vai me magoar. E assim é"

Sempre cariño, sincero e com sua forma solitária de ser. Jeito acuado, quase com medo de se mostrar. Mas se mostrando aos pouquinhos, enquanto vou me mostrando feliz em estar ali. Como poderia mentir e brincar comigo dessa forma? Até que ponto vai a justiça no amor? Que justiça e que amor? Um devaneio... Como poderia dizer que se preocupa comigo e que sabe como é delicado o seu pedido e nossa responsabilidade com o sentimento do outro? 

Da maneira como o Carnaval sempre chega e sempre termina. Entre um e outro, ele continua. Não importa o que aconteceu: é carnaval. Aquele gosto pela melancolia foi alimentado e, confesso, fez o samba ir muito mais fundo. "O samba é pai do prazer, o samba é filho da dor". Continuou... continuou..., triste a sua maneira sorridente e doce. Até a quarta-feira.



Gostaria de tê-lo encontrado no último dia de folia só pra dizer que não, não poderíamos levar aquilo adiante. 1 porque já não estava em paz no pouco que percorremos e onde chegamos, então e 2 por orgulho ferido em ver o casal perfeito após a declaração, e enxergar minha face docemente patética em todas as fantasias de carnaval. Avistei-o de longe, mas não deixei perceber. E não fui até ele. Não vi condições...e, no fundo, apesar do orgulho não queria terminar tudo ali. Daquela maneira, naquela ocasião. Mas, eu devia... faz parte do ser forte (e do orgulho...). Não consegui, fui fraca. Mais uma vez.
Eu só não podia imaginar como seria o dia seguinte... 

De cinzas foi minha quarta-feira. Angustiada com o peso que carreguei todos os dias e que foi, literalmente, minha máscara de carnaval. Mas: não é mais carnaval!! Não é e agora? Agora veio a dor destampada, descarada, desmedida, desprendida! A consciência gritava por uma satisfação... não era justo. Eu merecia vê-lo. Ele tinha esta última obrigação! Uma obrigação com a minha consciência. O encontro visualizado aconteceu no fim da noite. A noite encorajou. A conversa.

Ele chegou com frio e expressão indefinível; cansado e doente. Disse pra mim mesma que seria rápida. Expliquei meus motivos de estar ali com tanta urgência. Era só de palavras que precisava. Mas, que elas saíssem da sua boca. Esqueci o casal perfeito e dei importância ao casal imperfeito que tinha em minha alçada -nós-. Ele, educado, gentil. Ouviu, percebeu que eu precisava (e muito) falar primeiro. E foi mais uma vez doce em deixar que as palavras se formassem dentro de mim pra pegarem o tom, melodia, significado necessários a aquele momento. Assim foi... no momento em que me fazia ser ouvida, o peso se tornava pluma... e voava, leve. Sereno... Ele então começou a falar. Sério. Tranquilo, explicativo... procurando as palavras dentro de si e por fim, dizendo-as. Sexta-feira foi sincero. Mais uma vez quis acreditar. Como disse inicialmente: "Estou aqui desarmada. Espero que você também" Não podia usar minha guarda desta vez. E não consegui decretar o desfecho. Derrubei a espada. Estava exausta por dias tão pesados. Máscara pesada. Ele calmo, eu tensa. Ele sábio, eu emocionada. Ele teórico, eu prática. Canceriano, eu ariana. O conjunto já é intenso. Seja lá qual for o rumo...não sei se aguento essa responsabilidade. Ele quer. Estar comigo, ele quer. 

2013: limite
O tempo corre pra mim, pra ele tempo é paciência.


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

ah, sim, o reencontro

Deu-se.

E o que senti é que se não havia sentido ainda (o que no fundo, não acho que possa ter sido), então agora senti. E foi... O ponto alto foi ouvir a pessoa que não sou eu falar. E falar com o coração, pensei. Talvez seja mais uma ilusão, mas se não acreditar nas palavras ditas, em que posso me firmar?? Nada! Então optei por não desconfiar desta vez. Então o amigo vem e confirma a energia que se passava naquele exato momento ao nosso redor. Sinal de que foi eterno, ali.
Mas, é Carnaval!

Carnaval. Isso implica muitas coisas, situações não corriqueiras. Oportunidades. Encontros novos, ou não tão novos. E assim a decepção não podia deixar de vir. É claro que não. É Carnaval. Incomum seria se não fosse assim. A melancolia da tristeza sambada. Confesso que é lindo. É belo. Mas, dói.... tá doendo. 

Estaca zero não, acho difícil resgatar o que já foi. Porque foi, e o fato de ter sido, implica muito. De dentro pra fora. Mais de dentro que pra fora. Um turbilhão mascarado pela magia carnavalesca. Pelo samba. E essa máscara pesa. Tá pesado.

Desde o dia em que me assumi ser... romântica. Sabia que desde este dia teria que enfrentar as consequências. Essa é uma... sim, não nego. Lido com isso. E não acho injusto. Preciso então, curtir esta dor de forma a transformá-la em poesia. Música. Movimento. Arte. 



E é Carnaval! Tempo feliz, e um pouquinho de tristeza deixa tudo mais bonito, ''mais real''... 



sábado, 2 de fevereiro de 2013

a palo seco




Gadu e os desamores. Os desamores embalados por Maria Gadu. A melancolia dos amantes. Gadu e os encerramentos de casos amorosos. Amorosos? Ora, sim!

- Eu poderia ter me apaixonado por você, sabia? Mas, você sempre ia embora de madrugada.
- O sono é algo muito íntimo. Mais íntimo que qualquer coisa que nós já fizemos...
- Então eu  sou seu casinho, quando eu pensava que você é que era o meu...
- Eu era um casinho? Acho que somos um casinho.
- Quando quiser dormir comigo me procure.
(Silêncio vazio)
-


(O que ele não entendia é que o sono compartilhado era o corpo de delito de amor)
-
''Seu amadorismo impõe tal carência, não sou da cadência, não sou de valor''
''Não preciso amor, não preciso abraço.Não te cobro o laço e não cobro o som. Eu grito -Arde! Invade.. E as palavras calam no meu coração''

O rosto carrega as marcas da paixão da madrugada anterior. O desejo. Um amor sem rodeios. Bochechas, maxilar, pescoço estão aqui pra doer e fazer lembrar... teu amadorismo impõe tal carência. Você só dança essa valsinha se preciso for. Não é mais preciso. Cartas à mesa. Tudo o que restou foi o vazio. Começou sem muito, terminou com menos ainda. Não me consome a culpa, não me consome a dor, só uma melancolia de que gosto - e que já é sabido. O encontro e o poético desencontro.
O sono (sagrado) rendeu muitos sonhos. Mal sabe ele que apesar de todas as verdades ditas sobre o significado do sono compartilhado, era ele que habitava meu inconsciente enquanto não compartilhava a mesma cama. Ele corria atrás de mim. Eu cedia e ficávamos juntos. Meu inconsciente talvez ache que essas minhas atitudes o aproximam. Pobre inconsciente, o meu. Era virada de ano e os fogos eram vistos por nós da Praça Tiradentes de Ouro Preto. Ele usava a camisa bonita e estampada de ontem... corríamos, corríamos muito.
Não sinto que é o fim. Também não imagino como poderia se dar a resproximação, que não partirá de mim.  Tampouco imagino que será dele. Mas, sei que nos veremos ainda... sei disso.

ou não, claro.