Os últimos textos aqui escritos por mim foram duros de viver, mas foram um grande alívio escrevê-los. Essa ferramenta me ajuda há muitos anos, desde que me entendo por gente, a entender meus sentimentos. Ainda que não os entenda completamente, esses minutos me ajudam a organizar os pensamentos, e geralmente são escritos no meio do turbilhão.
Meu pai é uma figura muito presente na minha formação enquanto pessoa. É complexo pensar o quão me afeta tudo relacionado a ele. Preciso voltar para a terapia. E neste texto quero falar do outro lado da nossa relação, que é lado da conexão. Da parceria, do amor. A nossa ligação é muito forte. Às vezes nos distanciamos muito, como já descrevi muito aqui, principalmente nos últimos textos. Mas, nós dois nos entendemos também muito bem, e eu fico muito triste (como estou agora, com o rosto encharcado) quando vejo que ele está sendo destratado ou diminuído ou ignorado. E é exatamente assim que estou percebendo que ele está sendo tratado, descartado por uma empresa sem nenhuma consideração em explicar os porquês (pelo menos dentro do que eu sei). Eu já me senti assim, sei como é ruim, a gente se abala, mas meu pai, em sua vida profissional tem vivido isso repetidas vezes nos últimos tempos. Hoje escutei a voz dele em uma conversa por telefone com minha mãe, tão abatido, que meu mundo começou a cair e aqui estou, segurando tanto o choro baixinho que chega a doer a garganta. Faço tudo o que posso pra ajudá-lo em coisas tecnológicas que minha geração domina mais que a dele, mas quando, como hoje, coisas ruins acontecem no trabalho, eu sinto sempre que poderia ter feito mais. Eu deveria ter feito mais. Tenho a noção de que não é minha culpa, mas é como eu me sinto. É forte, parece que foi comigo o golpe. Não sei descrever mais... Sei que os filhos não são obrigados a se conectarem com os pais, caso essa relação gere mais desgaste e culpa do que amparo, compreensão. Com meu pai tenho mais dificuldade de lidar com tais fatos, na prática. Preciso de muita terapia ainda...
Minha carreira profissional praticamente não existe no atual momento, sou uma secretaria da minha família, faço o que posso para ser útil para eles, mas meu lado profissional de ser remunerada está estagnado, pelo menos na carreira que escolhi me graduar. Não tenho um trabalho fixo, atuo como autônoma, mas não me dedico como poderia na prospecção de clientes ou na visibilidade e divulgação do meu trabalho. Mas eu já sigo trabalhando isso há alguns anos na minha cabeça, sei da minha dificuldade em trabalhar para terceiros com quem eu não tenha relações fortes a longo prazo. Sei de muitas limitações, e de problemas da minha personalidade, também sei de algumas potencialidades que tenho. Sei como é difícil viver... Percebo nitidamente a complexidade da vida. E por isso a respeito e respeito os processos que nos são colocados.
Mas, meu pai... eu não sei muito bem dizer, mas sinto como se +/- desde que minha avó se foi, ele não conseguiu mais se encontrar profissionalmente em uma empresa (e não só nesse sentido...). E isso o afeta muito, vejo tristeza. E talvez isso o faça, muitas vezes, descontar em pessoas e situações que não tem a ver com a real causa. Vejo uma personalidade complicada, com muito narcisismo e pouca empatia realmente, principalmente no tratamento com as pessoas, incluindo nós, familiares mais próximos.
Fico muito triste em ver como ele fica em situações como a de hoje, em que foi despedido do trabalho há 3 meses de ter começado. E o sinto perdido, no meio de tudo isso. Mas sinto que em família ele é feliz, quando não está com os fantasmas da insegurança e do ego o assombrando. Queria tanto que ele fizesse terapia, pra que pudesse ser realmente feliz, ter mais leveza e para que pudesse potencializar os pontos positivos que ele tem (que são muitos) e enxergar realmente os seus fantasmas aprendendo a lidar com eles.
Meu pai é extremamente inteligente, espontâneo, trabalhador, prestativo, de boa vontade, amigo, parceiro, um pai dedicado, animado. TUDO o que solicitamos ele vai tentar viabilizar, principalmente se aquilo estiver diretamente ligado a ele. Ali, agora, ele é pronto a ajudar. A resolver.
Todas as leituras, os juízos de valor que aqui descrevo são logicamente meu olhar enquanto alguém com uma forte ligação e convívio com ele, mas ainda assim é o meu ponto de vista baseado nas minhas vivências e coisas que chegam até mim, por outras pessoas. Tudo isso poderia ser compreendido muito mais a fundo e mais real se ELE aceitasse que não somos perfeitos, jamais seremos mas que muita coisa conseguimos trabalhar em nós mesmos, a fim de termos uma vida mais saudável conosco mesmos e com os outros, com quem lidamos. Tanto os mais próximos quanto qualquer outro. Nos responsabilizar realmente pelo nosso jeito, nossa personalidade que muitas vezes é tóxica e não queremos enxergar...
Eu o amo do fundo da minha alma. E acho que ele poderia brilhar tanto e ser tão feliz, mas também fico devastada quando coisas ruins o acontecem. E quando noto as pessoas a sua volta não o reconhecendo, ou agindo com maldade, falsidade, até conseguirem deixá-lo verdadeiramente chateado. Hoje é um desses dias que meu mundo caiu. Preciso ser forte, não é sobre mim, não serei egoísta. Mas hoje eu desabei, mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário