Tenho andado triste
Acabou o carnaval, de volta à rotina de trabalho em casa, projetos etc.
Fiquei muito tempo sem escrever, e agora que me veio a tristeza estou de volta.
PH está temporariamente trabalhando no Hotel, conforme eram os planos, uma vez que ele terminou de escrever o projeto de pós doc e agora o processo que começa é de submissão até, quem sabe, ser aprovado o financiamento que provavelmente vai nos fazer mudar de cidade etc. Ou seja, mais uma vez a rotina vai virar de cabeça para baixo, vou ficar longe de Ouro Preto. O que mais vai me doer, já sei, será a saudade do meu sobrinho Eric, da minha mãe e da minha avó, que já está em idade avançada, apesar de muito bem de saúde, graças a Deus.
Meu irmão do meio, Roger, nós temos um bom contato à nossa maneira. Temos as idades próximas, e fomos criados basicamente da mesma forma, na mesma dinâmica, com nossos pais, avós e tios na mesma página... então apesar da distância que às vezes existe, nos mantemos bem.
Já meu pai e meu irmão mais novo sinto que pelos eventos recentes nos afastamos emocionalmente. Apesar de não haver mais brigas há algum tempo, a energia mudou. Isso me entristece, sim, às vezes, mas tento repetir pra mim mesma que não temos controle sobre as atitudes e escolhas do outro. A vida não é perfeita mesmo. Não adianta fingir que coisas ruins não aconteceram. Não adianta também colocar um filtro sobre tudo, o corpo grita a realidade. Falsear a realidade só camufla o sofrimento, que está lá, sob camadas fracas de maquiagem. Então tudo bem seguir tentando se sentir em paz comigo mesma, tendo feito o que estava ao meu alcance em todas as situações que a vida foi me mostrando no ano passado. Apesar das decepções me mantive forte e, dentro do possível, sã.
Certas coisas nunca mais serão as mesmas.
Mas no momento, com a mudança de rotina que implica no PH não estar mais comigo no escritório durante os dias, me pegou um pouco mais. Pareço dura, mas ele me dá um apoio físico e emocional que jamais tive com ninguém. Sou muito grata às forças do universo por tê-lo na minha vida. Infelizmente verbalizo pouco isso a ele, mas ele sabe que também estou aqui por ele. Somos um time, e no fundo isso me dá medo também. No meio de tanta decepção vindas de onde eu não imaginava tanto, acabo me sentindo às vezes insegura mesmo com aquelas pessoas que mais confio. Um medo de a qualquer momento ter mais uma surpresa desagradável e um medo de não sobreviver de tristeza.
Então esta ausência dele aqui tem me deixado triste, mas sei que há também um pouco de egoísmo meu, por isso não deixo transparecer. Fico me lembrando dos últimos meses em Paris em que eu ficava muito sozinha em casa, já havia terminado os Projetos que levei. Fiquei muito triste, tive queda de cabelo, as dermatites vinham com força. Tinha perdido meu cachorro recentemente e não pude acompanhar sua fase final. O mesmo do meu avô, estive muito longe e sequer fui ao enterro. Não acompanhei a fase crítica da doença e a perda total da lucidez. Sinto que falhei ali e à distância estava muito mal. Perder entes queridos é algo tão difícil de administrar. Perdas são perdas. Sinto que perdi, em partes, meu pai para a Decepção das escolhas que ele mesmo tomou. E hoje quando olho pra ele, enxergo um abismo enorme entre nós. Assim como meu irmão, que tem mágoas de mim que eu não tenho como corrigir porque tem a ver com meus valores mais íntimos. E eu sou muito fiel a mim mesma, então prefiro aceitar o desejo dele de se afastar do que de deixar ultrapassar limites que pra mim são muito caros.
Não existe família perfeita. E por muito tempo eu sinto que alimentei que a minha era algo perto disso, mas se for olhar a realidade sempre esteve longe disso. Era um olhar delusional... a verdade é essa. Quase arrogante, inclusive. Mas eu confesso que acreditava piamente nisso... daí hoje em dia detestar a ideia de "fingir que está tudo bem" quando não está.