quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Sobre parar pela 254865452ª vez de roer as unhas e o que este hábito também representa

Pra caber em mim. Já faz um tem poque tenho sentido dificuldade de captar com profundidade as coisas que me vem em mente. Sinto que antes as palavras passavam por mim e chegavam até meus escritos com mais facilidade e conseguiam efetivamente traduzir uma sensação que eu quisesse descrever. Atualmente, com mais maturidade adquirida, noto que a complexidade dos pensamentos e indagações realmente mudou, o que torna também mais trabalhoso compreender e trazer à forma de texto. Percebo que muitas reflexões se perdem nesse processo entre o despertar de uma consciência em mim e o registro/tradução sob forma de algo que eu possa ler mais tarde. Até porque eu sempre fui uma pessoa que aprende na repetição, na prática. Nunca fui aquela estudante que, de primeira, consegue aprender e não precisa de tentativas. Pelo contrário. E por isso, já faz um tempo que tenho notado essa dificuldade. Lembro da Bia, uma amiga da Universidade dizer que gostava de ler meus escritos, que o texto fluía de uma forma só minha e uma forma que ela gostava de ler. Eu amei tanto ouvir aquilo, foi um dos melhores elogios que já recebi na vida, tanto que mesmo sem ter mais contato com ela, nunca me esqueço. Ela lia apenas algumas legendas que eu escrevia no Facebook, coisa rápida, parágrafos curtos, porque os textos longos eu nunca tive coragem de compartilhar, sempre ficaram guardados. E eu noto o que ela disse lendo meus textos daquela época mesmo aqui no blog, noto essa facilidade, essa fluidez. Noto que realmente as palavras vinham através de mim como uma onda, como um sopro leve, sem esforço nenhum. Aquelas palavras que ao fim de cada texto me representavam de tal forma tão nítida, tão transparente. Era exatamente aquilo!

Hoje e ontem andei pensando nessa atual dificuldade e entendi que a complexidade dos eventos também mudou. Eu mudei, tudo mudou à minha volta e isso exige que eu me esforce mais. Talvez eu jamais tenha de novo aquela fluidez na escrita, mas preciso encontrar maneiras de me reatar com este meu lado. Assim como sinto falta de ler livros, histórias que são construídas devagar. Camada sobre camada. Impossível suprir essa necessidade com o conteúdo efêmero que temos hoje, no Instagram, no Twitter, no Youtube (isso porque não tenho TikTok...).

Esse texto é uma tentativa minha de retomar à Luma que tinha tanta facilidade com as palavras aos 16, 20, 22 anos... Uma tentativa de me aprofundar mais nos pensamentos. De criar o hábito da observação, reflexão e também da capacidade de dissertação, de falar sobre um assunto com profundidade e com tempo. De manter o foco, de não ter pressa. 

Assisti a um filme bobinho nos últimos dias chamado "Como seria se...". Apesar de ser uma comédia romântica tonta, a ideia que norteia toda a história é bastante interessante e me fez pensar muito. Tenho exemplos na minha família que contrastam com o meu próprio exemplo de vida e isso trouxe mais palpável a ideia do filme. Sobre escolhas de caminhos. Sobre como seria se a minha vida tivesse tomado outro rumo, se minhas prioridades fossem outras, quem sabe as mesmas esperadas pelos meus pais para mim. E o final do filme é conciliador, vem para acalmar os corações porque eles certamente têm noção de como impactam principalmente a minha geração, dos Millenials. Espero conseguir falar sobre isso melhor em outro texto. Estruturar meu pensamento melhor, não só com base no filme, mas tendo ele como gatilho de questões que vivemos todos.

Tento me manter vigilante a todo momento para ser carinhosa comigo mesma, e acolhedora dos meus processos. Este ponto é sempre importante colocar à mesa. Ao longo dos últimos 10 anos entrei em um processo de auto cobrança e de auto depreciação que me levaram a crises identitárias sérias em alguns momentos. No curto tempo de terapia entendi que sem realmente perceber eu me cobrava de uma forma cruel. Era cobrada em casa, pelo meu pai principalmente, mas eu também acabava fazendo isso na justificativa de tentar me manter "realista". Eu repetia isso muito. Portanto, preciso ter este parágrafo aqui me lembrando de ser uma boa companhia comigo mesma e de ser uma boa amiga pra mim mesma à medida em que eu for tentando me expressar aqui.

É um começo! Espero permanecer, e seguir o fio.

Citando Maria Ribeiro, preciso também acrescentar que "superficial e profundo convivem sem hierarquia". Mas é claro que há que se ter alguma profundidade nessa vida! Mas também há se ter tonterias também... para equilibrar. Sejamos humanos!! Leves e também Densos!!

domingo, 7 de agosto de 2022

1 mês completo! e as primeiras crises...

Perto de completar 40 dias em Paris, e... ela veio, a crise.

A primeira foi típica, fico me sentindo um lixo, percebo que o melhor é me isolar para não ser injusta e descontar em outra pessoa minha frustração. Eu não estava conseguindo trabalhar, não conseguia me concentrar e ficava com muito sono, e vontade de ficar deitada. Me sentindo deprimida, e uma solidão e baixa autoestima. Então fiz o que sempre é o melhor remédio: fui pra casa, me isolei até que pudesse voltar a conviver ou outra pessoa. 

No Brasil, sempre tive para onde correr. Me acostumei a ter para onde correr, desde pequena. Ao menor sinal de que algo está fora dos eixos eu corria para a casa da minha avó Lica. Ficava lá, quase que negando todo o resto, por um tempo. A figura da minha avó sempre representou o meu refúgio. Era confortável. Pelos netos ela parava tudo o que estivesse fazendo. Não existe ninguém igual a ela. Nem vai existir. Desde então, sem ela, com a casa dos meus pais passando a ser naquele espaço onde antes ela vivia, pelo menos geograficamente o refúgio continua existindo. É o meu canto, onde estão meus cachorros. E onde o silêncio fala comigo, e não é ensurdecedor como eu sinto hoje em dia, estando aqui em Paris, num estúdio de 25 m² com alguém que não faz questão e nem tem obrigação nenhuma em ser a figura do meu refúgio. Pelo contrário, tem me despertado ansiedade.

Passaram-se 1 fração de 12 no total do tempo que aqui estou prevista para ficar. E, pra ser sincera, não me parece muito. Não me parece que estou aqui há muuuitoo tempo, me parece o tempo que é. Até acho que passou rápido.

A segunda crise foi um problema com meu namorado. Como estou numa fase delicada, tudo fica mais difícil, mas neste caso não posso cair na "pegadinha" de me culpar. Tenho repensado esse namoro, pra ser honesta. Infelizmente não me sinto acolhida. Pelo contrário, sinto que quando algo acontece e eu naturalmente me calo (sou uma pessoa que fala muito, mas só consigo ser eu quando estou bem), percebo que, o que é praticamente uma punição pra mim, é quase como um alívio pra ele. Me sinto só grande parte do tempo, mas quando estou calada, o sofrimento é muito maior... É o meu pior momento.  Sinto que criamos uma dependência um do outro que nada mais é do que conveniência, muitas vezes. Hoje estou chateada, e como eu disse, o silêncio que me imponho nessas situações é ensurdecedor, torturante. Suga minha energia.

Espero que eu melhore ou que encontre uma saída nas próximas semanas que me dê paz.