quinta-feira, 11 de julho de 2024

A trilha sonora de Dressmaker embalou esse texto. Semana difícil, novas perspectivas.

1.  ver a dor de alguém que me atravessou, acolher, me preocupar com esse efeito tão imediato... o inconsciente não mente, ele fica realmente escondido por um tempo, mas uma hora os fatos são escancarados. 

2. a vida é um sopro. a morte de uma pessoa que eu acompanhava todos os dias e que me transmitia uma energia boa. reflexões sobre estar em um momento e logo depois, não estar mais.

3. sempre encontro na arte um refúgio. música, filme, livros. é o que sempre me salva do fundo do poço.

4. aceitando que não sou mesmo prioridade, e deixando ir, junto com a admiração e o respeito. aceitando que o que sobra é a indiferença e uma grande ausência.

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Essa semana foi densa. Apesar dos acontecimentos tristes, me sinto um pouco melhor, mais conformada. 

Meu irmão estava em um relacionamento conturbado, tóxico, reproduzindo atitudes do meu pai. O que mais temíamos estava acontecendo debaixo do nosso nariz. De ambos os lados havia problemas, mas sabemos que para a mulher que está nesse lugar é sempre pior. Ela me procurou e eu a acolhi, porque já passei por isso e não deixaria ela sair sem esse acolhimento de uma outra mulher que viveu e vive um pesadelo relacionado a esse abuso psicológico e abandono. O relacionamento deles ia mal, com atitudes tóxicas de ambos os lados, e no fim ela foi traída e ficou aos pedaços. Queria uma explicação, queria ser ouvida, queria ser vista, ficou desesperada, triste, destruída. Eu compreendi tudo isso, passei por isso não uma vez, mas 2 (talvez 3) vezes na vida. Não aceito que ela fosse tirada de louca. 

Mas meu irmão tem 23 anos, estamos passando por esse turbilhão em casa. Ele precisa ouvir desaprovação das suas atitudes, ou então tem grandes chances de se tornar parecido com meu pai no futuro próximo... Enfim, eu espero que ela consiga juntar seus cacos, que se apegue a alguma coisa a dê forças, mas eu sei que é difícil e ninguém consegue fazer essa dor passar, a não ela mesma, com o tempo. E o quanto ficamos inconformadas, com raiva, com dor, despedaçadas...é um trauma (ou mais um) de abandono.

A essa altura consigo compreender que o feminismo não me faz privilegiar o olhar das mulheres nas situações. Mas, me faz enxergá-las com empatia. Coisa que sem o feminismo ninguém faz naturalmente. Uma mulher próxima à família nos fez muito mal recentemente. Isso não é uma falha da matriz do feminismo, é só questão de caráter claramente, inclusive dado o histórico dela. Mas as outras mulheres em volta afetadas e também a ex namorada do meu irmão merecem empatia, merecem um olhar cuidadoso, de acolhimento e respeito. Seguimos! A vida é isso... os baques, os balanços, os famosos pratinhos sendo (alguns) equilibrados no ar.

A morte de uma influenciadora que escolheu romantizar a própria vida em Ouro Preto foi um outro baque dessa semana. Ela sofria perseguição de gente rica e poderosa na cidade, havia uma campanha ferrenha de difamação agindo em cima dela, e ela sempre expunha em seu instagram, não era segredo pra nenhum de seus seguidores. E mesmo assim ela insistia em viver e ver beleza nas pequenas coisas do dia a dia dela morando nessa cidade inspiradora e misteriosa que é OP. Foi um acontecimento marcante, que assustou muita gente, me incluindo. Está acontecendo uma investigação, mas por envolver gente importante politicamente tenho minhas dúvidas se haverá justiça. Ficou um vazio, mesmo sem a conhecer pessoalmente, uma tristeza que não tem muita explicação... Mas a mensagem dela de romantizar a vida que vc tem é muito forte, sem deixar de lutar, sem deixar de ter coragem pra buscar o que é certo. Ainda custo a acreditar que aconteceu algo assim com alguém que amava tanto a vida, alguém de quem eu via sempre as pessoas falando bem. É realmente assustador.

Essa semana eu vi uma frase na internet que diz:
"Nada mais libertador que aceitar a realidade: EU SOU SUBSTITUÍVEL. Todo mundo vai sobreviver sem mim, menos eu. Então, quando eu penso em diminuir para encaixar, me lembro: 'Vai, bobona, se sacrifica mesmo, se deixa em quinto plano, na missa de sétimo dia já vão estar com dificuldade até de chorar'. Com um mês, um ano, dois, todo mundo já se refez e vc nem pra adubo vai servir mais."

Achei um chacoalho super potente, a dura realidade, mas também é uma grande e bela LIBERTAÇÃO esse pensamento. Ficou ecoando na minha cabeça, porque passei por dias muito difíceis, sinto que muita gente precisa de um chacoalho desses. 

Por isso, mais do que nunca decidi me apegar às coisas, hábitos e hobbies que me fazem bem, me trazem paz e me reconectam comigo mesma. É a arte... ler, escrever, ouvir música, ir ao teatro, ir a shows, assistir um filme. Essas coisas sempre me salvaram e me lembram de como eu amo viver e amo ser responsável, empática e atenta às pessoas a minha volta. Descartar ou ignorar aqueles que não me querem da mesma forma. Isso é aprender a viver com inteligencia emocional. Não acho que eu já tenha conquistado isso, mas me sinto mais próxima de algo assim em alguns âmbitos da vida. E isso não tem preço! Isso é saber realmente viver. Parar um pouco, se reencontrar, voltar seu olhar pra dentro de você. E aos poucos voltar a se abrir para o mundo, com mais cautela e atenção. Com mais auto cuidado e auto proteção.

Deixar ir alguém que foi muito importante na sua vida. Mesmo que não seja uma pessoa fácil de descartar, deixar ir a minha expectativa, ou, a imagem que eu fiz dessa pessoa. Sempre bom quando as coisas são realinhadas pela vida. A realidade insiste em aparecer, uma hora a gente precisa deixar ela entrar, iluminar e arejar a sala. Muita coisa melhora a partir daí, ainda que no começo seja tão difícil de enxergar, porque nos acostumamos a algumas sombras. Mas é uma oportunidade que a vida está dando, e devemos abrir espaço pra novas sensações. Quer sentido mais bonito de recomeço que o nascimento de uma criança? E nós fomos agraciados com o pequeno Eric, mais uma vez as forças do universo dão um jeito de reacomodar as coisas, fazer uma faxina e arejar a vida. 

 "All settle then - Dressmaker Soundtracker " é o que estou ouvindo enquanto escrevo essa parte.

Me sinto mais otimista. 

quinta-feira, 4 de julho de 2024

4 de julho. Sinto que preciso falar sobre meu processo que está sendo difícil.

Estou mais nervosa, mais triste, sigo não conseguindo aceitar o fato acontecido. Estou confusa, porque queria lidar de uma maneira mais leve pra minha saúde mental. Mas it is what it is.

Quando digo que não aceito o fato não quero dizer que finjo que não aconteceu, mas que é como se eu sofresse várias vezes ao longo do dia "redescobrindo" aquilo. E também a noite, nos meus sonhos. É horrível isso porque é uma eterna sensação de abandono e falta de cuidado e falta de respeito. Como se cada momento eu sentisse do zero. Aí quando tento pensar racionalmente que isso foi há 1 mês, o sofrimento dilui um pouco. Mas, logo que me desligo um pouco, nos momentos do dia-a-dia lavando louça, no trajeto até o mercado, tomando banho etc. acontece de novo, do zero, e de novo, e de novo...

Lembro que não estou falando com meu pai já há mais de1 mês, mas que ele continua na rotina da minha família. Qualquer coisa que me chateia, escalo para um estado de nervos muito rápido. Quando me dou conta, percebo que levantei o tom e ofendi mais do que a situação pedia (sobre coisas que não tem nada a ver com o fato traumático em si).

Quando sinto as pessoas tentando esquecer e não falar mais sobre isso, eu busco de novo o assunto numa tentativa de não banalizar o que passou. Mas, ao fazer isso, me dói de novo e de novo e de novo. E, ao que parece, só dói em mim desse jeito. 

Fico tentando buscar referências de situações semelhantes na minha vida, e como foram superadas. Lembro de algumas situações difíceis, mas nenhuma envolvendo família. 

Houve uma muito dura que passei com uns 17 anos, quando minha melhor amiga ficou com o menino que eu tinha um rolo, de quem eu realmente gostava na época. Surtei no meio da festa em que vi eles ficando, eu tinha bebido, fui embora chorando,  lembro que chovia e eu joguei meu celular no chão com força. O menino foi atrás de mim, enfim, conversar. Fiquei muito abalada, falei minhas chateações para a minha amiga e alguns dias depois, retomamos nossa amizade. Consegui perdoá-la e preferi seguir assim. Mas olhando de fora agora, acho que sempre fiz essas concessões por inseguranças minhas. Foi a forma que encontrei de não sair por baixo, abrindo espaço para os dois ficarem juntos, e eu "sobrar". Então engoli o meu orgulho e assim encarei na época. 

Hoje, com 32 anos, não faço mais essas concessões porque tenho um pouco mais de segurança e amor próprio. Inclusive, hoje, olho para as minhas amizades com menos ingenuidade, mais auto proteção. Ao primeiro sinal de descaso ou falsidade, sou a primeira a abandonar o barco. Talvez por isso passar por uma situação de traição e mentira agora esteja doendo tão mais. 1º porque foi o meu pai, quem eu sempre achei que teria ao meu lado. 2º porque é duro assistir a regressão da posição da minha mãe no casamento com o meu pai, os efeitos que um casamento falido, fracassado tem na auto estima dela, na sanidade mental e cognitiva, até os efeitos diretos que o estresse que ela sustenta diariamente a faziam passar, como por exemplo o zumbido no ouvido, o terror psicológico de não poder usar certas roupas, ou mesmo de ir à casa da mãe dela com a frequencia que ELA quiser. Tudo isso foi ficando difícil de separar da relação pai e filha, justamente porque afeta a minha mãe e ela não sai. 

De repente tudo isso começa a ruir, porque eu arranco a máscara do meu pai sem nem fazer muito esforço. E é tudo tão desrespeitoso e escandaloso que o que eu acho que pode libertar minha mãe do sofrimento, se torna raiva por ver que ela ainda não se soltou por completo... e eu mais uma vez acabo me sentindo o meme do John Travolta, como se eu fosse embora pra um lugar e de repente, olho em volta e além de não ter ninguém comigo, nem sei onde estou e o que está acontecendo. É assim que me sinto, o câncer continua roendo as nossas vidas, e eu me sinto mais sozinha do que nunca.

Por sorte, sempre que me sinto abandonada recorro à arte, seja música, filmes, séries, textos, livros. E com a internet facilitando esse acesso, isso se torna meu único cais. Não faço terapia, o que dificulta ainda mais, tenho esse espaço pra me abrir, meu celular gravando mensagens pra mim mesma. Enfim, me sinto uma máquina que produz muito conteúdo de tristeza e decepção, mantendo tudo sempre bem escondido.

Eu sempre admirei famílias amorosas, acolhedoras, leais, verdadeiras e, por algum tempo pensei que a minha fosse um exemplo das que acompanho na internet, por exemplo. Não se trata de famílias perfeitas, serenas e ricas, por exemplo, mas de famílias que se apoiem sem mentiras, que se acolhem e fiquem felizes com os seus felizes também. Gentis, educadas, com senso de justiça, traços de carinho com os animais, e comportamentos. Humildade pra rever conceitos, enfim. Eu criei essa expectativa, mas a minha realidade é outras. Tudo é confuso, sombrio. E eu estou completamente sozinha dessa tempestade.

Já sinto que isso tudo me mudou um pouco, mais desconfiada do que nunca, mais reativa do que nunca. Esperando sempre o pior das pessoas. Frustração e fadiga.