sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

I'm a mess!

Novembro foi muito difícil. Não exatamente o mês inteiro, mas pelo menos a primeira metade foi complicada.

Desde que cheguei aqui, dessa vez muito consciente da minha condição emocional, procurei me atentar a alguns cuidados pra que não caísse em armadilhas que eu mesma criasse, de pensamentos, hábitos etc, que eu sei claramente o potencial que têm de me fazer mal. Ainda assim, em novembro não consegui escapar.

Tinha acabado de entregar um trabalho com bastante luta, mas que me salvou durante o processo. Estava ainda no começo do curso de francês em Paris, o que me trouxe contato com pessoas completamente de diferentes países. 

O frio começava a dar as caras, frio esse que é sofrido nas lembranças que tenho de 2017, quando entendi que frio intenso NÃO é bom, e que romantizar isso é pior ainda. Portanto, o fato de ter aquecimento em casa me fazia querer sair menos, programar menos viagens etc. Na prática, esse recolhimento precisa ser bem dosado pensando novamente em salubridade mental.

Meu primeiro cachorro, meu grande amor canino, Willow tinha acabado de partir e eu não pude estar lá colaborando com o bem estar dele, lutando ao lado dele, me despedindo, dando os abraços que eu sempre dei nele. Isso quebrou meu coração em pedaços. Nunca acreditei que as coisas acontecem por acaso. Pra mim sempre foi claro que tudo é como tem que ser, mas sofri e sofro ainda com a partida precoce do meu cristalzinho, a estrelinha da minha vida: Willow. 

Meu avô também teve uma piora muito grande de saúde desde que eu saí do Brasil, a ponto de eu não mais conseguir reconhecê-lo, ao que fui sendo informada pela minha mãe. E, nisso, as exigências sobre a minha mãe foram se acumulando e eu ficava chateada por vê-la enfrentando mais essa situação, sem que eu pudesse ajudá-la pelo menos com as coisas do dia-a-dia da casa, como eu sempre procurei fazer.

Isso tudo somado à saudade do meu país. Um verdadeiro sentimento de Homesick, apesar de ter menos dificuldade com a língua agora, a saudade de me sentir familiarizada com a cultura e, lógico, de ter por perto as minhas pessoas, só tornou mais um fator difícil de lidar em todo esse somatório.

As notícias e postura da família do meu namorado também foram me angustiando. Entendi que isso nunca mudará, e que infelizmente eu sempre terei de lidar com uma família completamente diferente de mim a ponto de às vezes me sentir enlouquecendo por não compreender definitivamente o porquê de certas atitudes. Voltei a pensar que preciso me proteger e estabelecer limites na família dele para que não me acarrete problemas eternos. 

Tudo isso somatizado acabou despertando minha dermatite atópica que já vinha dando pequenos sinais de volta, mas dessa vez veio no rosto em várias pontos que eu nunca havia experienciado, alergias de várias maneiras, as unhas roídas ao extremo a ponto de doer, alta irritabilidade, aumento expressivo e preocupante no consumo de chocolate, indisposição, desânimo e muito pensamento no sentido de voltar mais cedo pra casa. Foi difícil, foi solitário, mas aos poucos fui tentando conversar com meu companheiro sobre alguns pontos. Ele percebeu meu sofrimento e tentou me acolher, o que ajudou bastante. 

Hoje, ainda início de dezembro me sinto melhor, mas sinto que tenho que me manter atenta e forte pra não desandar de novo. Estou há 18 dias sem roer as unhas, com esmalte, esse ponto particularmente é uma conquista pessoal muito grande porque roo as unhas desde criança, pra ser sincera nem sei quando isso começou, a minha impressão é de que eu nasci doendo as unhas. Por alguns momentos na vida consegui parar, mas nunca por mais de 2, 3 meses. Dessa vez vou tentar manter essa chama acesa, porque isso é algo que melhora minha auto estima instantaneamente, porque gosto da minha mão, acho que as unhas grandes e largas ficam bonitas, e lembra mão da minha avó Lica, mas com o toque das veias da minha mãe, que tem mão e unhas impecáveis. As dermatites agora estão controladas, sigo com a rotina rigorosa de hidratação diária de manhã e a noite, ajustei o gel de lavar e o protetor solar, descobri um bom hidratante labial, porque passei o verão inteiro até a descoberta desse produto com os lábios em péssimo estado, algo que nunca havia me acontecido por tanto tempo, com tamanha intensidade. O consumo de chocolate ainda é um problema, ainda não consegui desenvolver uma maneira efetiva de diminuir e manter. Tenho medo da diabetes ou algum outro problema, afinal já são 30 anos... mas sigo no jogo. Comecei a fazer Yoga de segunda a sexta, o que tem me ajudado a me exercitar minimamente. Comprei um tapete, um incentivo pra manter o hábito. Ainda escapo da prática alguns dias e me culpo por isso, mas estou criando essa importância na minha mente, afinal a máxima "nunca me arrependi de fazer uma aula de yoga" é totalmente verdadeira. Uma pena ter demorado tanto a conhecer a prática.

Hoje o Brasil joga contra a Croácia, vou assistir sozinha, mas decidi abrir uma cerveja e tomar sozinha. Torcer pra nossa Seleção e pra que os pratinhos sigam no ar! Cada dia, uma nova batalha. Allez Luma!!

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Tudo que eu queria hoje era poder fazer mais por você, meu amorzinho.

Willow, me perdoe.

Willow foi o primeiro cachorro da minha família. Meu primeiro grande amor. Um anjo que me fez feliz todos os dias da sua vida. Bagunceiro, atrapalhado, forte, lindo, um verdadeiro anjo.

Há 1 mês mais ou menos, ele, que vinha tendo muita dificuldade em andar, parou de vez de conseguir se sustentar pelas patinhas de trás. Fez vários exames, e foi detectado Doença Renal Crônica. Eu estou fora do Brasil fazem 4 meses, quando saí de lá me despedi dele e de Jimmy, sabia que podia acontecer alguma coisa na minha ausência, mas jamais pensei que seria algo que evoluísse tão depressa. Algo que o fizesse sofrer tanto e que progredisse tão rápido. Meu mundo caiu hoje, quando meu irmão disse que devemos levar a sério a possibilidade de eutanásia, porque ele está um cachorro triste, está sofrendo, não está respondendo aos remédios, e a situação de se arrastar está gerando outros problemas a ele.

Willow, me perdoe por eu não estar aí. Se eu estivesse, faria de tudo pra te dar um final de vida mais digno do que você está tendo. Eu sempre lutei muito pelos cachorros, procurei briga em casa pra que eles fossem tratados com mais responsabilidade, pra que não fossem negligenciados. Mas, diante da situação de Willow, eu deveria ter feito mais. Eu deveria estar lá agora, por exemplo, que é quando ele mais está precisando. Eu deveria estar lá pra lugar por ele, pra limpar as suas feridas, pra fazer companhia, pra dar tudo aquilo que ele merece. 

A tarefa ficou apenas pro meu irmão mais novo, que nitidamente está desesperado, sofrendo vendo tudo de perto, sobrecarregado e não consegue fazer mais do que já tem feito. 

Me perdoe, Willow. Eu te amo tanto, tem sido tão triste lembrar de você e pensar que você está sofrendo...  Ainda bem que você teve o Antonio por perto, ele faz o que pode mas sofre muito também. 

Pensar que vou chegar daqui a 8 meses e não vou te ver em casa, me dói demais. Pensar que Jimmy ficará sem o companheiro e vai sofrer muito também me dói.

Mas, Willow, eu sei que vocês doguinhos vivem muito menos que nós porque já vêm ao mundo sabendo amar, e nós não. Nós levamos muito mais tempo pra aprender, mas você me ensinou tudo, Willow. Você é meu maior amor, meu príncipe lindo. Só queria poder te dar um abraço, limpar seus machucados, te colocar num lugar perto de mim. Queria poder cuidar de você como vc merece. Queria poder te levar na graminha todos os dias, queria poder aliviar seu sofrimento. Mas nada disso posso fazer, me perdoe, anjo.

Eu sei que você vai pra um lugar lindo e que vai poder voltar a correr, a pular, a brincar alegre, como você sempre fez. Sei que voltará a ser feliz. Me perdoe, Willow. Eu te amo tanto. Queria que você fosse eterno, ou pelo menos que não sofresse nunca, porque você não merece isso. 

Obrigada, Willow, pela sua existência conosco. Te amo tanto, pra sempre, meu amorzinho.


Sleep, little willow
Peace gonna follow
Time will heal your wounds

Grow to the heavens
Now and forever
Always came too soon

Little willow

Nothing's gonna shake your love
Take your love away
No one's out to break your heart
It only seems that way, hey

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Sobre parar pela 254865452ª vez de roer as unhas e o que este hábito também representa

Pra caber em mim. Já faz um tem poque tenho sentido dificuldade de captar com profundidade as coisas que me vem em mente. Sinto que antes as palavras passavam por mim e chegavam até meus escritos com mais facilidade e conseguiam efetivamente traduzir uma sensação que eu quisesse descrever. Atualmente, com mais maturidade adquirida, noto que a complexidade dos pensamentos e indagações realmente mudou, o que torna também mais trabalhoso compreender e trazer à forma de texto. Percebo que muitas reflexões se perdem nesse processo entre o despertar de uma consciência em mim e o registro/tradução sob forma de algo que eu possa ler mais tarde. Até porque eu sempre fui uma pessoa que aprende na repetição, na prática. Nunca fui aquela estudante que, de primeira, consegue aprender e não precisa de tentativas. Pelo contrário. E por isso, já faz um tempo que tenho notado essa dificuldade. Lembro da Bia, uma amiga da Universidade dizer que gostava de ler meus escritos, que o texto fluía de uma forma só minha e uma forma que ela gostava de ler. Eu amei tanto ouvir aquilo, foi um dos melhores elogios que já recebi na vida, tanto que mesmo sem ter mais contato com ela, nunca me esqueço. Ela lia apenas algumas legendas que eu escrevia no Facebook, coisa rápida, parágrafos curtos, porque os textos longos eu nunca tive coragem de compartilhar, sempre ficaram guardados. E eu noto o que ela disse lendo meus textos daquela época mesmo aqui no blog, noto essa facilidade, essa fluidez. Noto que realmente as palavras vinham através de mim como uma onda, como um sopro leve, sem esforço nenhum. Aquelas palavras que ao fim de cada texto me representavam de tal forma tão nítida, tão transparente. Era exatamente aquilo!

Hoje e ontem andei pensando nessa atual dificuldade e entendi que a complexidade dos eventos também mudou. Eu mudei, tudo mudou à minha volta e isso exige que eu me esforce mais. Talvez eu jamais tenha de novo aquela fluidez na escrita, mas preciso encontrar maneiras de me reatar com este meu lado. Assim como sinto falta de ler livros, histórias que são construídas devagar. Camada sobre camada. Impossível suprir essa necessidade com o conteúdo efêmero que temos hoje, no Instagram, no Twitter, no Youtube (isso porque não tenho TikTok...).

Esse texto é uma tentativa minha de retomar à Luma que tinha tanta facilidade com as palavras aos 16, 20, 22 anos... Uma tentativa de me aprofundar mais nos pensamentos. De criar o hábito da observação, reflexão e também da capacidade de dissertação, de falar sobre um assunto com profundidade e com tempo. De manter o foco, de não ter pressa. 

Assisti a um filme bobinho nos últimos dias chamado "Como seria se...". Apesar de ser uma comédia romântica tonta, a ideia que norteia toda a história é bastante interessante e me fez pensar muito. Tenho exemplos na minha família que contrastam com o meu próprio exemplo de vida e isso trouxe mais palpável a ideia do filme. Sobre escolhas de caminhos. Sobre como seria se a minha vida tivesse tomado outro rumo, se minhas prioridades fossem outras, quem sabe as mesmas esperadas pelos meus pais para mim. E o final do filme é conciliador, vem para acalmar os corações porque eles certamente têm noção de como impactam principalmente a minha geração, dos Millenials. Espero conseguir falar sobre isso melhor em outro texto. Estruturar meu pensamento melhor, não só com base no filme, mas tendo ele como gatilho de questões que vivemos todos.

Tento me manter vigilante a todo momento para ser carinhosa comigo mesma, e acolhedora dos meus processos. Este ponto é sempre importante colocar à mesa. Ao longo dos últimos 10 anos entrei em um processo de auto cobrança e de auto depreciação que me levaram a crises identitárias sérias em alguns momentos. No curto tempo de terapia entendi que sem realmente perceber eu me cobrava de uma forma cruel. Era cobrada em casa, pelo meu pai principalmente, mas eu também acabava fazendo isso na justificativa de tentar me manter "realista". Eu repetia isso muito. Portanto, preciso ter este parágrafo aqui me lembrando de ser uma boa companhia comigo mesma e de ser uma boa amiga pra mim mesma à medida em que eu for tentando me expressar aqui.

É um começo! Espero permanecer, e seguir o fio.

Citando Maria Ribeiro, preciso também acrescentar que "superficial e profundo convivem sem hierarquia". Mas é claro que há que se ter alguma profundidade nessa vida! Mas também há se ter tonterias também... para equilibrar. Sejamos humanos!! Leves e também Densos!!

domingo, 7 de agosto de 2022

1 mês completo! e as primeiras crises...

Perto de completar 40 dias em Paris, e... ela veio, a crise.

A primeira foi típica, fico me sentindo um lixo, percebo que o melhor é me isolar para não ser injusta e descontar em outra pessoa minha frustração. Eu não estava conseguindo trabalhar, não conseguia me concentrar e ficava com muito sono, e vontade de ficar deitada. Me sentindo deprimida, e uma solidão e baixa autoestima. Então fiz o que sempre é o melhor remédio: fui pra casa, me isolei até que pudesse voltar a conviver ou outra pessoa. 

No Brasil, sempre tive para onde correr. Me acostumei a ter para onde correr, desde pequena. Ao menor sinal de que algo está fora dos eixos eu corria para a casa da minha avó Lica. Ficava lá, quase que negando todo o resto, por um tempo. A figura da minha avó sempre representou o meu refúgio. Era confortável. Pelos netos ela parava tudo o que estivesse fazendo. Não existe ninguém igual a ela. Nem vai existir. Desde então, sem ela, com a casa dos meus pais passando a ser naquele espaço onde antes ela vivia, pelo menos geograficamente o refúgio continua existindo. É o meu canto, onde estão meus cachorros. E onde o silêncio fala comigo, e não é ensurdecedor como eu sinto hoje em dia, estando aqui em Paris, num estúdio de 25 m² com alguém que não faz questão e nem tem obrigação nenhuma em ser a figura do meu refúgio. Pelo contrário, tem me despertado ansiedade.

Passaram-se 1 fração de 12 no total do tempo que aqui estou prevista para ficar. E, pra ser sincera, não me parece muito. Não me parece que estou aqui há muuuitoo tempo, me parece o tempo que é. Até acho que passou rápido.

A segunda crise foi um problema com meu namorado. Como estou numa fase delicada, tudo fica mais difícil, mas neste caso não posso cair na "pegadinha" de me culpar. Tenho repensado esse namoro, pra ser honesta. Infelizmente não me sinto acolhida. Pelo contrário, sinto que quando algo acontece e eu naturalmente me calo (sou uma pessoa que fala muito, mas só consigo ser eu quando estou bem), percebo que, o que é praticamente uma punição pra mim, é quase como um alívio pra ele. Me sinto só grande parte do tempo, mas quando estou calada, o sofrimento é muito maior... É o meu pior momento.  Sinto que criamos uma dependência um do outro que nada mais é do que conveniência, muitas vezes. Hoje estou chateada, e como eu disse, o silêncio que me imponho nessas situações é ensurdecedor, torturante. Suga minha energia.

Espero que eu melhore ou que encontre uma saída nas próximas semanas que me dê paz. 

terça-feira, 19 de julho de 2022

Exercício

 Aproveitando a passagem por aqui, vou seguir de onde parei:

16 - as it was - harry styler (I don't hate it, I just got sick 'cause it was everywhere, all the time)

17 - eyes without a face - billy idol

18 - river lea - adele

19 - dreams - fleetwood mac

20 - bad guy - billie ellish

21 - dog days are over - florence and the machine

22 - happier than ever - billie elish

23 - harvest moon - neil young  (I am not gonna have a normal wedding like people use to dream on. but if I've had it would play this song 'cause I love it and I think its super romantic).

24 - the long and winding road - the beatles

25 - aí foi que o barraco desabou - jorge aragão

26 - varanda suspensa - céu e não sei dançar - marina lima (it reminds me my friend Bera, who I missed so much)

por hoje tá bom! foi gostoso lembrar dessas músicas.







40 graus no verão europeu: por que os franceses não gostam de ar condicionado?

 Já estamos em 19 de julho e eu notei que não escrevi nada ainda neste ano de 2022.

Analisando esta informação, entendo que não é sobre um fato isolado. É sobre estar ocupada planejando e vivendo em busca de realizar o que planejei durante todo este ano e final do ano passado...

Paris, 19 de julho de 2022.

Estou aqui desde o dia 1º deste mês. O plano é ficar 1 ano, vamos ver o que me aguarda. 

Trabalhei em um Hotel durante 6 meses em paralelo ao meu trabalho como arquiteta. E prometi que todos os recursos que conseguisse seriam para viabilizar minha vida em Paris a partir de 1º de julho. eu tinha 6 meses para juntar todo o dinheiro que fosse possível. E assim fiz, paguei todas as minhas despesas para estar aqui. Isso é muito importante pra mim. Quem assiste de fora (penso muito na perspectiva deles), pode pensar que meus pais pagaram tudo, que meu namorado pagou tudo, ou até que não houve despesas além da passagem. Quando, na verdade, as despesas foram muitas... A começar com o Seguro de Viagem por 1 ano, que é obrigatório, a taxa do Visto direto no Consulado da França em São Paulo, a viagem até São Paulo, que inclui passagem, estadia e alimentação, a negociação dessa dispensa no trabalho sem prejuízo no salário, a viagem para Ribeirão Preto, o tempo que passei lá antes da viagem, a passagem para Paris no verão (alta temporada!), a taxa do Visto após a entrada em território francês que é uma "facada". A taxa para usar a biblioteca nacional durante 12 meses, o passaporte do metro a ser pago mensalmente. Além disso, a anuidade alta do meu Registro no Conselho de Arquitetura e Urbanismo que, apesar de não ter usado, não é válido deixar inativo acarretando juros e multas, se a única coisa que tenho de verdade é a minha profissão.... Enfim, outras gastos como remédios contínuos pelos próximos 12 meses etc. Tudo isso eu tenho muito orgulho de dizer que quem pagou foi o meu trabalho, o meu esforço. E sem isso, eu não poderia estar aqui. O somatório é alto e jamais meus pais poderiam fazer por mim em um momento em que eles passam por uma crise financeira que eu jamais acompanhei em casa. Eu não teria essa coragem. Meu namorado também não poderia arcar com isso, isso comprometeria os recursos que são sempre planejados, estudados e detalhadamente registrados por ele. É o jeito que ele encontrou de ser controlado economicamente, por ser a única maneira de ele conseguir ter uma vida com um mínimo de segurança financeira. Além dos gastos acima, uma margem de segurança para converter de reais para euros, uma vez que nossa moeda está um desastre na conversão.

Enfim, senti a necessidade de escrever hoje, porque eu percebo que eu mesma acabo me subestimando e diminuindo minhas conquistas, meus desejos e minhas vontades. Acabo achando que tudo é um grande mimimi porque sou muito privilegiada e não ralo como o brasileiro precisa ralar pra apenas sobreviver. E eu sei que vou sobreviver independente do que fizer. Mas, ao mesmo tempo, as minhas vontades, a minha forma de enxergar a vida e de "estar no caminho certo" é vivendo, me sentindo viva, me desafiando, viajando. Mas um lado meu simplesmente me joga pra baixo realidade, que eu deveria estar no trabalho que estava antes de vir, talvez virar Gerente lá onde eles tentaram bastante fazer com que eu ficasse, desistindo de vir. Mas, mesmo com as incertezas eu vim.  E aqui estou. Falo pra todo mundo que estou trabalhando à distância, fazendo meus projetos. Sim, oficialmente tenho 01 projeto em andamento. Há outros 2 talvez 3 em vista, mas eu sequer enviei o orçamento. Sim, está nas minhas mãos. Então, sim, preciso entender que para viabilizar meu sonho de estar aqui eu preciso desse trabalho, que, veja bem que sorte, não tenho patrão, que é o que eu sempre quis, o que sempre sonhei! Mas para que isso seja de fato um trabalho eu preciso levar a sério a ponto de, de fato, trabalhar diariamente para isso. Estou atrasada em 1 semana. Mas, ainda há tempo. Preciso correr atrás para provar a mim mesma que é sim possível a vida à qual eu me propus!

Mais do que outras pessoas acreditarem, eu preciso acreditar! Em boa parte do tempo, eu sinto que quem não acredita sou eu, e acabo por interpretar um papel de quem está confiando, mas na verdade não está tanto assim. Dói constatar isso, mas preciso ter consciência desse fato, para trabalhar na mudança. Em Paris, temporada 2022:

- Já decidi que vou me esforçar para sair da zona de conforto

- Vou arriscar falar com as pessoas com a cabeça mais erguida, em francês. Não me apegar ao meu sotaque, apenas em me fazer entender. Esse é o objetivo, afinal, de se aprender uma língua nova: se fazer entender/ comunicar. E é esta relação que eu percebo que tenho com o inglês, por exemplo. Eu consigo me comunicar, posso me expressar. E isso não significa um inglês perfeito, mas um inglês eficiente. Esse é o meu objetivo com o francês.

- Falei pra mim que iria rir menos "de graça". Mas isso eu ainda não consegui (nem tenho certeza que devo buscar)... sempre que percebo, já foi: já sorri pra pessoa sem absolutamente nenhum motivo. O Brasil corre forte nas minhas veias, não tem jeito...

- Vou tentar me encontrar mais com as pessoas aqui. Brasileiros, colegas, desconhecidos, à medida em que as oportunidades forem aparecendo. Não vou me esconder, me fechar, me isolar.

- Tentar dizer mais SIM do que NÃO, tendo consciência dos meus limites. Mas talvez o exercício seja justamente esticar um pouco os limites - alongá-los.

- Aprender a conviver melhor com situações desconfortáveis. De longe acho que é o meu maior desafio... Mas, neste ponto tenho meu pai em mente. Ele sempre fala (ao seu modo) que quando você se desafia, principalmente em situações que pra você não são confortáveis, você cresce e aprende a viver mais forte. Que são estas situações menos acolhedoras e confortáveis que fazem você evoluir. Eu odeio isso, sempre questionei que ninguém deveria ter que sofrer pra viver, em nenhum sentido. Ainda acho isso, mas no meu momento atual entendo o que ele quis dizer e é disso que tenho sentido falta no meu desenvolvimento enquanto Luma de 30 anos. No caso do meu pai especificamente eu poderia escrever outro post, pois eu leio como muito complexo e infelizmente percebo que ele acaba sofrendo mais do que deveria na vida em geral, por razões diversas de noções adquiridas ao longo do caminho que poderiam ser revistas, para o bem dele próprio e dos que o cercam. Mas, voltemos a mim, sobre quem este texto se refere.

Venho pensativa desde que aqui cheguei, mas já vejo algumas tentativas de mudança de postura em  relação à Luma de 2017 que ficou 3 meses aqui.

Ontem recebemos uma notícia que foi um baque. O desaparecimento inesperado de um colega de profissão formado na mesma universidade que eu, que morou em uma das casas dos meus pais por um tempo e com quem temos alguns amigos em comum por isso eu sempre o admirei, e sempre nutri um sentimento bom em relação a ele. A notícia me pegou de jeito. Um menino responsável, trabalhador, talentoso, estudioso, educado, promissor. Ele é gay, um menino miudinho, bonito, a primeira coisa que pensamos é em Homofobia, principalmente no Brasil atual governado por alguém que estimula diariamente o ódio. Portanto pensei logo nisso à primeira vista. Depois me vieram outros casos em mente, de jovens que não estavam com a saúde mental bem e passavam por uma depressão, que saíram de casa sozinhos em momentos de vulnerabilidade psicológica. Fico, então, pensando neste sofrimento, e ao ponto que chega o ser humano que não está bem psicologicamente. 

E aí pensei: por que deixamos chegar a este ponto? Caramba, a vida é sim muito complexa, é difícil demais viver. Precisamos compreender a realidade deste fato e ser mais empáticos, ser mais acolhedores com os outros e suas dores. Isso também me faz pensar em outras coisas... quanto tempo temos que aceitar adiar nossos sonhos? Seguir o que manda a norma, o que seus tios e tias, seus pais esperam... Se você tem um sonho, uma vontade de viver diferente do que eles fizeram, diferente do que qualquer um deles ousou fazer. Até porque, em ambos os casos existe esforço, a questão é: em que vale mais a pena de colocar sua energia, sua disposição, seus esforços: no sonho dos outros, no óbvio que é esperado de alguém da sua idade, ou no seu sonho? 

A qualquer momento algo pode acontecer, algo que não depende de nós mesmos. Uma doença? um infarto fulminante? uma depressão? um atentado? um acidente? E aí, como você viveu a sua vida? como você vai ser lembrado? com suas experiências, os riscos que correu, os lugares que desbravou, as línguas que tentou aprender, os sabores que descobriu no caminho, as pessoas que foi encontrando no caminho, as culturas, os perrengues, as risadas que damos depois que passou o perrengue... 

Isso me ajuda a entender porque é tão forte em mim a vontade de estar aqui onde estou, em Paris, depois de me esforçar tanto para conseguir aqui estar, já que, se não fosse euzinha, eu não poderia estar aqui. Fico feliz por ter alguém do meu lado pra compartilhar as experiências, dividir o dia-a-dia, mas há coisas que são só nossas, os processos de cada um.

E eu tenho claramente essa sede por entender o que se passa comigo a cada fase. Tenho muito claro este instinto de ser honesta comigo mesma, Se não for assim eu começo a me sentir sufocada e rapidamente sou engolida. Depois é difícil sair daquela escuridão, então eu preciso agir antes. Preciso me respeitar, buscar me conhecer. Ler (ou tentar) minhas imperfeições, desejos, porquês.

Por tudo isso esse desaparecimento está mexendo muito comigo, e eu espero de toda  minha alma que o meu colega seja encontrado bem, são e salvo! Deus ajude que ele tenha essa outra oportunidade porque, apesar das complexidades, viver é maravilhoso. É duro, desafiador, e até dói às vezes, mas é lindo um dia ensolarado num parque verdinho fazendo um piquenique com roupas leves, à beira do canal tomando uma cerveja barata do supermercado enquanto o sol se põe, na praia (melhor lugar do mundo), no alto de uma montanha, numa estrada fazendo uma viagem com alguém que você ama ou então sozinha, pegando um avião, andando de moto por aí, passeando, sentindo o ventinho bater na cara refrescando um dia quente, comendo um brownie ou um macaron, ou um cachorro quente feito pela minha mãe, ou brincando com nossos cachorros (de preferência perto de água).

Muitas vezes é duro viver. Sim, muitas. Mas vai passar. Sempre passa. A parte boa passa, portanto aproveite, e também a outra parte, portanto vamos tentar identificar as mensagens que nos vão sendo passadas. Precisamos nos acolher!