segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Um relato.

-Vem jantar comigo amanha aqui em casa as 8 ok?

-Ok. (mentalmente).


Qual filme escolher? Woody Allen sempre cai bem. Mas nesse caso não sei. Seria o momento de arriscar um Almodóvar? Acho que não, talvez... Cinema francês.. huum.. me lembra Jules et Jim.. E esse? Me gusta. Acho que seria muito dramático... um romântico, talvez? Ah, não. Piegas. Woody Allen, é você. Talvez este... Diz ser leve. Ah, vai você. Sonhos eróticos de uma noite de verão. 




Antes, o jantar.


Pontual, achei que não haveria mais jantar. Mas, ele é metódico, desde o horário. Confesso que fico surpresa com pessoas que cumprem o que dizem... Estranho, mas verdadeiro. Vamos à cozinha. Ele abre um vinho. Confesso que fiquei com medo de não conseguir tomar vinho, por causa do meu ''histórico'' com a bebida, que não é nada leve, bonito, romântico. Ok, eu estava ali e queria viver por completo aquele momento. Taças. Achei poética a cena das taças, a salada à mesa, a garrafa, ele cozinhando e eu assistindo. Ele começa a picar os tomates. Colocar pães no forno... me mostra alguns ingredientes trazidos por ele de outros países. Mais alguns goles do vinho. Conversamos muito. Conto histórias de Portugal em 2010. Engraçado que não contei detalhes dessa viagem a muitas pessoas. Só o fato constrangedor com o garçom em Lamego costumo contar a todos os cantos. Pergunto sobre ele. Diz pouco. Ironiza bastante. Minha curiosidade só aumenta. Com seus 25 anos, não sei pra que lado remar quando o assunto é sua própria história, motivos. Eu falo muito. O vinho começou a subir, tudo parece tão divertido. A torneira pinga, precisa de conserto. A água cai sem parar. Agora ele pergunta se eu gostaria que lavasse as alfaces. Acho graça. Ele diz que nunca faz isso. Eu peço que lave. Ele faz. Agora o queijo parmesão argentino, ele rala sobre a salada, com cenouras, tomates. Azeite balsâmico e azeite comum, acidez 0,5% (ele não sabe, mas é meu preferido). Ele conta que esteve em outros países, conta algumas coisas, mas a maioria não. Eu sei. Ironiza mais ainda e monta minha bruschetta. Ele sabe que  gosto muito de tomate e capricha. Experimento, e está ótimo. Ele me assiste, sem comer. Agora finaliza a salada, deixa de lado, e parte para o prato principal. O frango, descongela e ele os pica em iscas. Tem destreza com as mãos. É poético vê-lo cozinhar. É bonito mesmo... conto que nunca vi Curry, muito menos comi. Ele me faz cheirar aquele pó amarelo.  Esse veio da Turquia, mas o original é indiano, conta. Vinho, meu copo sempre esvazia antes do seu. Então, ele me pergunta como fui parar no Movimento Estudantil durante a greve. Explico... omito algumas partes que não são necessárias. A vida nunca é contada por completo. Omissões naturais e não-naturais são necessárias. Citamos alguns nomes e comentamos. Ele continua misterioso sempre que pergunto o que já fez em se tratando de ME. A única coisa que me diz é q participou de dois mandatos de DCE. Não fico surpresa, tirando o fato de estar tendo contato com essas pessoas nos últimos tempos. De início sei que provoquei essa aproximação, mesmo que indiretamente. A conversa continua, o vinho também. Ele pica a cebola e chora. Há como ser mais poético? Azeite. Muito azeite. O cheiro é convidativo. Nosso jantar vai ficando pronto. Ele estende a toalha na mesa, eu trago o vinho. Ele procura o creme de leite eu respondo que está em cima do banquinho. O prato chega. Ele serve a salada. Mais tomates, por favor. E queiijo! Comemos. A melhor salada que já comi.. temperada, mas sem qualquer excesso. Pra mim, essa já é a refeição completa. E agora o frango ao moho curry. Amarelo, bonito de ver e cheiroso. Que delícia! Tento encontrar palavras, estou realmente muito agradecida pelo momento. Que moço gentil, penso. Será que mereço isso? Penso... Por que está acontecendo? Paro de pensar... conversamos mais. Terminamos de comer e vamos ao filme. Juntos. O filme não tem grandes emoções... não, não tem. Acabou. E aí... o arremate.



Vou embora. Na verdade não sei o que está ou não acontecendo. Acho que ele continua a ser um X pra mim. O garoto gentil, sorridente, irônico, solitário, misterioso. Gosto quando me compara à beleza grega. Quando analisa as formas do meu corpo e brinca com meus seios. Quando desligamos a luz pra ver melhor através de sua janela a bela Ouro Preto. Quando ele é sincero e às vezes áspero... quando me chamou de egoísta, egocêntrica, psycho killer. Quando me chama de cariño. Gosto. Mas, não sei se isso é suficiente. Não sei.

                       

Não sei se estou disposta a encarar tudo novamente. Até que ponto estou disposta a doar meu coração a isso. E ele... sinto vontade de cuidar. Mas, é só minha impressão. Essa coisa de impressão costuma ser furada. Enfim, só sei que não quero pensar muito nisso,aproveitando que não sei em que pensar. Confesso que talvez ainda esteja me procurando em algum desses cantos e, no presente momento, procuro ali perto de onde ele se encontra. E, nesse caminho, acabei encontrando-o antes de mim mesma, ou quem sabe, junto de mim mesma. Vai saber.


Enquanto isso vou continuar minha leitura sobre a psicanálise da ironia. Inspiração?? ''Mistérioooo''





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