o nome desse diário é "pra caber em mim", e sinto que venho aqui justamente quando começo a transbordar e a pensar que não vou caber.
meu pai continua trazendo uma grande carga mental para mim. sei que eu preciso aprender com isso e crescer. preciso controlar toda a minha ansiedade que grita em momentos assim.
a verdade é que eu me sinto no meio de um cruzamento de informações, que se contradizem e então eu não sei o que fazer. fico paralisada, e por dentro, segurando para não surtar.
vou tentar colocar em palavras um pouco do que tem sido.
meus pais tem alugueis, que são eles quem controlam. minha mãe sempre fez os contratos, eles sempre levaram as coisas assim. há um tempo, talvez uns 5 anos aproximadamente, eu comecei a ver que podia ajudar nisso. pensei isso para que a carga em cima deles diminuída mesmo. me vi nesta obrigação. nunca fiquei com 1 centavo de alugueis, nunca pedi, nunca foi essa a questão. eu fui me tornando uma pessoa muito empática, e perceber essa sobrecarga neles quando eu já tinha idade para colaborar me fez começar a aprender e a me inteirar do que acontece. comecei a fazer os contratos para eles, tirava as fotos os espaços, divulgava, mostrada para os inquilinos etc. eu conseguia alugar as coisas rápidas pq acabei aprendendo a divulgar nos meios que funcionam na minha cidade.
de um tempo pra cá, meu pai começou a se incomodar por eu sempre fazer o esforço de enxergar as coisas de forma mais justa pra eles! o meu pai sempre cedeu muito para os inquilinos todos e eu via muitas vezes as pessoas se aproveitando do medo que o meu pai tem de imóvel ficar vazio e etc.
ele passou a se incomodar com minhas interferências, com minhas sugestões, com minhas tentativas de encontrar um meio termo em situações totalmente atípicas, como é o caso recente da Pandemia que estamos vivenciando.
Por muitas vezes eu tentei me afastar por completo dos assuntos relacionados aos alugueis por perceber que aquilo não me fazia bem, pq incomodava meu pai, eu tentava cumprir os combinados, os contratos, e muitas vezes eu ficava sozinha em um argumento e meu pai logo cedia para o inquilino se aproveitar. foram inúmeros abusos nesse sentido. e eu sempre tentando "equilibrar os pratinhos" e aceitar tudo sem que isso me afetasse mentalmente. mas a tarefa se torna difícil quando na primeira oportunidade meu pai me dá responsabilidades nisso tudo, as mesmas de sempre, contrato, recibo, fotografa, divulga, marca de mostrar a a casa, responde contato de interessados, enfim. tudo, né?! ao mesmo tempo que eu tento não me envolver para não chateá-lo com minhas opiniões e valores e tb para preservar minha saúde mental nisso tudo; eu recebo responsabilidades dadas por ele e pela minha mãe (que tem o pensamento muito mais próximo do meu e eu não tenho nenhum problema ou desgaste nesse sentido). Ao receber essas responsabilidades, me sinto na obrigação de ser útil e colaborar. Talvez eu precise disso no meu atual momento de vida, porque não estou trabalhando, estou fazendo processo seletivo para mestrado (com tudo parado devido à pandemia), logo, estou bastante tempo livre, e eu poderia e na minha concepção deveria aliviar a carga deles. além de me ocupar, já que isso não me causaria nenhuma sobrecarga e afins.
EU SEI que o melhor a fazer é sair de casa, me distanciar completamente, financeiramente, emocionalmente um pouco pra conseguir ter paz. mas no momento isso não é possível para mim, e então tem sido difícil ver onde me firmar. o que é coerente de ser feito.
no meio termo, já que não tenho para onde ir nesse momento, vejo que a melhor saída é dar um passo atrás e sempre tentar não me envolver. fazer o que me é pedido e calar a boca, como um robô, que serve, trabalha, sem dar opinião, sem ser considerado em nada, afinal, eu tenho teto, eles me dão, e esse é o meu pagamento. eu tenho que me dar por satisfeita com isso. inclusive é uma boa casa, ou seja, "pobre menina classe média sustentada pelos pais".
também sei que diminuir minhas dores não vai resolver, porque eu só tenho essa vivência. não posso dizer que vivo outra realidade, não posso me posicionar em outras realidades com lugar de fala senão a minha, e tento ser muito realista com tudo. com meus privilégios e minhas dores. tendo não me colocar em um lugar de injustiçada, vítima, pq eu não sou. mas eu tb PRECISO considerar minha saúde mental, minha sanidade, pq não quero cultivar uma doença, ou desenvolver uma ansiedade por ter fingido o tempo inteiro que tudo está bem. Já basta eu fazer isso com minha família (ser um robô que não sente absolutamente nada), comigo mesma eu preciso ser honesta e respeitar minhas angústias. É nisto que este espaço secreto me é absolutamente necessário. sem este espaço, eu iria me afundar em pensamentos soltos e nunca colocaria em ordem, em texto, nunca teria como comunicar como está tudo por dentro.
Só de escrever até aqui meus sentimentos já se transformam, eu me acalmo. e vejo que preciso aceitar as pessoas como elas são. Talvez meu pai me veja como uma funcionária, e talvez eu deva mesmo aceitar esse posto, até ser capaz de sair de casa. Fico chateada de não ter minha opinião sequer ouvida, ser calada o tempo todo com bastante má vontade, caras muito ruins. Levo tudo isso muito a sério, não sei se deveria. Mas, eu tento ser correta, me esforço pra encarar melhor as situações. Mas, às vezes, pelo meu pai sinto que tudo que faço é nada. e eu sei, é um ciclo, eu vou ao meu limite assumindo responsabilidades, meu pai enxerga como nada mais que minha obrigação (ok), mas quando eu me posiciono de alguma forma diferente dele, tudo é desconsiderado e eu me transformo aos olhos dele na filha mimada que se mete demais... "espera eu morrer pra você mandar" já ouvi muito isso. Um conflito forte, que só vai parar de existir quando eu aprender a achar o meu eixo em todas essas contradições, ou simplesmente me abster, mudar de casa, de cidade, de país, e aí travar minhas próprias e outras batalhas, totalmente desvinculada do meu pai.
a minha mãe é onde eu tenho alguém que eu confio com todos os átomos do meu ser, todos os pensamentos, tudo. com ela consigo conversar em pé de igualdade, democraticamente. ainda assim, mantendo o respeito e tendo em vista que ela é a pessoa que vou proteger o resto da minha vida. nós podemos discordar em paz. sabemos fazer isso, sem sermos tóxicas uma para a outra. graças a Deus eu tenho a minha mãe. e no que depender de mim, ela sempre vai me ter como um grande porto seguro também.
que eu fique em paz.